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Bernard Chapman: Aqueles tambores rufaram por horas. Bum-bum-bum, sem parar. Minha equipe e eu nos reunimos no salão do hotel onde estávamos hospedados e esperamos aquilo acabar. Em determinado momento, outros hóspedes se juntaram a nós. Eles tinham sido arrancados do sono por aquelas coisas retumbando no estômago da floresta. Estavam assustados, e acho que se sentiam mais seguros conosco do que sozinhos em suas camas. Sabiam que éramos do FBI. Ninguém falou muito durante aquela noite, nada além de palavras sussurradas. Nossas bocas estavam em silêncio, mas nossos olhos gritavam. E o tempo todo os tambores faziam Fallpound tremer com um som tão alto quanto as trombetas do Apocalipse. A impressão que tínhamos era que o céu desabava em cima de nossas cabeças. Até hoje, eu acordo no meio da madrugada e escuto aqueles tambores. Bum-bum-bum, bum-bum-bum. Batendo como um coração ecoando no vácuo. A voz da escuridão. Você sabia disso, Sr. Pullman? Que a escuridão tem uma voz?

(Silêncio).

B.C: Bom, de qualquer forma, a certa altura os Monstros começaram a cantar. Era apenas uma voz no começo, e depois outra, e mais outra, até que todo um coro de vozes se erguia da floresta, acompanhando o rufar dos tambores. Uma ópera de demônios realizando um número especial para nós.

Justin Pullman: O que eles cantavam?

B.C: Não sei. Nenhum de nós conseguia entender o cântico. O que escutávamos não eram bem palavras, mas sim um monte de vogais e consoantes desconexas que formavam ruídos e grunhidos. Devia ser alguma letra antiga, embora eu nunca tenha ouvido nada igual em minha vida. A canção me fazia pensar nos símbolos entalhados nos corpos de George Cornwell e Cassandra Lauder. (Pequena pausa). Eu me lembro de um hóspede que estava conosco naquela noite. Não consigo recordar o nome dele, era um velho já aposentado, mas ele nos contou que fora enfermeiro quando jovem e que trabalhara em uma instituição mental durante alguns anos. Ele disse uma coisa da qual eu nunca esqueci.

J.P: O quê, Sr. Chapman?

B.C: Ele disse que, às vezes, durante a madrugada, os loucos na instituição mental cantavam uma música igual àquela que escutávamos sair da floresta. (Outra pausa). O último dos tambores retumbou às 5h37min da madrugada. Eu sei disso porque consultei meu relógio no instante em que Fallpound caiu novamente em silêncio. Todos nós no salão nos encaramos, sem dizer nada. Estávamos cansados. E assustados também. Esperei mais quinze minutos, só para me certificar de que os Monstros não retomariam a música, então mandei minha equipe voltar para a cama. Eles precisavam descansar. Teríamos trabalho a fazer naquela noite. Dei três horas de sono para eles, e depois os acordei para que pudéssemos repassar as estratégias. Se quiséssemos pegar Abukcheech e sua seita, teríamos que estar mais do que prontos. Não que fosse necessário dizer isso para meus agentes: eles eram bem preparados. Tinham passado por treinamentos rigorosos. Às vezes, rigorosos demais".


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