COVIL DE VÍBORAS

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COVIL DE VÍBORAS


      — Está tudo bem — tranquilizou-o Stok. — São todos guardas conhecidos seus, não é? — caçoou rindo e contraindo o rosto em agonia.

        Harley sentia que havia sido esmurrado nas costas até ficar todo roxo. Com ajuda de Felden e se apoiando nas sacas em volta conseguiu se sentar, alongar as costelas surradas, mover os braços dormentes, recuperar o fôlego a muito perdido. Só então notou Stok sangrando.

       — Fique tranquilo — disse Stok ao companheiro​.

        — O guarda o feriu.

        — Apenas um arranhão. Nada que prejudique a missão.

        Mais tranquilo com a condição de Stok, e ansioso por dividir com eles o ocorrido e confirmar que não estava louco, o homem sorriu desesperado novamente e disse:

        — Vocês viram o que aconteceu?, Os deuses... estão do nosso lado. Impediram que aquele guarda os visse, e até mesmo que sentisse seu cheiro, mesmo estando a um palmo de vocês.

         — Mas é claro que vimos. Fizemos prece aos deuses enquanto temíamos o pior — disse Harley impedindo Stok de contar qualquer detalhe. — Mas não abusemos de sua ajuda. Os deuses não costumam servir de guarda costas a humanos. Gostam de pessoas capazes.

        — Certamente, certamente. Mas é ótimo saber que zelam por nós.

        — Fico... mais tranquilo — disse Stok entre caretas.

       — Vamos dar logo uma olhada nisso — disse Felden, ajudando Stok a sair da carroça, também com ajuda de Harley.

        — Estavam numa área de mata, mas entre as copas frondosas era possível ver pouco ao longe as muralhas cinzentas e marrons, visivelmente novas e pouco desgastadas. Mas estavam consideravelmente escondidos entre a vegetação.

        Felden ajudou Stok a retirar a camisa e o manto. Stok sentiu o vento frio diretamente em sua pele, mas o ardor do corte era maior, embora não fosse realmente grave. Harley pegou ataduras limpas e enroladas de sua mochila, embebeu num óleo que também retirou da bolsa e enrolou-as em torno de seu torax esguio, até deixar firme e bem protegido.

        — Vocês estão bem preparados, não?, e você leva jeito para curativos — reconheceu Felden.

        — Aprendi um pouco com o melhor — declarou o pequeno. Neste momento, lembrou-se de Kay com um aperto no coração. Espero que ele esteja bem.

        Stok não pôde deixar de voltar suas lembranças para ele também. Tinha esperanças que, sem nenhum outro deles por perto, o rei Slaesh o tivesse libertado. Fosse para transmitir seus conhecimentos, que eram muitos ou para fazer algo pelo rei e pelo reino. E, em última opção, para enfrentar algum mal. Mas tinha convicção que Kay a esta altura estava novamente bem acolhido em Lenöria. Sobretudo após um sonho que teve com Kay sorrindo e comendo bolo à mesa, com os dois reis e a Rainha.

        Felden camuflou como pôde a carroça e o burro, então começou a guiar os garotos por entre os matos altos e arbustos. Até que se depararam com uma saída de esgoto bem escondida em pontos de difícil acesso, porém, lá do alto era possível que os guardas os vissem quando se movessem da mata para a grade, ao sopé da muralha, movendo-se através da vala onde não havia coberturas. Eram dez passos à vista dos guardas até tornarem a se ocultar na base da muralha.

        — Como agiremos agora? — indagou Stok.

        — Eu costumo esperar uma oportunidade — disse desconcertado. — Embora não seja comum invadirem esse antro hediondo.

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