DESAFIO MORTAL

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DESAFIO MORTAL


       Hayden via um pouco de si mesmo no pobre garoto à sua frente. Um soldado cumprindo ordens sem direito a questionamentos ou respostas. Estava numa missão que mal compreendia e que não sabia quando acabava. E não havia ninguém que pudesse perguntar, sobretudo agora, que estava só, por conta de suas próprias habilidades e decisões.

       Sabia que não tinha escolhas, se não acabasse com o garoto seria preso e sua missão arruinada. Mas não podia simplesmente arrancar a vida daquele garoto, mesmo que tivesse este direito, afinal o vencera com justiça em combate.

        No entanto, Hayden entregou sua espada ao seu adversário, o garoto ficou surpreso com a atitude, mas não pensou em recíproca, antes aproveitou a oportunidade para atacar e vencer, fazer o que foi ensinado e ordenado a fazer.

        Kitrina levantou-se surpresa e carrancuda em sua cabine. Não é possível que ele se entregará à morte. Pensou.

       Hayden abriu os braços, aguardando a morte de peito aberto. Ele era minimamente mais lento que o garoto, mas tinha muito mais técnica e treinamento. De forma que previu o ataque do garoto, e mesmo desarmado conseguiu surpreender e escapar do golpe de espada, e num misto de dever e misericórdia quebrou rápida e violentamente o pescoço do garoto, virando sua cabeça para as costas e matando-o instantaneamente. Dirigindo um olhar direto e desafiador a Kitrina, que estava de pé e surpresa com a coragem e ousadia do jovem misterioso e admirável.

         — Agora — bradou Hayden visivelmente furioso — tem alguém corajoso e poderoso neste reino que possa me desafiar?

        Hayden sabia que o domínio e a tirania de Kitrina advinha de seu poder é do temor que todos tinham da rainha serpente. Pensava que desafiar e vencer a rainha seria a maior contribuição que poderia dar à missão, sem a líder suprema o império cairia e seus amigos teriam condições favoráveis de cumprir a missão, isto se ele próprio não fosse tido como o líder por vencer a "deusa". Neste caso simplesmente decretaria aliança com os demais reinos e faria cumprir a missão. Em.sua mente era tudo simples e possível. Então, tomado por uma avassaladora empolgação, desafiou sua verdadeira e única possível oponente.

        — Imperatriz Kitrina — disse com desdém. — Mostre-me seus poderes de deusa. Me transforme num rato, em cinzas ou enfie sua espada no meu coração.

        Todo o local ficou em pleno silêncio. Os espectadores evitavam olhar na direção de Kitrina, e até respirar e engolir a saliva que inundava suas bocas. Hayden batia a espada de lado contra a mão esquerda. E este era o único som que ecoava na arena e nas arquibancadas.

        — Me disseram que este era um império de guerreiros — provocou Hayden ainda mais. — Mas agora que desafio a poderosa rainha e recebo silêncio em troca, me sinto traído por fofoqueiros.

        Para Kitrina foi o suficiente. Ela saltou da sacada que estava para a arquibancada geral. Um salto de cinco metros de altura.

        A plateia abriu espaço para que ela caísse e todos reagiram com um longo suspiro de surpresa e espanto.

        Ela descia os degraus dá arquibancada enquanto se despia de suas vestes reais. Para espanto de todos caminhava naturalmente quando devia ter pernas quebradas. Hayden viu que teria uma luta letal pela frente.

        — Eu lhe dei o direito de se assentar a meu lado. E prometi grandes feitos se me jurasse lealdade. Você jurou. Mas traiu. Agora não verá o que Tenébria fará ao mundo. Nem a ascensão dá deusa desta era. Verá apenas trevas e sentirá dor! — rosnou a rainha saltando metros do quarto nível da arquibancada para a arena.

        Agora vestia apenas a capa, um espartilho vermelho, calças curtas, a coroa, uma bota lustrosa e seu colar de ouro incrustado com a relíquia da serpente.

        Ela tomou uma alabarda da mão de um guarda. E se dirigiu à luta atroz contra Hayden.

        Hayden aproveitou o tempo que teve para tomar o escudo devolta, e empunhar a melhor espada disponível. Kitrina se aproximou firme e habilmente, descrevendo três golpes poderosos com a longa e pesada alabarda. Mantinha-se distante da espada de Hayden enquanto o desferia rápidos e incansáveis golpes. Girava o corpo, movia as pernas e pés com desenvoltura, atacava com estocadas e golpes horizontais. Causando graves danos ao escudo de Hayden. Ela fez um ataque girando o corpo para a direita e desferiu um golpe surpresa, de costas, que Hayden só pôde defender com o escudo, que se espatifou e lhe ocasionou um profundo corte no dorso do braço esquerdo.

        Kitrina lhe direcionou um sorriso irônico e cruel. Hayden soube quão forte e capaz era aquela terrível criatura.

        Ele largou a faixa de couro lançando ao chão os restos despedaçados do escudo e atacando Kitrina pela primeira vez. Ela desviou os golpes com o cabo da alabarda e se distanciou para usar a longa porção metálica da arma como defesa e em seguida como ataque.

        A platéia se mantinha em silêncio. Alguns torciam em segredo por Hayden. Sentiam-se oprimidos pelas exigências da soberana. Muitos haviam sido ameaçados para vir à capital pessoalmente oferecer seus homens para o ataque que Kitrina lançaria a Lenöria. Outros simplesmente não concordavam com as leis, impostos e tirania de Kitrina. A maioria, porém, temia os castigos que receberiam se Tenébria fosse destruída, e os privilégios que perderiam, os quais foram concedidos por Kitrina.

        Kitrina atacou com uma estocada seguida de um movimento de foice, Hayden bloqueou e esquivou, mas sofreu um corte no ombro esquerdo. Friamente segurou o cabo da alabarda e puxou Kitrina para sua espada. Ela porém, saltou sobre ele abandonando a alabarda e desferindo um chute em suas pernas por trás.

        Hayden apoiou um joelho no chão e apontou a espada para trás, onde Kitrina deveria estar, mas ela dera um giro para trás e agora expelia de seu corpo uma luminosidade mágica e assustadora. 

        A platéia que estava em pé desde o início da batalha começava a temer o sobrenatural que ali acontecia e dividiam o desejo de correr com a curiosidade de saber como acabaria aquele combate épico e inaudito, do qual dependia o destino de um reino.

        Hayden já havia visto aquilo acontecer, e não estava disposto a esperar que se concretizasse, saltou e desferiu um golpe em estocada contra o corpo luminoso. Sentiu um forte impacto em todo corpo e foi jogado para trás com a mesma força que atacou.

        Quando se colocou novamente de pé, viu a sua frente uma serpente erguida mais de três metros do chão. Na plateia muitos corriam em desespero e muitos caíam e rolavam escada abaixo. Despertados de pavor.

       Hayden rangiu os dentes de ódio e franziu o cenho a procura da espada arremessada longe. Quando a encontrou com os olhos, um golpe inesperado ressoou em seu rosto jogando-o longe. A serpente o golpeou com a poderosa cauda. Ele rolou para longe e a observou rastejando em sua direção. Sentia vontade de fugir, mas não seria covarde. Correu em círculo, apalpou a alabarda e se posicionou, quando ela estava perto o suficiente ele desferiu um golpe tão forte em seu ventre que o cabo se desfez em pedaços. A lâmina penetrou, mas apenas superficialmente. Hayden olhou para cima desolado, fitando a língua bifurcada que se movia captando sua presença e a enorme bocarra cheia de presas agudas que o ameaçava. Não havia escapatória.

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