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(Da entrevista de Bernard Chapman, diretor do FBI. Entrevista prestada em 2014 a Justin Pullman, autor do livro O Lado Negro de Fallpound: Os Monstros da Floresta).

Justin Pullman: Obrigado, Sr. Chapman, por aceitar se encontrar comigo hoje.

Bernard Chapman: Obrigado pelo convite, Sr. Pullman.

J.P: Devo dizer: achei que o senhor fosse recusá-lo.

B.C: Admito que me passou pela cabeça. Mas depois pensei melhor e, diabos, por que não? Já está na hora de falar sobre aquela época.

J.P: Concordo plenamente com o senhor. E quero que saiba: o senhor não é obrigado a responder minhas perguntas se não quiser. Sinta-se à vontade para dizer "sem comentários", e já peço desculpas adiantadas por tentar arrancá-los do senhor de qualquer forma.

B.C: (Riso). Certo, estamos combinados.

J.P: Que tal se nós... Espere, deixe-me tornar isso oficial. (Pequena pausa). Muito bem. Aqui é Justin Pullman, e estou sentado na sala de estar da minha casa com o atual diretor do FBI de Boston, o senhor Bernard Chapman. Ele foi o responsável pela prisão de Abukcheech e sua seita, que aterrorizaram a cidade de Fallpound e toda a América há cinco anos. O Sr. Chapman concordou de livre e espontânea vontade com essa entrevista.

B.C: Sim, concordei.

J.P: E fico feliz por isso. Bom, Sr. Chapman, vamos lá: por que o senhor não começa me dando um panorama completo do que aconteceu naqueles dias?

B.C: Não tenho certeza de que você vai querer o panorama completo. A paisagem é bem feia. Não há nada de bonito sobre aqueles dias.

J.P: Poucas pessoas discordariam de você.

B.C: A questão é que nós não sabíamos o quão feio seria, entende? Não no começo, pelo menos, quando fomos chamados a Fallpound.

J.P: E quando chamaram vocês, exatamente?

B.C: Acho que quatro - talvez cinco - meses depois do primeiro assassinato. Claro, tínhamos escutado rumores. Rumores sobre as mortes, quero dizer. Mas até então achávamos que tudo estava sob controle. Que a polícia local iria resolver o caso. Eles souberam abafar bem a gravidade da situação.

J.P: E quando ficou claro para o FBI que a polícia de Fallpound precisaria de ajuda?

B.C: Quando eles pediram nossa ajuda. Mas acho que acabaríamos indo para Fallpound de uma forma ou de outra. No fim, a coisa tomou proporções assustadoras.

J.P: Com assustadoras... O senhor se refere aos rituais de adoração ao diabo? Ao satanismo?

B.C: Claro, refiro-me a isso também, se é que você pode chamar aquela porra toda de... Opa, desculpe.

J.P: Tudo bem.

B.C: O problema não eram os rituais de satanismo. Com isso a polícia de Fallpound podia lidar, embora não haja um relato sequer de adoração ao diabo antes dos Monstros da Floresta.

J.P: O senhor também os chama assim?

B.C: E por que não? É como todo mundo os chama. E é o que eles eram.

J.P: Certo. O senhor estava dizendo que o problema não era o satanismo...

B.C: Era parte do problema. Mas não nos chamaram a Fallpound por causa de um bando de satanistas malucos que corriam pelados pela floresta. Fomos chamados porque, em apenas quatro meses, 187 pessoas desapareceram de Fallpound. Homens, mulheres e... e crianças.

J.P: 39 crianças, para ser exato.

B.C: Pois é, 39 crianças.

J.P: Segundo os registros, o primeiro corpo encontrado foi o de um garoto.

B.C: Isso mesmo. George Cornwell, 8 anos. O menino queria ser astronauta.

J.P: Encontraram George no rio. Sem...

B.C: Sem os olhos. E sem os dentes também.

J.P: Quando vocês encontraram as outras crianças, elas estavam em estado semelhante?

B.C: Algumas. Outras não tinham... Estavam penduradas pelos pés, e... Posso fazer valer o meu direito de dizer "sem comentários"?

J.P: Pode. E, só porque estou me sentindo complacente, não vou insistir no assunto. Falamos das crianças mais tarde. Conte-me sobre como chamaram o FBI a Fallpound.

B.C: Como eu disse, eles nos chamaram lá pelo quarto ou quinto mês após o primeiro assassinato.

J.P: E quantas pessoas havia na sua equipe?

B.C: Éramos cinco. Na época eu ainda era agente especial, e fiquei responsável por chefiar a equipe. O outro responsável era Watson. Yuri Watson. Você o entrevistou também, não foi?

J.P: Foi. Na semana passada. Mande minhas lembranças à mulher e à filha dele quando vê-lo de novo.

B.C: Com certeza. Enfim, minha equipe: além de Watson e eu, havia também dois agentes e um estagiário.

J.P: Pode me dizer os nomes deles? Para registro.

B.C: O estagiário se chamava Daniel Boulevard. Ele tinha 20 anos e era sua primeira missão em campo (suspiro). Ele não merecia o que aconteceu.

J.P: E os agentes?

B.C:Norman Grimmes e Sophia. Sophia Manning.    

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