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Sentado no sofá, Chapman bebia cada palavra que Sophia falava. Primeiro porque realmente sentira falta da voz da garota, depois porque a história que ela contava o hipnotizara e, mesmo conhecendo-a como conhecia, ele não podia acreditar que Sophia sobrevivera àquilo tudo. Pelo amor de Deus, ela era tão pequena e frágil.

Não, ela não é frágil. Ela é durona e forte. Sempre foi a mais forte de todos nós.

- Josh me contou certa vez que ele teve um irmão mais velho – dizia Sophia da poltrona. – Redmund, e que ele morreu de uma overdose de heroína. Por isso Josh jogou minha droga fora. Jogou tudinho. Então, acho que ele salvou minha vida duas vezes: quando me encontrou ferida, e quando tirou a heroína de mim.

Ela ficou em silêncio, encarando o piso, e Chapman abria a boca para perguntar o que aconteceu depois que ela acordou no quarto de Josh Walker quando o telefone de sua casa tocou. Ele soltou um suspiro e pediu licença às mulheres, indo atender.

- Alô?

- Onde você estava? – Watson quase berrou do outro lado da linha. – Tentei falar com você a noite inteira.

- Desculpe – Chapman consultou o relógio de pulso e ficou surpreso ao ver que já era quase meia-noite. – Eu estava ocupado.

Ele recostou-se na parede e olhou para a sala. Sophia e Lívia o encaravam em silêncio, a garota fumando um cigarro, a mulher torcendo a blusa nas mãos em um tique nervoso.

- Ocupado? – Watson disse. – Acho melhor você vir para cá.

Mas não fazia nem vinte e quatro horas desde que Chapman saíra de lá.

- O que foi? – ele perguntou, embora já soubesse a resposta. Watson não ligaria para ele à toa.

- Encontramos outra criança – disse Watson. – Ele matou de novo, Chapman. E acho que é pior do que pensamos.

- O que você quer dizer?

- Quero dizer que... Porra, nem eu sei.

E contou. Quando Watson terminou de falar, Chapman sentia as pernas bambas. Se não estivesse apoiado na parede, provavelmente teria caído no chão.

- Ah, meu Deus – Chapman esfregou o rosto. – Quem está aí?

- Grimmes e eu – disse Watson. – E a polícia. Consegue voar para cá?

E Chapman lá tinha escolha?

- Claro – ele respondeu. – Estou indo. Não façam nada até eu chegar.

Desligou e ficou encarando o telefone, pensando no que Watson lhe contara. Sobressaltou-se quando Lívia colocou a mão em seu braço.

- O que foi? – ela perguntou.

Chapman balançou a cabeça.

- Preciso ir – ele disse, e olhou para Sophia. – Encontraram outro corpo.

A garota encolheu-se com uma careta.

- Outra criança?

- É – disse Chapman. Considerou contar a ela onde o corpo fora encontrado, mas preferiu não revelar isso, e logo escondeu a informação no fundo da mente. Sophia não entrava na cabeça dele sem pedir, mas, às vezes, captava pensamentos sem querer. E Chapman não desejava que ela ficasse sabendo o que Watson dissera ao telefone. – Outro dia você termina a sua história, que tal?

Sophia cruzou os braços na frente do peito mirrado e fez que sim. Chapman deu um beijo na testa da esposa e correu para o quarto, abrindo a mala na cama e começando a jogar roupas lá dentro. Ao mesmo tempo, ligava para a Sede e pedia um helicóptero. Tomou um sustou e quase deixou cair o celular quando Sophia falou:

- Você está escondendo alguma coisa de mim.

Ele virou-se e deu de cara com a garota parada à porta do quarto.

- Leu minha mente? – ele perguntou, um pouco mais brusco do que gostaria.

- Eu não preciso ler sua mente para saber disso. Está na sua cara – Sophia aproximou-se, chegando tão perto que Chapman conseguia ver cada sarda em suas bochechas. – Eu posso ajudar, Benny. Por favor.

Ele segurou-a pelos ombros. Uma parte dele queria dizer que tudo bem, ela podia ajudar. Queria levá-la consigo para New Shore e envolvê-la naquele caso que já estava saindo do controle. Chapman sabia melhor do que ninguém como Sophia era, em termos práticos, um recurso mais do que valioso. Outra parte dele, no entanto, desejava que a garota tivesse apenas uma vida normal, longe de coisas como monstros que viviam na escuridão da floresta ou psicopatas que matavam crianças.

- Se você quer mesmo me ajudar, Sophia, fique aqui com Lívia – disse Chapman. – Pode fazer isso por mim? Eu não tenho sido uma pessoa muito presente, e me preocupo com ela. Cuide dela enquanto eu estiver longe.

- Mas...

- Se eu precisar de você em New Shore, eu prometo avisar.

Sophia levou a mão ao ombro e segurou os dedos de Chapman. Em momento algum piscou ou desviou os olhos dos dele.

- Está mesmo falando sério? – ela perguntou.

- Estou – disse Chapman. – Muito sério, garota.

Ela sustentou o olhar dele por um tempo antes de se dar por vencida. Assentiu e enterrou o rosto no peito de Chapman. Ele abraçou-a junto de si e lhe deu um beijo no alto da cabeça.

- Cuidado – ela pediu.

- Vou tomar – ele disse. – Não se esqueça: cuide de Livy.

Sophia prometeu, depois estalou um beijo na bochecha de Chapman e saiu do quarto. Sozinho, ele voltou a enfiar as roupas na mala e, enquanto fazia isso, escutava Lívia e Sophia conversando baixinho na sala.

- Meu Deus – ele chamou em voz baixa –, se você estiver mesmo aí, por favor, cuide da minha família. Cuide das minhas meninas.

A Voz da Escuridão.Onde histórias criam vida. Descubra agora