19
Justin Pullman: Sophia Manning morou com você e sua esposa durante 8 anos, não foi?
Bernard Chapman: Foi. Dos 15 aos 23 anos, após a morte do tio dela.
J.P: Ermolai Dmitri, chefe da Sessão de Inteligência do FBI e com passagem pela CIA e pelo Serviço Secreto. Correto?
B.C: Correto.
J.P: Estou um pouco confuso, Sr. Chapman. Qual era a relação entre você, Ermolai Dmitri e a agente Sophia Manning?
(Longo silêncio).
B.C: Sem comentários, Sr. Pullman.
20
Como ocorre com a maioria das grandes coisas, a morte é decepcionantemente simples. Sophia descobriu isso aos 15 anos, em um quarto escuro de um hospital de Boston, às 3 da manhã de uma madrugada de quinta-feira.
Mais tarde, ela se lembraria muito pouco daquela noite. Lembraria de estar no banho no convento de Nossa Senhora do Sagrado Coração, em New Shore, e de Miranda batendo à porta do banheiro e dizendo que Chapman queria falar com ela ao telefone. De sair para o quarto frio, enrolada em uma toalha e pingando água no chão, e de Miranda estendendo o aparelho para ela com algo sombrio no olhar. De pegar o telefone com dedos que tremiam e de ouvir Chapman dizer que Ermolai sofrera um derrame.
A viagem de duas horas de carro até Boston era um branco total. A única certeza que Sophia tinha era a de que Miranda a levara à cidade, e de olhar através da janela do veículo as estrelas brilhando no céu noturno e pensar que elas pareciam vaga-lumes. Chapman esperava por ela no hospital, mas Sophia não deu muita atenção ao que ele falou. Qualquer coisa sobre ela precisar ser forte e corajosa e esse tipo de frase feita que as pessoas sempre dizem em horas como aquela. Então, uma enfermeira com o rosto tão cansado que lembrava uma cama desarrumada a levara até o quarto onde Ermolai morria.
Ele não acordou em momento algum, mas Sophia conversou com ele o tempo todo. Segurou sua mão e contou-lhe como ela e Pietra estavam apaixonadas, e que ela se sentia mal porque, de certa forma, aquilo era como trair a confiança de Miranda. Contou-lhe que, na semana passada, ela quebrara o nariz e três dentes de um homem chamado Joe Dallender durante um treino de boxe. Contou-lhe que, finalmente, estava aprendendo a usar o forno sem queimar a comida. Ah, e que aprendera também a andar de bicicleta. Era mesmo muito fácil, como ele dissera que seria.
Conversou com ele enquanto o peito de Ermolai subia e descia, subia e descia, subia e descia... Até que deixou de subir. Rápido desse jeito. Ele simplesmente parou de respirar. As luzes dentro de sua cabeça apagaram, a portas de sua mente bateram e a casa ficou vazia.
Decepcionantemente simples assim.
Sophia continuou falando com ele por um tempo, então saiu do quarto. Miranda e Chapman esperavam por ela no corredor e, pela expressão no rosto da garota, eles entenderam o que tinha acontecido. Chapman adiantou-se e abraçou-a.
- Sinto muito, garota – ele disse.
É. Ela também sentia.
***
Alguém com um espetacular domínio das palavras – Jean-Paul Sartre, talvez, embora Sophia não tivesse certeza – dissera que o inferno são os outros. Na opinião de Sophia, o inferno era a ausência dos outros. Por mais que tentasse, ela não conseguia ficar em paz com a ideia de que certas pessoas simplesmente vão embora e deixam para trás um buraco – se não no mundo, então no coração dela. Como um peixinho dourado em um aquário, ela ficava dando voltas e voltas dentro da própria cabeça, tentando encontrar uma resposta para esse problema aparentemente insolúvel. Além da débil "o mundo é injusto" e da clássica "a vida é assim", Sophia não achava uma explicação para o fato de Ermolai tê-la abandonado. Tê-la abandonado como seus pais.
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A Voz da Escuridão.
Paranormal[Obra registrada na Biblioteca Nacional.] Um garoto de 8 anos é sequestrado e morto na pequena cidade de Fallpound, no interior dos Estados Unidos: o primeiro de uma série de assassinatos que assolou a região em 2009, cometida por uma seita satâ...