A estrada de terra pela qual Sophia dirigia dividiu-se em duas. Um segundo mais tarde, sua mente partiu ao meio como se alguém usasse uma faca de corte cego para separar os hemisférios do seu cérebro. Um grito ficou preso em sua garganta e ela teve tempo apenas de pisar no freio antes do seu corpo sair do ar. O carro derrapou, as rodas traseiras cuspindo uma nuvem de areia, e houve um som alto de pneu estourando. Quando deu por si outra vez, Sophia viu Chapman debruçado sobre ela e agarrando o volante. Árvores giravam lá fora em um turbilhão de manchas verdes e furiosas enquanto o veículo rodopiava.
Por fim, o rodopio parou, e Sophia caiu de testa contra o volante. Escutava Chapman gritar seu nome, mas o som vinha de longe, como se ele estivesse a quilômetros de distância e não sentado ao seu lado no banco de passageiro. A garota gemeu e ergueu o rosto. Sua cabeça doía e ribombava como se os fogos do Ano Novo explodissem no interior de seu crânio.
- Sophia? – Chapman chacoalhava o ombro dela. Por que todo mundo chacoalha seu ombro quando você desmaia ou passa mal, cacete? – Sophia?
Ela ergueu a mão para ele parar com aquilo. Algo quente escorria pelo canto de seu olho esquerdo. Sophia tocou o líquido, achando que fosse uma lágrima, mas então viu os dedos cheios de sangue. Sentia mais sangue vertendo de suas narinas.
- Eu apaguei – ela disse, segurando a cabeça. Temia que um daqueles fogos que explodiam lá dentro arrancasse o tampa do seu crânio.
Chapman disse mais alguma coisa que Sophia não entendeu e saiu do carro. Ela também escutou Grimmes abrindo a porta de trás e os dois homens conversaram baixinho, ambos rodeando o veículo e olhando-o como se fossem mecânicos procurando por um problema. Grimmes parou em frente ao para-choque e ajoelhou-se.
- Aqui – ele disse, e Chapman agachou-se ao lado dele. – O pneu já era.
Sophia abriu a porta, o mundo girando e girando, e vomitou.
- Desculpem – ela disse quando terminou de vazar pela boca. – Eu fodi com tudo.
- Não foi você – Chapman falou. Continuava agachado ao lado de Grimmes, ambos olhando para o pneu dianteiro esquerdo.
Cambaleando, Sophia desceu do carro, pulou a poça de seu próprio vômito e viu o que Chapman apontava. Uma mortalha de pregos envolvia a roda. Enrolara-se no pneu e furara a borracha.
- Alguém deve ter largado essa merda na estrada – Grimmes ficou de pé e balançou a cabeça. – Você não viu e passou por cima.
Mas Sophia sabia que não tinha sido bem assim.
- Ninguém largou isso na estrada – ela disse. – Foi ele. Ele colocou esses pregos para pegar qualquer um que se aproxime de onde ele está. E funcionou. Funcionou direitinho.
Grimmes torceu a boca e tirou o celular do bolso, olhando para a tela.
- Não tem sinal nenhum – ele ergueu o celular no alto, esperou um pouco e balançou a cabeça. – Nada. Nem uma barrinha.
- Esqueça, Grimmes – disse Chapman. – Vamos ter que ir a pé, não tem outro jeito.
- Com ela nesse estado? – Grimmes apontou Sophia.
A garota fechou os olhos. A dor em sua cabeça diminuía, mas Grimmes tinha razão: não se sentia bem para andar, muito menos para confrontar um serial killer armado e perigoso. Chapman parou na frente dela.
- Aqui, deixa que eu cuido disso – ele tirou um lenço do bolso.
- Não precisa.
- Você não pode sair por aí com o rosto cheio de sangue. Não estamos nem no Halloween.
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A Voz da Escuridão.
Paranormal[Obra registrada na Biblioteca Nacional.] Um garoto de 8 anos é sequestrado e morto na pequena cidade de Fallpound, no interior dos Estados Unidos: o primeiro de uma série de assassinatos que assolou a região em 2009, cometida por uma seita satâ...