23 VOLUNTÁRIOS

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23 VOLUNTÁRIOS​


         O conde Aslem de Sigburn informou aos homens e mulheres, que enchiam o aposento, ​qual era o motivo de terem sido convocados à sua presença: precisava de pessoas de coragem e de confiança que conhecessem os caminhos para 23 castelos, que mencionou um a um, finalizando com o castelo Serpen'Castell, morada de Kitrina.

        Eles se mostraram em geral corajosos e determinados a cooperar mais ativamente na guerra. Sobretudo quando o conde declarou que o rei por direito logo retomaria o trono (o que surpreendeu os mais astutos da comitiva, que haviam percebido desde o início o pessimismo do conde e seu comandante) e que o rei por direito saberia ser generoso com heróis que lutassem por ele.

        As pessoas comuns tinham pouca ou nenhuma informação militar, de modo que não sabiam que as chances disso ocorrer eram pequenas, já as desvantagens que espreitavam os rebelados contra o Império eram grandes, e qualquer passo em falso levaria os rebeldes ao mais terrível destino.

        Também estavam enebriados pelo vislumbre da recompensa, guiados pela raiva, seduzidos pela vingança, e desejosos de um pouco de liberdade, pois havia quase uma lua que estavam refugiados na fortaleza e nela trancafiados, e tinham direito apenas a uma parca ração, trabalho duro, pouco tempo de descanso, alojamentos lotados e vigilância constante de guardas austeros.

        Alguns dias de liberdade e ar puro, frutos silvestres frescos e pernoites em paragens e estalagens pareciam ótimas possibilidades. Também parecia ótimo caçar patos, lebres, javalis ou cervos, assá-los e se regalar com carne, cerveja em torno duma fogieira e histórias de guerreiros dalém do oceano, habitantes do reino gelado. Mal sabiam eles que praticamente não haviam pousadas ou paragens abertas dali até a capital, e que fogueira aconchegante e viagem tranquila seriam desejos inconcessos.

         De toda forma, houveram mais candidatos do que seriam necessários. Assim, foram escolhidos cuidadosamente 23 homens e mulheres pelo conde Aslem de Sigburn e seu conselho, um para cada destino. Não teria sido necessário um guia para cada castelo ou fortaleza, porque sete castelos ficavam pelo caminho de outros, e após deixar os guerreiros nestes sete primeiros, os guias poderiam partir para os seguintes que exigiriam estradas distintas e individuais. Porém, alguns voluntários juraram fidelidade a seus senhores, então foram nomeados escudeiros dos guerreiros que guiariam, e permaneceriam com eles até o fim da guerra, depois, poderiam escolher seu próprio destino.

        Alguns eram órfãos, sem parente algum vivo; outros, jovens corajosos que de algum modo já haviam sofrido devido a tirania de Kitrina​. Todos tinham em comum o fato de conhecerem formas de chegar a uma ou mais das 23 fortalezas. Conheciam bem a  rota comum pela estrada, e uma ou outra trilha por montanhas, vales, florestas e pântanos.

        Quanto a Hayley e Stok, tinham uma missão furtiva num castelo inimigo, e não espectativas de estadia segura em fortalezas de aliados como os demais, portanto Stok recusou os votos de lealdade da corajosa jovem que se ofereceu para ser sua escudeira. A moça se chamava Serafina, como disse sus amiga, ela insistiu muito para acompanhá-los, prostrando-se perante ele três vezes sobre um dos joelhos, sem dizer, contudo, palavra alguma. Apenas oferecendo sua espada de ferro polido e esperando que o jovem a acolhesse nas mãos, aceitando seus serviços de escudeira. Desejava contribuir com a mais importante e perigosa missão. Stok, porém, afastou solenemente a espada da moça terceira vez, ajudou-a a se erguer com expressão de incômodo e disse:

        — Me desculpe, mas não posso aceitar. Não empunharei escudo ou envergarei armadura. Não preciso nem posso me dar ao luxo de ter uma escudeira. Nem mesmo uma corajosa e determinada como você. E, por favor — disse pausadamente e com autoridade — não torne a se ajoelhar. 

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