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A casa amarela no fim da estrada de terra e de frente para um milharal certa vez pertencera a um casal de velhos: Linda e Woody Bogusz. Moraram nela por trinta anos, embora nunca tivessem tido filhos. Segundo Woody Bogusz, colocar uma criança nesse mundo cheio de maldade, com todas aquelas drogas, artistas de rock que adoravam o Diabo e gays que comiam a bunda uns dos outros era um pecado imperdoável aos olhos de Deus. E essa não era a única paranoia que latejava na mente do Sr. Bogusz. Sobrevivente da Segunda Guerra, ele achava que o Holocausto Nuclear era como uma bomba relógio cuja contagem chegava cada dia mais próxima do zero. Ao comprar a propriedade, ele se certificara também de construir um abrigo antibombas a cinco quilômetros de onde vivia, em um lugar escondido entre as árvores. Nada muito grande, apenas um buraco no solo, um caixote revestido de chumbo para impedir a radiação de entrar e mantê-los vivos quando as ogivas caíssem do céu. Mais ou menos como acontecera na Polônia, quando o Sr. Bogusz não passava de um garotinho de cinco anos sendo acordado de madrugada pelas sirenes que avisavam que os aviões nazistas se aproximavam.

De uma forma ou de outra, Linda e Woody Bogusz viveram felizes e paranoicos naquela casa afastada de todas as maldades do mundo, sem família, amigos ou conhecidos. Até que, um dia, um homem alto de olhos amarelos bateu à porta deles dizendo vender tapeçarias. E Linda Bogusz, uma amante declarada de decoração exagerada e colorida, convidou-o a entrar. Só notou que o sujeito não carregava consigo tapete algum quando ele já estava parado de pé no meio da sala. E sequer chegou a notar a .45 – sua cabeça explodiu antes.

No momento do tiro, Woody Bogusz trabalhava no milharal. Escutou o barulho – káboom! –, tomou-o como a explosão de uma bomba e teve certeza de que o dia chegara. De que aqueles números descendentes do Apocalipse tinham finalmente atingido o Grande Zero e que agora era apenas uma questão de tempo até os aviões começarem a atacar. Ele correu para casa, gritando o nome da esposa, e acabou escorregando nos miolos dela ao entrar desesperado na sala.

Caiu e bateu a cabeça. Quando abriu os olhos, viu o homem alto acima de si.

- Preciso de um lugar para ficar – disse o homem alto. – Sei que isso parece loucura, mas essa casinha de vocês é exatamente o que eu estava procurando.

Woody Bogusz, cujo cérebro nunca fora lá essas coisas e que se encontrava ainda mais idiota que o normal devido à queda, piscou confuso para a arma que o homem alto segurava.

- Quem é você?

- Eu? Sou um artista.

- Um artista? Como Hitler? – o Sr. Bogusz esfregou a boca. Suas mãos, sujas do cérebro destruído da esposa, deixaram em seus lábios um pedaço de massa cinzenta que ficou pendurado em seu beiço inferior como os restos de uma refeição regurgitada. – Você veio com as bombas?

O homem alto deitou a cabeça um pouco para o lado.

- Não sei de bomba nenhuma, senhor – disse o homem alto. – Só sei que sua casa agora é minha. Ela é afastada e silenciosa, e um artista precisa de paz e silêncio para trabalhar.

- Você não pode ficar com minha casa – disse o Sr. Bogusz. – Diabos, que história é essa agora? Encontre outro lugar para se proteger das bombas. Esse abrigo aqui é meu. Vai embora! Xô!

Como quem tenta espantar um cachorro. O homem alto ergueu a .45 e apontou-a para a cabeça do Sr. Bogusz.

- Você é bom em alguma coisa? – perguntou. – Sabe cantar ou pintar? Ou quem sabe é um escritor?

A Voz da Escuridão.Onde histórias criam vida. Descubra agora