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Chovia da última vez em que Chapman foi ao convento de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Naquela noite, uma Sophia de 15 anos esperava por ele em frente ao portão de entrada, sem nada para protegê-la do dilúvio que caía além de uma toca puxada sobre os cabelos escuros. Ela tremia de frio, encharcada, mas não correu para o carro quando Chapman estacionou. Simplesmente caminhou com passos lentos, puxando atrás de si uma pequena mala de rodinhas.

- Oi – ela disse depois de entrar no carro e bater a porta do passageiro.

- Oi – respondeu Chapman. – Você não me parece muito animada para alguém que está se mudando para Boston.

- Eu estou – ela arrancou a toca da cabeça, os cabelos escuros caindo bagunçados e molhados por sua testa. – Podemos ir?

- Cadê a Miranda?

- Eu já me despedi dela.

- E Pietra?

Ela rolou para ele seus grandes olhos verdes.

- Também já me despedi dela – respondeu Sophia. – Podemos ir?

Podia ser só impressão de Chapman, mas Sophia tinha o rosto um pouco inchado, como se estivesse chorando até pouco tempo atrás. Ela pingava chuva e tremia toda, batendo os dentes de frio. Chapman tirou o casaco que usava e o passou pelos ombros magros da garota, enrolando-o em torno do corpo dela como um cobertor.

- Coloque isso, ou vai pegar um resfriado – disse Chapman. – Você vai poder visitá-las sempre que quiser, Sophia.

- Eu sei – ela era tão pequena que quase desaparecia dentro do grande casaco dele. – Eu sei que posso voltar.

Mas ela nunca mais voltou.

Agora, tantos anos depois, não havia nenhuma Sophia esperando por Chapman em frente ao portão do convento. O que ele encontrou ao chegar de táxi foi uma viatura de polícia, com as luzes da sirene dançando na noite, e Grimmes parado ao lado do veículo. O garoto acenou desanimado para Chapman.

- Pode parar aqui – pediu Chapman ao taxista. Pagou o homem e desceu do táxi, levando consigo a mala que trouxera de Boston. Não tivera tempo de passar em um hotel antes de ir para o convento.

Grimmes adiantou-se para cumprimentá-lo.

- Tudo bem, chefe?

- Se o que Watson me contou for verdade, não está nada bem – disse Chapman e Grimmes encolheu-se, o que fez Chapman sentir-se culpado pela rispidez. – Desculpe, eu estou cansado.

- Todos estamos – disse Grimmes. – Watson está lá dentro, com o policial Cohen.

- E a perícia?

- Chegando – disse Grimmes. – Vamos, chefe. Quanto antes você ver isso, melhor.

Chapman não queria ver coisa alguma, fosse agora ou depois, mas não tinha muita escolha, por isso seguiu Grimmes para o pátio do convento. De madrugada, aquele lugar era apavorante, escuro e vazio. Os passos de Chapman e Grimmes ecoavam nos paralelepípedos como punhos esmurrando uma porta no meio da noite, e o estacionamento encontrava-se quase que completamente deserto. Ao em vez dos carros coloridos e das famílias sorridentes que costumavam encher o local, Chapman viu apenas viaturas com sirenes apagadas e policiais pálidos e agitados, que conversavam baixinho entre si. Não havia nenhuma faixa amarela para sinalizar a cena do crime, como a que fora colocada em frente à casa dos Straub, e Chapman também não viu ninguém da mídia. Pelo menos isso era um bom sinal, embora Chapman tivesse certeza de que os urubus fossem chegar logo. Eles sentiam de longe o cheiro da desgraça.

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