Bernard Chapman: Na época, havia uma tribo indígena a poucos quilômetros a leste de Fallpound. Acho que está lá até hoje. Imagino que o senhor tenha ouvido falar dela.
Justin Pullman: Bem pouco. As pessoas com quem eu conversei em Fallpound não quiseram entrar em detalhes.
B.C: Não fico surpreso. A cidade nunca gostou deles. De qualquer forma, a tribo foi a segunda grande parada na investigação. Quando conseguimos o retrato-falado do nosso suspeito, voltamos à delegacia e mostramos o desenho para o xerife. Ele não reconheceu o homem, mas nos disse que o estranho tinha traços que lembravam os habitantes da tribo. Embora tenha nos avisado para tomarmos cuidado com aqueles índios. Eles não eram "gente como todo mundo".
J.P: O que isso quer dizer?
B.C: Quer dizer que eles eram diferentes, só isso. Não me leve a mal: as pessoas de Fallpound são acolhedoras, educadas e tudo mais, mas não gostam nem um pouco do que destoa da realidade da cidade. No fundo, acho que foi esse o motivo de elas terem demorado tanto tempo para nos chamar. Não queriam mais gente de fora quebrando a rotina cuidadosamente construída da comunidade. E também foi essa espécie de preconceito que fez a polícia local fechar os olhos para a tribo.
J.P: De não ver a tribo como suspeita, você quer dizer.
B.C: Pode-se colocar dessa forma, sim. Ela tinha sua própria religião, seus deuses e seus rituais. E, quando uma série de assassinatos ligados à adoração ao diabo e satanismo está acontecendo em sua casa, você, pelo menos, se dá ao trabalho de investigar a tribo ritualística que fica logo no seu quintal, certo? Mas não foi o que eles fizeram. Então, claro, nós tivemos que fazer por eles.
J.P: Como foi a visita à tribo, Sr. Chapman?
B.C: Foi como eu disse: esclarecedora. E de dar arrepios também. Depois de comunicarmos ao diretor Harvey o avanço em nossa investigação e de deixar bem claro que não precisávamos de reforços, dirigimos para fora de Fallpound e, seguindo as coordenadas que o xerife nos passara, chegamos à tribo em cerca de 20 minutos. Era um lugar bem escondido em meio aos vários hectares de floresta que cercam a cidade. Em determinado momento, a estrada ficou acidentada demais para que continuássemos a percorrê-la de carro, então tivemos que ir a pé.
"Lembro-me muito bem do silêncio, tão absoluto que nossos passos ecoavam. Era meio da tarde e fazia calor, apesar do frio típico da região de Fallpound. Eu não sei quanto aos outros, mas o tempo todo eu me perguntava como seríamos recebidos pela tribo. Para falar a verdade, tinha medo de levar uma flechada no pescoço a qualquer momento, ou coisa assim. Não demorou muito para que percebêssemos que entrávamos em um território de coisas antigas. Podíamos sentir no ar o cheiro do desconhecido.
"É um cheiro que você não esquece nunca".
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A Voz da Escuridão.
Paranormal[Obra registrada na Biblioteca Nacional.] Um garoto de 8 anos é sequestrado e morto na pequena cidade de Fallpound, no interior dos Estados Unidos: o primeiro de uma série de assassinatos que assolou a região em 2009, cometida por uma seita satâ...