A FÚRIA DA DEUSA

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A FÚRIA DA DEUSA


         Na Capital Imperial Kitrina permanecia a dias em fúria. Se esforçava e se desgastava diariamente na tentativa de executar uma magia que a permitisse ver com olhos mágicos através de uma bacia de água sagrada. Tentava dessa forma encontrar Hayden e recuperar ele e a princesa Sindrael. Mas a magia parecia impossível, e não era por menos que nunca havia sido capaz de executa-la anteriormente. Se dedicava noite a dentro e pouco ou nada comia. Apenas bebia vinho, sucos e suas poções mágicas, porém ácidas e tóxicas.

       — Divina — disse Fabian Srak, seu maior lambe botas, com um ar temeroso —, precisas comer um pouco e...

       — Sou a Deusa Kitrina, não preciso de nada, seu ser insignificante.

       — Perdão, Grandiosa deusa. Me expressei de forma tola. O que quis dizer é que já não come há um bom tempo. Seria um bom momento para mudar isso, já que prepararam suas iguarias favoritas.

       — Empadão e torta de filhotes? — indagou ela ainda sem ânimo, fitando os objetos atulhados sobre a mesa.

       — Sim, Divina Grandiosidade. De uma bela ninhada rosada de oito Hoordogs. Oito! Vosso número sagrado... — disse ele parecendo realizado ao conseguir atrair a atenção dela.

       — Hm... — iniciou ela fitando sem ânimo as mesas cheias de papéis, frascos, produtos variados e todo tipo de bagunça — é um bom motivo para um... — ela e parou sem completar a palavra descanso. Em vez disso pegou seu grosso livro de capa negra calmamente, e jogou longe a pesada mesa de uma madeira densa e prateada, quebrando frascos e fazendo poções evaporarem e virarem fumaça ao se misturar com outras. E outras atearem fogo nos papéis — mande limpar essa bagunça.

        Mais tarde foram necessários três escravos para erguer aquela mesa do chão.

       O fidalgo Fabian estava aturdido, Kitrina passara mais de seis dias sem comer, dormir, trocar de roupas ou se lavar, e praticamente sem sair do quarto e de cima de seu livro mais sagrado. Mas ainda tinha força para jogar longe aquela mesa pesada como um elefante, mas se espantou também que ainda estivesse bela, com seu lindo vestido acetinado, verde esmeralda e dourado. Seu colar serpente de ouro no colo, acima dos seios altivos e joviais, seus olhos tinha sutis marcas de cansaço, meio caídos e um pouco fundos e escuros, mas sua face se mantinha, ainda assim, imponente.

      — Meu pequeno semideus precisa se alimentar — disse ela acariciando a barriga que já se pronunciava, contrastando com sua magreza repentina. Conseguida após dias sem alimento, apenas bebidas. — Meu sagrado bebê dragão.

       O homem fitou o ventre de Kitrina estupefato. Até então não sabia daquilo. Não fazia ideia. Só pôde, com muito esforço, conseguir dizer:

       — Magnífica notícia Grandiosa deusa. Saúdo o deus príncipe.

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        Após quebrar o longo jejum Kitrina sentiu-se muito mais disposta, pela primeira vez em mais de uma sesma esqueceu-se de Hayden e da princesa e mandou chamar seu general, o qual já havia se negado a receber três vezes. Mesmo na última, quando ele bateu pessoalmente em sua porta afirmando que havia uma urgência de estado. Na ocasião ela se limitara a gritar: Suma daqui! Faça seu trabalho e traga-me os fugitivos! Após aquilo ele desistira e não retornara mais. Até agora.

        Kitrina aguardava a chegada de seu general assentada em seu trono dourado em forma de serpente, frente a sua corte Imperial. Estavam ali dezenas e dezenas de nobres donzelas em quem não confiava mais que em suas criações de serpente. Eram todas filhas de Lordes, as quais ela requisitava de todo reino como protegidas, para garantir fidelidade de seus principais vassalos, os que não tinham filhas enviavam as mães, os que não tinham mães vivas, recebiam ministros seus até que os tivesse, e se não os tivesse eram depostos e substituídos aos vinte e cinco. De modo que muitos homens com fertilidade comprovada escolham mais de uma esposa. Bigamia forçada a homens de um reino que abominava coisas muito menores. E condenavam à forca àqueles que as praticavam na dinastia Honöriana, menos de vinte anos antes.

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