BATALHA DO MEDO

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BATALHA DO TERROR

        As espadas cantavam sonoramente sua canção de sangue e aço, e dançavam seu ritmo de dor e morte, os invasores tenebrianos eram, em geral, desorganizados, desordeiros e barulhentos, mas para desespero do general Handrel e seus homens, não pareciam abatidos e famintos com o o esperado, estavam enlouquecidos; bem dispostos; fortes como touros e vorazes como tigres.

        Handrel constatou que eram mais numerosos do que ele imaginava, deviam ser mais de quarenta. E o pior, os temíveis guerreiros com máscaras de caveira eram uns trinta. Eles saltavam de pontos altíssimos, dos velames e das coberturas das cabines, caindo de mais de quatro ou cinco metros sobre os guerreiros lenörianos.

        — Handrel via seus guerreiros, organizados e disciplinados, serem abatidos por criaturas alucinadas e amantes da morte. Eles saltavam uns sobre os outros, atiravam flechas das amuradas sem se importar com o fato de acertarem os companheiros e saltavam como feras irracionais para cima das espadas e lanças inimigas. Alguns eram feridos e assombrosamente continuavam lutando.

        Handrel até pouco tempo tinha convicção na vitória, mas ao contabilizar dois ou três de seus homens morrendo para cada inimigo derrubado, passava a prever o triste resultado final da batalha.

        — Sindrael — pensou em voz alta. — Não aceito falhar com você. Deus dos mares, da guerra e da justiça, dêem-me força! — sibilou olhando para o alto.

        Numa impensada tentativa de salvar sua amada, ele saltou para a amurada; subiu sobre ela; abateu um marinheiro adversário com brutalidade e fúria, descendo sua lâmina sobre seu crânio e o partindo ao meio, depois pisou no pescoço e arrancou violentamente a espada e finalmente saltou para o convés do Falcão Dourado, o navio capturado.

        Não havia mais nenhum inimigo ali, aparentemente todos estavam lutando no outro navio. Ele começou a procurar por sua amada, e finalmente entrou na cabine, onde encontrou a princesa desacordada.

        — Acorde Synd! Meu amor, acorde! — desesperou-se Handrel.

        Ele constatou que a princesa estava fraca e pálida. Retirou seu cantil do cinturão e despejou o vinho doce em seus lábios lívidos. Ela lambeu-os e moveu a mão pondo-a sobre a de Handrel, ávida por beber mais. Lágrimas rolarem em seu rosto, ao ver sua amada e linda noiva em tão deplorável estado. Desgrenhada, andrajosa, faminta e cheirando à fezes e urina.

        — Perdoe-me, meu amor! Devia te-la protegido. Sinto muito por tudo que passou. Mas vou salva-la. — disse ele enquanto sacava a adaga e a livrava de suas amarras.

        — Te amo, Hand! — disse ela debilmente.

        Handrel beijou-a pela primeira vez. Tocou seus lábios suavemente, num beijo cheio de sentimentos: piedade, carinho, cuidado e amor. Seus lábios sempre foram suaves e aveludados, mas agora estavam mortiços, ressecados e pálidos, palidez esta atenuada apenas pela tintura do vinho que escorria.

        O casal de noivos já haviam conversado muitas vezes em festas e celebrações, e haviam se apaixonado desde o dia que foram apresentados e prometidos em casamento, mas jamais haviam estado a sós e à vontade o suficiente para se beijarem, este parecia o pior e o melhor momento para isso. Mas não durou muito.

        Handrel ouviu passos de botas apressados no convés exterior, passou a adaga para a mão esquerda, sacou sua espada e saiu para surpreender o inimigo.

        — Eu volto, minha amada — disse indo para a luta e deixando com ela seu único alimento, o vinho.

        — General... — disse o capitão Jasper caminhando em sua direção com mãos para trás e um sorriso imundo na face.

        — Sou general Handrel, e você quem é?

        — Não me reconhece? Sou capitão Jasper. Comerciante e navegador. Se estiver em busca de uma vida melhor, viaje comigo.

        — Pirata, assassino, estuprador e ladrão — disse Handrel. — Os sobreviventes chegaram a Lenöria e alertaram de seus crimes.

        — Que honra. Finalmente recebi algum reconhecimento e fama.

        — Então preparem-se para pagar por seus crimes — ameaçou partindo para o ataque furiosamente.

        O capitão de meia idade era rápido como um felino. Moveu-se e mostrou sua espada bem a tempo de usa-la para desviar o ataque usando seu sabre longo como a espada longa de Handrel.

        Ambos passaram a se estudar, movendo-se em círculos longos. Handrel havia treinado esgrima e combate desde muito jovem. Com um pai general, não havia outro caminho a seguir. E sempre se dedicou arduamente. Conquistou seu posto não por gratidão do rei ao pai, mas por mérito próprio. Era centrado, inteligente, justo e excelente guerreiro. Jorns não tardou em perceber suas habilidades. Mas também era terrível numa batalha. Fora treinado por vários Sois pelos guerreiros da rainha. E também aprendeu muitos truques nos longos anos de pirataria e matança.

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        A batalha entre os homens de Tenébria e os de Lenöria, no navio Petramarina, seguia sangrenta e cruel. Os tenebrianos agora cercavam os inimigos restantes, que eram menos de quinze e a maioria ferida e exausta. Estavam sendo empurrados contra as amuradas por mais de vinte oponentes, na maioria os mascarados temíveis armados com lanças e espadas.

        — Rendam-se ou morram — avisou um dos três marujos restantes.

        Alguns dos homens, vendo-se frente à morte, entregaram-se, abandonando suas espadas e se oferecendo para serem presos. Os restantes, sendo apenas seis, não viram outra opção, a não ser entregar-se também. Não viam seu comandante em parte alguma e, embora já pudessem prever sua morte, de fome e sede, preferiam colocar suas vidas nas mãos dos deuses que se entregar para a morte de imediato. Sob gargalhadas sinistras, foram amarrados e presos com ferrolhos, lamentando seu destino e, só agora, sentindo os ferimentos da batalha.

        Handrel e Jasper lutavam de forma ferrenha, embora Jasper não parasse de rir, injuriar e afrontar o rival, estava tendo dificuldades para vence-lo. Jasper ameaçava fazer atrocidades com a princesa, e isto só dava mais força e desespero ao general, que lutava com todas as suas forças, juramentos, esperanças e fé nos deuses.

        A princesa surgiu cambaleante por trás do inimigo, manuseando uma haste de ferro. Handrel percebeu e procurou distrai-lo para ter uma chance, pois estava sentindo que perderia o combate.

        Mesmo fraca, Sindrael manuseou a arma improvisada, usando o objeto como bastão, acertou o capitão na orelha direita com força. Fazendo-o ficar tonto e cambalear para o lado. A orelha foi rasgada e o rosto e a cabeça cortados, sangravam.

        Ainda desequilibrado o capitão provocou:

        — Minha rainha arrancará a língua de vocês dois. Eu comerei a lingua e outras partes suas princesa — disse finalizando com uma pavorosa gargalhada.

        Handrel, furioso, atacou com sua espada descrevendo um movimento desesperado de cima para baixo em direção a cabeça de Jasper. Mas o capitão surpreendeu-o, recuperando-se assustadoramente, esquivando-se para o lado e subindo seu sabre, não de encontro à lâmina do general, mas em seu punho, que foi imediatamente decepado.

        — Não! — a princesa gritou desesperada e em prantos.

        Handrel caiu em choque ao chão. Segurando o punho que sangrava observando-o com os olhos arregalados. A princesa largou o ferro e partiu para confortar e socorrer o amado.

        Capitão Jasper apenas assistiu a cena com uma careta e tocando os ferimentos para constatar o quanto sangrava.

        Em seguida surgiram os demais tenebrianos, obrigando os prisioneiros a saltar para o Falcão Dourado.

        — Prendam-nos! — ordenou Jasper apontando para Handrel e Sindrael.

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