RELÍQUIAS SVÉKKRÖN I NIAT I

PROFECIAS SOTURNAS

PROFECIAS SOTURNAS

        Harley e Stok dormiam na cabine escura do navio Belonav. Stok se debatia no leito como que assolado por uma convulsão. Estava tendo um sonho negro, um pesadelo louco. Neste sonho via um touro, um lobo, um urso, uma águia e um leão rodeados por uma serpente gigante. Em seguida via a serpente se voltar contra um guerreiro dourado, braços surgiram no corpo da serpente e ela os usou para arrancar a língua, os braços e as pernas do grande guerreiro dourado. Ele se debatia com fúria e movia a boca, mas palavra alguma era ouvida. Num momento pavoroso Stok viu o guerreiro dourado se virar para si, e uma lâmina gélida atravessou seu coração, quando percebeu que a face do guerreiro era a de Hayden, com expressão acusativa, de desolação e ódio.

        Stok decidiu interferir, correu na direção do guerreiro, mas a serpente se voltou contra ele. Se interpôs em seu caminho, e ele permaneceu imóvel, paralisado. Ela o fez recuar, passo após passo, e quando se deu conta, seu pé, na busca de mais um passo, não encontrou chão. Olhando sobre os ombros, para trás, viu um fosso escuro e sem fundo, a serpente o empurrou, e ele caiu. Inacreditavelmente conseguiu se segurar nas paredes do fosso.l e começou a escalar. Na completa escuridão sentia-se observado, vigiado e espreitado, e sua barriga gelava e a nuca eriçava. Até que realmente sentiu; algo obscuro e frio tocou sua perna desnuda e a deixou dormente, latejante e boba.

        Neste momento Stok despertou desesperado e Harley acordou juntamente com ele. Pedindo que se acalmasse, pois havia sido apenas um sonho. Ele próprio havia acabado de ter um sonho perturbador e significativo. Mas não o narrou ou declarou este fato ao amigo. Primeiro iria pensar muito sobre ele.
       
         Alarmado, Stok tirou de sobre si os cobertores, ergueu a calça da perna direita e observou com terror a marca avermelhada no local que formigava. Harley olhou para ele perplexo, e perguntou o que havia acontecido e de que se tratava o sonho. Stok narrou detalhadamente, em seguida indagou abalado:

        — As criaturas das trevas, será que estiveram aqui?

        — Não faço idéia. Não! Não! Acho que não. Na verdade não sei nada sobre estas criaturas — disse Harley. — Quando retornarmos a Drak'Nazit irei em busca da sabedoria dos elfos. Apenas eles devem se lembrar dos períodos negros, onde os mortos caminhavam sobre a terra e aterrorizavam o mundo. Talvez isso venha a ser importante em breve.

        — E a respeito dos animais... Cada um representa um reino, mas o que será que significa a serpente abraçando os demais reinos e trucidando o guerreiro dourado? — Stok não quis contar o detalhe importante, do guerreiro ter a face de Hayden.

        — Já soube de profecias que se deram de forma semelhante ao que lhe sucedeu — declarou Harley. — Com marcas 3 ferimentos deixados durante o sonho e até objetos reais deixados em poder daquele que sonhou. Porém, interpretar uma visão profética é como ler um texto sem vírgulas e pontos. Há vários significados e interpretações possíveis.

        — É meu amigo — disse Stok com um sorriso amargo — não vejo a hora de tudo isso acabar.

        — Os últimos tempos não têm sido fáceis. Mas logo estaremos de volta em casa.

        — Este sonho, será que Tenébria vencerá a guerra?, Pois no sonho a serpente devorou o leão.

        — O destino tem muitas faces e quem faz o destino somos nós — disse Harley sério e firme. — Você sabe bem.

       — Está certo — concordou Stok. — Se não tivéssemos aceitado a missão, tudo estaria diferente nos seis reinos. Talvez a esta altura Tenébria tivesse dominado os reinos menores, Thórin e Ulfgard e quem sabe Usdror.

        — Sim — concordou o pequeno se espreguiçando. — Agora deve sentir o perigo de que os reinos aliados ataquem-na. Assim, decidiu agir de antemão. Para que Lenöria não entre para a aliança, decidiu atacar desesperada e isoladamente em pleno inverno.

        —  Tem razão. Espero que os enviados consigam chegar a Aragor e firmar a aliança. Quem sabe também não enviam alguns navios e guerreiros para nossa causa.

        — Se tivermos sorte —declarou o mago. — acredita que venceremos Tenébria?

        — E você, acredita, Harley?

        — Com todas as minhas forças. E farei de tudo para isso.

        — Não duvido. Sei que fará. Também acredito que venceremos. Só espero que o preço não seja muito alto. Tenébria é muito populosa, caso não consigamos atrair muitos para o nosso lado, só poderemos contar com reforços de Aragor e da aliança para vencermos.

        — Farei como Ayvak disse, farei magias impactantes que chamem a atenção e faça com que nos temam, e me passarei por Helden, para ser mais valorizado. Pessoas tão supersticiosas e sofridas hão de colocar grandes esperanças em um rei com poderes sobrenaturais.

        — Isto é verdade. Absolutamente. A miséria do povo também será útil para nós. Os escravos e pobres receberão alimentos, respeito e esperança para se juntarem a nós. E embora não tenham armas, serão de extrema importância para nossas estratégias.

        — Certamente. Vamos tomar um ar frio?

        — Nada mais reconfortante nesse momento.

        Eles se levantaram dos leitos e foram para o convés escuro e gelado, onde os tripulantes em serviço trabalhavam incansavelmente. Os porões estavam abarrotados de mantimentos e víveres, que seriam usados para mostrar a generosidade e o futuro do povo que fosse leal ao verdadeiro rei, Helden.

        Ambos acenaram para os homens em serviço. Era seus momento de descanso, mas todos precisavam auxiliar na viagem, embora o número de tripulantes oferecesse comodidade e tempo hábil de descanso.

        Eles caminharam até a amurada de proa, observando a escuridão e sentindo o cortante vento gélido no rosto. Que fazia seus olhos arderem e lacrimejarem.

        Ambos ficaram ali algum tempo. Observado a embarcação deslizar veloz sobre as águas negras, impulsionado pelos bons ventos sulistas em direção ao temível reino de Tenébria.

        Harley pensou em seu próprio pesadelo, nele havia quatro crianças vendadas, com coroas de ouro polido. Eles enfrentavam terríveis monstros que surgiam sem parar, mas estes monstros também estavam vendados, eram Orcs e outros Goblinóides, mas apenas os Orcs estavam vendados, contudo, havia um orc diferente dos demais, que não estava vendado, e observava as atrocidades com olhar desolado e impotente. Além de vendados, os Orcs também estavam presos com grilhões, usados como coleiras no pescoço, enquanto um homem alto e um com cabeça de dragão, que Harley claramente distinguiu como sendo Ablon e Mür'Daegon, os incitava à luta com açoites, impropérios, ordens de ataque e terríveis gargalhadas. Harley também notou um homem distinto e para sua surpresa vestia o símbolo de Drak'Nazit. Ele estava ao lado dos dois líderes do mal. Quando Harley andava para observar a face to potencial traidor, ele acordara.
       
        Stok e Harley esfriaram o corpo e a mente por algum tempo na escura, fria e tranquila noite. Depois regressaram para dormir o restante da madrugada. Os cobertores quentes já começavam a fazer falta.