- Mary-Anne e Johnny Straub – disse o chefe de polícia Cohen. – O nome do menino é Danny.
- Eu conheci um Danny – disse Watson, lembrando-se de Daniel e de seus óculos que insistiam em deslizar até a ponta do nariz.
- Como é?
- Nada – Watson balançou a cabeça. – Quem foi que reparou na porta aberta e chamou a polícia?
De testa franzida, Cohen tirou um bloquinho de anotações do bolso de trás da calça do uniforme e leu o que anotara ali.
- Uma senhora chamada Úrsula Pincovae – ele disse. – Vizinha deles. Saiu para passear com o cachorro, notou a porta aberta e achou estranho – Cohen já contara isso antes, ao telefone, mas Watson deixou-o falar mesmo assim. O pobre homem parecia precisar falar. – Chamou pelos Straub e, quando ninguém respondeu, ela ligou para nós.
- Os vizinhos escutaram alguma coisa? Tiros? Barulhos estranhos?
- Não que eu saiba. Mas posso pedir para alguns policias irem de porta em porta na vizinhança, perguntando se alguém viu ou ouviu algo.
Watson assentiu.
- Faça isso – ele disse, dando um tapinha amigável no ombro de Cohen. – E encontre essa senhora Pincovae, está bem? Quero falar com ela.
Pediu licença a Cohen, agachou-se para passar por baixo da fita amarela que delineava o perímetro policial, e caminhou até o lado de Grimmes. O jovem estava encostado na parede da casa dos Straub, um cigarro queimando entre os dedos da mão direita. Não era um hábito típico de Grimmes, mas Watson entendia perfeitamente a necessidade depois do que tinham visto no quarto do menino. Porra, ele próprio sentia vontade de fumar. Grimmes o viu chegar e ajeitou um pouco os ombros, tentando parecer menos abatido, mas não funcionou. Algumas emoções são impossíveis de disfarçar. O medo é uma delas.
- Ligou para Chapman? – Grimmes perguntou.
- Liguei – disse Watson. – Ele está a caminho. Vai pegar um helicóptero em Boston e deve chegar logo. Pode me dar um desses?
Grimmes lhe passou um Marlboro e um isqueiro. Watson acendeu, tragou e tossiu, soltando fumaça pelas narinas e pela boca. O cheiro lembrou-lhe Sophia.
- Você está bem? – perguntou.
- Não – respondeu Grimmes. – E você?
- Não.
O rosto de Grimmes contraiu-se em uma careta. Ele deu uma olhada ao redor. Parecia um cachorro perdido e torturado procurando uma maneira de fugir do cativeiro. A multidão em volta da casa dos Straub tinha dobrado desde que ele e Watson entraram na cena do crime. Pessoas se esmagavam, acotovelando-se para ver melhor, ficando nas pontas dos pés e erguendo smartphones e iPhones para tirar fotos ou gravar o que acontecia. As luzes vermelhas e azuis das viaturas refletiam-se nas pequenas telas dos aparelhos, criando um show psicodélico feito de quadrados e retângulos. Até agora, os policiais e a fita amarela com "NÃO ATREVESSE" tinham mantido os curiosos afastados. Grimmes perguntou-se quanto tempo levaria até a mídia chegar com suas vans, jornalistas e câmeras de última geração.
- Aquilo lá dentro... – ele pigarreou, batendo as cinzas do cigarro. – Cara, foi como estar em Fallpound outra vez.
- Eu sei – disse Watson, tentando não pensar no menino Danny. Pelo menos, não agora. Mais tarde, Watson tinha certeza de que o encontraria em seus sonhos. – Sabe o que temos aqui, não sabe?
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A Voz da Escuridão.
Paranormal[Obra registrada na Biblioteca Nacional.] Um garoto de 8 anos é sequestrado e morto na pequena cidade de Fallpound, no interior dos Estados Unidos: o primeiro de uma série de assassinatos que assolou a região em 2009, cometida por uma seita satâ...