DORES INFERNAIS

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DORES INFERNAIS


         Kay'Lee subia o morro íngreme com o máximo de rapidez e silêncio que sua forma física e destreza permitiam. Estava no meio da trilha escorregadia, quando teve a estranha sensação de estar sendo observado. Olhou desconfiado ao redor e reuniu coragem para sacar seu martelo de combate e indagar:

        — Quem está aí?

        Saíram das árvores à volta quatro homens silenciosos, todos armados com bestas e trajando variadas cores. Não haviam brasões ou insígnias em suas vestes que os caracterizasse como sendo deste ou daquele reino, mas Kay sentiu que eram aliados de Sor Ayvak.

        — O que quer aqui? — perguntaram para ele.

        — Fui enviado. São guardas do moinho?

        — Sim. E você está morto! — disse o maior, de voz áspera e com uma estranha barba e bigode longos e trançados.

        — Não! — murmurou — Hm... — o homem ergueu a espada e Kay se preparou para se defender, então lembrou-se da senha e a proferiu apressadamente: — Este é o moinho negro, onde é está o cinza?

        O homem baixou a espada e olhou para um dos companheiros, que disse:

        — Siga-me, garoto!

        Os demais homens, com aparência de foras da lei, sumiram entre as árvores. O que ficou para acompanhar Kay foi uma figura morena e suja, trajando um volume de roupas além do necessário para o frio que fazia. Tratava uma mistura de verde, cinza, marrom, amarelo e púrpura. O garoto se esforçou para acompanhar o ritimo do homem até o moinho no cume do morro. Ali chegando o homem assoviou e alguém surgiu numa estreita janela.

        — Você tem visita! — gritou o guarda —, ele falou a senha — complementou. — Vou para meu posto — avisou, e foi descendo de volta pela trilha.

        — É enviado do Falcão, do leão ou da águia?

        — Olá! — cumprimentou Kay, sem entender. — Sou amigo de Hayden e dos dois que partiram com a princesa, me chamo Kay'Lee.

        O homem sumiu imediatamente da janela e logo estava abrindo a porta e chamando-o para entrar.

        — Muito bem vindo, sou Felden. Um qualquer que ajudou seus amigos e está cuidando de Hayden. Mas temo que ele esteja piorando. Não sabemos quanto tempo ainda tem. Sinto muito. Não há nada a fazer. Ele desistiu da vida.

        Kay'Lee sentia sua grande barriga morder-se de fome, mas não havia tempo a perder com sonhos de alimento quente ou saboroso. Seu amigo estava em perigo. E ele teria de ajudar. De alguma forma, tinha de ajudar.

        — Leve-me até ele.

✴  ✴  ✴

        Kay não saberia dizer de onde tiraram cavalos, mas haviam entregue a ele um belo baio e uma égua cinza a Felden, e com tais montarias galoparam, pela ladeira oposta à trilha que Kay'Lee subira, e foram por entre um bosque esparso até uma parte bem mais densa. Apearam em meio a uma densa vegetação. Amarraram os animais e Felden de embrenhou na mata. Kay o seguiu por um caminho estranho, mas então o homem retirou um emaranhado de galhos e folhas e uma passagem estreita se abriu para uma clareia um pouco maior. Ele achou algo que procurava no chão e deu três batidas que soaram como madeira, em seguida puxou o que era um alçapão, desceu e disse para Kay ir com ele.

        — Já retornou? — perguntou uma voz que Kay notou ser de mulher.

        — Voltei porque trouxe outro garoto. Amigo de Hayden e dos outros — respondeu Felden à mulher.

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