7
Chapman virou o volante do carro com tanta violência ao entrar na Cathedral Street que os pneus cantaram no asfalto quente e o veículo subiu na calçada, quase colidindo com a vitrine do Starbucks da esquina. Watson e Grimmes se seguraram nos bancos para não serem arremessados contra as portas. Atrás deles, uma procissão de cinco viaturas vinha soando as sirenes, fazendo iiii-huuu, iiii-huuu e projetando luzes azuis e vermelhas nas janelas das lojas.
Havia uma comoção em frente ao prédio de Jéssica Shepard. Pessoas choravam e gritavam. Uma velha passou em disparada por eles: parecia ter esquecido que precisava de ajuda para andar, porque segurava sua bengala acima da cabeça e corria com a determinação de uma jovem de 21 anos. A frente de sua blusa branca estava manchada de vermelho, e havia sangue também em seus cabelos prateados. Alguém berrava "ele está lá dentro, ele está lá dentro", e outra voz: "meu Deus, ele matou eles, matou eles, ah, meu Jesus".
Ele já está aqui, Chapman trincou os dentes e parou o carro atrás de um Ford negro. Meu Deus, por favor, não deixe ser tarde demais. Por favor, por favor.
Saiu para a rua quente, franzindo os olhos diante da luminosidade da manhã e sacando sua Glock. As viaturas pararam atrás dele, as sirenes produzindo um barulho infernal naquele dia infernal de calor infernal.
- Montem uma barreira na rua! – Chapman gritou para Cohen, que dirigia a primeira viatura da fila. – Não deixem ninguém entrar ou sair!
Depois, empunhou a Glock com ambas as mãos e avançou para o número 900 da Cathedral Street. Não precisou olhar para saber que Watson e Grimmes vinham logo atrás – eles sempre estavam ali para lhe dar cobertura. Um dos vidros da porta giratória da entrada fora despedaçado e jazia no chão em cacos brilhantes que se partiram debaixo dos sapatos de Chapman.
Ele entrou na recepção e estancou. Watson colidiu contra seu ombro e Chapman escutou Grimmes dizer:
- Ah, puta merda.
Sangue pintava as paredes e o teto, e Chapman viu dois corpos. O mais próximo pertencia a um segurança: ele estava caído com as pernas esparramadas no tapete escuro e a parte superior do corpo meio apoiada em um banco estofado, o braço direito repousando em cima da almofada em uma posição descontraída e relaxada. Parece estar em uma mesa de bar, falta só o drink em sua mão, pensou Chapman, e então percebeu que não havia uma mão, só uma massa vermelha e gelatinosa de onde ossos acenavam. O rosto – o que restava dele – fez Chapman pensar em uma máscara de Halloween, e das boas. O maxilar desaparecera e a língua pendia sobre o colarinho da camisa como uma gravata rosa de carne.
Watson correu até o outro corpo, mais à frente, e colocou os dedos no pescoço da mulher estirada no chão. Foi mais um gesto simbólico, porque era óbvio que ela estava morta. A poça escura de sangue embaixo dela não deixava dúvidas quanto a isso.
Nesse momento, eles escutaram pés descendo a escada e apontaram suas Glocks. Chapman deu um passo à frente, a arma firme nas mãos apesar de suas pernas trêmulas e do suor que entrava em seus olhos. Então uma mulher surgiu no último degrau, trazendo o filho no colo, e soltou um berro ao vê-los.
- Opa, calma! – Chapman ergueu as mãos.
A mulher olhou para os três e depois apontou para os degraus que acabara de descer. O menino em seu colo chorava.
- Ele está lá em cima – ela disse. – No primeiro andar.
- Saia daqui com o garoto – disse Chapman e correu escada acima, Grimmes e Watson em seus calcanhares.
Estavam no meio da subida quando um barulho alto ecoou escada abaixo, rolando os degraus até eles.
Catá-BLAU!
E então, um grito.
8
Ele fechou os dedos na maçaneta e girou, depois empurrou. A porta do banheiro não abriu. Estava trancada.
- Podemos fazer isso do jeito fácil ou do difícil – sua voz era abafada pela máscara que lhe cobria o rosto inteiro, exceto pelos olhos, que brilhavam amarelos. Os olhos de um animal predador. – Eu realmente não quero machucar você. Se você abrir, prometo fazer com que a coisa toda seja rápida.
O que ele recebeu como resposta foi um grito estrangulado e cheio de terror:
- Vá embora! Vá embora daqui!
Ele suspirou fundo e balançou a cabeça. Seria tão mais fácil se Jéssica cooperasse – melhor para ela e para ele, também. Àquela altura, a garota devia saber que era preciso muito mais do que uma porta trancada para impedi-lo.
- A escolha é sua.
Recuou três metros da porta. Rodou a cabeça devagar, e as articulações de seu pescoço estalaram. Como sempre, seu corpo estava preparado. Ele dobrou o joelho esquerdo, a perna direita esticada atrás de si e, antes que pudesse correr e jogar todo o seu peso contra a porta trancada do banheiro, uma voz gritou atrás dele:
- FBI! COLOQUE AS MÃOS PARA O ALTO!
O que ele fez com as mãos foi fechá-las com força na calibre .45 e girar numa velocidade alucinante, apertando o gatilho. Atingiu no peito um dos três homens que lhe apontavam armas e depois continuou atirando.
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A Voz da Escuridão.
Paranormal[Obra registrada na Biblioteca Nacional.] Um garoto de 8 anos é sequestrado e morto na pequena cidade de Fallpound, no interior dos Estados Unidos: o primeiro de uma série de assassinatos que assolou a região em 2009, cometida por uma seita satâ...