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Sophia improvisou cordas rudimentares usando o lençol da cama e as cortinas da janela. Sentou Lou Campbell em uma cadeira no meio do quarto e amarrou-o da melhor maneira que sua mão única permitiu. Quando ele atingiu o chão, caindo do teto feito uma fruta podre do alto de uma árvore e produzindo um barulho nauseante de uma melancia estourando, como diria Liz Walker, Sophia achou que o tinha matado. Ficou surpresa ao vê-lo tentar se arrastar para longe dela, deixando uma esteira de sangue atrás de si. Sentiu pena, também, mas não o suficiente para aplacar sua raiva. Nela, as emoções destrutivas sempre levavam a melhor sobre as positivas.

A garota terminava de dar o último nó em uma das cortinas que usara para amarrar Lou Campbell, apertando o corpo alquebrado dele contra o encosto da cadeira, quando alguém bateu à porta.

Inacreditavelmente, Lou Campbell ergueu a cabeça e gritou:

- Socorro!

Sophia puxou com violência os cabelos dele para trás e encostou os lábios na orelha direita do homem.

- Se você gritar de novo, eu arranco seus olhos com os dentes.

Lou Campbell inspirou fundo e fechou a boca. Sophia podia sentir o aroma metálico do sangue que cobria o rosto do homem. Seu bigode branco, agora tingido de vermelho, tremia, parecendo mais do que nunca uma lagarta se contorcendo.

- Quem é? – murmurou Sophia, olhando dele para a porta.

- Eu não sei – disse Lou Campbell. O sangue na boca dele deixava sua voz pastosa, e o que saiu foi algo como eubãozei.

- Não acredito em você. Como vou saber que você não trouxe um de seus amigos para se juntar à festa?

Lou balançou a cabeça e lágrimas escorreram de seus olhos fechados. Sophia não se deixou comover.

A batida na porta se repetiu. Dessa vez, veio acompanhada de uma voz:

- Sophia? Sophia, abra isso aqui agora!

Lívia? Imediatamente ela esqueceu-se do homem que amarrara à cadeira e do assassino que precisava encontrar. Com o coração disparado, Sophia correu para a porta e escancarou-a, dando de cara com o rosto preocupado de Livy. Elas se encararam, Sophia no quarto e Lívia no corredor, separadas por menos de um metro, distância que Sophia cobriu em um segundo ao atirar-se no pescoço de Lívia e abraçá-la. Sentiu as mãos dela apertarem suas costas.

- Escutei um grito – disse Lívia ao pé do ouvido dela. – Você...

Sophia balançou a cabeça contra o ombro de Lívia.

- Estou bem – ela disse.

- Sua mão. O que aconteceu com sua mão?

- Perdi. Sou ótima em perder tudo, lembra? – disse Sophia. Enterrou o rosto no pescoço de Lívia, sem a menor intenção de sair dali tão cedo.

***

- Eu conheço ele – disse Lívia. – Cristo, acabei de pegar um táxi com ele.

- Ele quase me matou... – respondeu Sophia, olhando para o homem moribundo na cadeira. – E aí eu quase o matei.

Lívia cruzou os braços e fez uma careta. O agente do FBI que a acompanhava, e de quem Sophia ainda não sabia o nome, fechara a porta e se encostara na parede, sem dizer uma palavra, embora seu rosto estivesse pálido. Sophia olhou-o de testa franzida.

A Voz da Escuridão.Onde histórias criam vida. Descubra agora