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Havia um crânio amarelado de touro pendurado sobre o portão de madeira, com os chifres apontando de uma maneira agourenta para o céu. Chapman parou e enfiou as mãos nos bolsos, sentindo um calafrio subir por sua espinha. De repente, desejou ter ficado para trás com Watson.

- Péssimo gosto para decoração – disse Grimmes, observando o crânio.

Chapman inclinou-se à frente, estudando o portão. Parecia trancado pelo outro lado, mas não dava para ter certeza. Uma muralha precária, também de madeira, cercava toda a tribo: eles podiam ver o alto dos telhados de palha despontar. O que mais incomodava Chapman, no entanto, era o silêncio. A sensação de que o mundo prendera a respiração era forte demais para ser descartada. Não dava para ignorar aquela falta de alguma coisa – de alguma coisa essencial à realidade, mas totalmente dispensável àquele lugar. A quietude era tão absoluta que a tribo passava a impressão de estar abandonada.

- Tem alguma coisa errada – murmurou Sophia. Chapman virou-se para ela e encontrou a garota pálida, abraçando a si mesma. Teve um rápido vislumbre daquele dia há tanto tempo, quando as portas do elevador se abriram e ele viu Sophia pela primeira vez, apertando o coelho de pelúcia contra o corpo. – Não gosto daqui.

Ela está sentindo alguma coisa que eu não consigo. Os olhos grandes de Sophia corriam de lá para cá, de lá para cá, de lá para cá.

- Sophia, o que foi?

Sophia estacionou os olhos no rosto dele, e Chapman odiou o que viu ali. Ela parecia à beira de um colapso, um derrame ou algo parecido.

- Há muitos deles, Chapman – ela disse. – Não consigo mantê-los fora da minha cabeça. Estão pedindo que eu desenhe. Estão gritando para eu desenhar. Meu Deus, não consegue ouvir isso?

A garota fechou as pálpebras com força, mordendo o lábio inferior até arrancar dele um filete de sangue, balançando a cabeça em movimentos de "não quero, não quero". Grimmes avançou para ela com a mão estendida.

- Não – Sophia fez, afastando-se um passo. – Não me toque. Posso machucar você.

Assustado, Grimmes virou-se para Chapman.

- Senhor, acho melhor nós...

O portão de madeira da tribo indígena o interrompeu: com um eeeeeeerggghhh de dobradiças enferrujadas, ele abriu-se, levantando uma nuvem de poeira. O crânio de touro inclinou-se, pareceu prestes a cair, e então voltou à sua posição, quase como se tivesse vida própria. Chapman viu Grimmes levando a mão à coronha da arma e fez o mesmo.

Caminhando até eles estava a velha mais velha do mundo. Apoiando-se em um cajado de madeira escura e coberta por várias camadas de panos sujos, ela avançava arrastando os pés e murmurando palavras que Chapman jamais esqueceu ou compreendeu. Além dos olhos, pequenos e brilhantes como dois ônix negros, e da boca, que não parava de falar naquela língua alienígena, era impossível discernir qualquer outra forma em sua face: ela não passava de uma massa de pele enrugada e quebradiça como pergaminho. Cabelos brancos emolduravam o rosto da anciã, como um véu de teias de aranha. Atrás dela, vinha um aglomerado de homens, mulheres e crianças, todos nus. Eles pararam antes de passarem pelo portão e ficaram olhando os estranhos.

A velha passou por Chapman e Grimmes, ignorando-os por completo, e foi até Sophia. A garota agora estava encolhida próxima a uma árvore, apertando os punhos fechados contra os ouvidos, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Com a ponta do cajado que usava de bengala, a anciã tocou a testa de Sophia, ainda murmurando palavras incompreensíveis. Ninguém se mexia. Chapman percebeu que tinha prendido a respiração.

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