O PEQUENO TIGRE E A SERPENTE

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O PEQUENO TIGRE E A SERPENTE

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Rei Helden

        — Meu Rei, jamais houve esperança para nós, nas últimas duas décadas, como há agora — disse Dámen de Garth a seu Rei, Helden. — Lutarei por vossa majestade com toda minha força e lealdade, assim como meu povo, que agora é seu.

        — Estou certo que sim, e já sou extremamente grato, Lorde Garth. Esta terra receberá muita gratidão do Rei Supremo de Honöria — respondeu o menino Rei.

          Lorde Dámen, o senhor do Forte do Berrante, assim como seus vassalos e seus cavaleiros, confiaram na palavra de Sor Ayvak, o aceitaram como Mestre da Guerra de Honöria, e ao garoto admitiram como herdeiro legítimo de Rei Dárus, curvando-se ante ele e proferido as juras de lealdade.

        Lorde Dámen Garth, era um homem jovial de 23 anos, e se lembrava da forma como se tornara senhor do Forte do Berrante: Havia sido logo após enforcarem seu pai e levarem sua mãe como refém para a capital para garantir sua lealdade a Kitrina e ao reino. Na ocasião o garoto tinha apenas 9 anos. Seus tutores e servidores foram todos escravizados ou mortos, e seus novos educadores e criados eram todos estranhos, cobras enviadas por Kitrina. Mas ele jamais se esqueceu de quem era. Apesar do esforço e das histórias dos Sacerdotes-Serpentes e mestres que o ensinavam a amar e adorar Kitrina incondicionalmente, ele aprendeu a odiá-la.

        Lorde Dámen sempre soube que só fora mantido vivo e no poder devido a lealdade de seu pequeno povo a ele e a seus ancestrais, cuja casa, Garth, remontava a cinco séculos no comando do Forte do Berrante.

        Sor Ayvak e o jovem Rei Helden foram bem acomodados. O Forte do Berrante era um castelo médio a oeste de Sandáris. Seu nome foi mudado para o atual por ostentar o maior berrante de chifre de todos os onze principados de Tenébria, um lindo berrante adornado em ouro e prata, feito à partir do chifre de um auroque gigante. O berrante tem mais de dois metros, segundo a lenda o outro chifre do animal fora triturado e transformado em um pó sagrado para crescimento; tendo sido usado por pessoas importantes e para plantações raras.

        — Sor Ayvak! — convocou Rei Helden, aproveitando-se de uma pausa em suas exaustivas audiências com súditos do vale e das campinas do Berrante. — Os últimos planejamentos vem tendo sucesso?

        — Suficientemente, meu Rei.
       
        — Não suporto mais fazer audiências, Ayvak. Gostaria de alguns dias sem marchar, ouvir petições ou julgar, só para variar.

        — Ser Rei não é fácil. Menos ainda para quem quer ser lembrado como um bom rei. Mas é sua missão, é o rei que pode libertar um povo da escravidão — disse sério. Então sorriu divertido e disse: — Se não gostar, pode deixar o trono para um dos pretendentes que surgirão ao saber de sua abdicação.

        — Não! — tornou-se resoluto. — Meu pai confiou em mim, devo honrar seu sangue e o lema dos unificadores, e levar a Usurpadora a justiça.

        — E qual é o lema?

        — Um rei justo e leal a seu povo faz um povo leal a seu rei e ao reino — proferiu com altivez.

        Rei Helden havia julgado muitos com justiça, mas não era fácil como pensava antes. Para ser fiel a seu rei muitos tiveram de abrir mão de sua família, de seus irmãos, de suas esposas que estavam distante. E aqueles que escolheram ser fiéis a seu sangue e não a seu rei, davam um difícil julgamento, bem como aqueles que decidiam fazer justiça em nome do rei, sem seu conscentimento. E isso cansava a mente e o coração. Em todo caso, as condenações de Rei Helden, em geral se limitavam ao envio dos traidores para as masmorras, de onde só sairiam após o fim da guerra, quando teriam nova chance de mostrar lealdade. Já os assassinos e violadores eram sentenciados à forca, conforme lhe orientara Sor Ayvak, mas isso não tornava mais simples legislar sobre a vida de pessoas.

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