O verdadeiro nome de Slendy era Shaw Raven, mas ninguém o chamava assim. Ele recebera o apelido por causa de sua aparência: alto, comprido e magro. Embora, para Sophia, a palavra que o definisse fosse alongado. As proporções do sujeito simplesmente não batiam. Seus braços e pernas eram esticados, como se alguém tivesse pegado as pontas dos dedos de suas mãos e de seus pés e depois puxado até o limite, feito goma de mascar. O tronco era pequeno em comparação aos membros, o que fazia com que o homem parecesse estar sempre andando por aí em pernas de pau. A única coisa mais ou menos certa nele era a cabeça: sustentada por um pescoço fino, não havia nada de estranho nela. Exceto pelos olhos. Negros, apertados e cor de cinzas vulcânicas, os olhos de Slendy não se encaixavam nele nem tampouco nesse mundo.
Sophia trabalhou para ele durante três meses, recebendo em dinheiro vivo. Nesse tempo, além do verdadeiro nome de Slendy, a garota descobriu também que ele era o homem mais poderoso de Newburyport, e um dos mais poderosos de toda a Massachusetts.
- Tome cuidado com ele, está bem? – disse Elboni para Sophia na noite em que ela conheceu Slendy, depois que foram embora do clube. Eles estavam no carro do garoto, e ele a levava para casa. Não que o quarto de motel caindo aos pedaços pudesse ser chamado assim.
- Está falando de Slendy? – perguntou Sophia. Sua cabeça, tomada por uma enxaqueca causada pelo ambiente fechado e barulhento da Succubus, martelava.
- É claro que eu estou falando de Slendy – disse Elboni. – O cara é poderoso, Fran. Ele deve ser o dono do maior império de drogas de toda região. Aquele clube lá atrás? É só uma fachada. A polícia sabe, mas fecha os olhos devido à influência de Slendy. Rolam coisas sinistras por lá. Você vai descobrir, agora que trabalha para ele. Ele não é o que aparenta ser. Percebeu como ele nunca sorri de verdade? E como as expressões dele parecem... – Elboni ficou agitando a mão no ar, procurando a palavra.
- Artificiais?
- Isso aí. É como se ele tivesse vários rostos. Como se ele tivesse vários rostos guardados no bolso que ele veste para cobrir a ausência de um rosto verdadeiro.
Sophia lembrou-se do flash branco relampejando no rosto de Slendy, comendo seus traços e transformando-o em alguém sem face. Estremeceu.
- Vou tomar cuidado – ela disse. – Por que você me ajudou, de qualquer forma? Por que arranjou um trabalho para mim?
Elboni parou o carro em frente à porta do quarto de Sophia. A placa do motel piscava na noite, as letras que formavam as palavras Roses' Motel brilhavam rosas e refletiam-se no para-brisa embaçado de frio do veículo. Todas as janelas do local estavam escuras. O garoto virou-se para o banco de passageiro e olhou Sophia.
- Porque você me pediu – disse Elboni. – E porque você me salvou daqueles cinco caras.
- Sete caras, Grace – sorriu Sophia.
- Okay, tanto faz – ele respondeu. – Você me parece uma boa pessoa, Fran. De verdade. E não estou acostumado com boas pessoas. Acho que quero cuidar das poucas que conheço.
Aquilo foi doce. Sophia inclinou-se um pouco e beijou os lábios de Elboni, afastando-se logo em seguida.
- Obrigada – ela disse, saindo do carro. – A gente se vê.
- Certo – sorriu Elboni. Ela estava enfiando a chave na fechadura do quarto quando o garoto a chamou. – Ei, Fran? Tente mesmo parar, está bem?
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Voz da Escuridão.
Paranormal[Obra registrada na Biblioteca Nacional.] Um garoto de 8 anos é sequestrado e morto na pequena cidade de Fallpound, no interior dos Estados Unidos: o primeiro de uma série de assassinatos que assolou a região em 2009, cometida por uma seita satâ...