Com um movimento lento, Sophia colocou o telefone de volta no gancho. As pontas de seus dedos esquerdos estavam dormentes, em oposição ao toco no qual terminava seu braço direito, que queimava. A garota tinha certeza de que o ferimento tinha recomeçado a sangrar. Conseguia sentir o líquido quente espalhando-se por sob as ataduras, empastando-as de vermelho. Mas não havia tempo para trocar o curativo.
Não havia tempo para mais nada.
Ela voltou-se para Lívia, que a encarava com os olhos cheios de expectativa. As expressões nos rostos do agente Jonathan e de Lou Campbell, que continuava amarrado na cadeira, eram iguais: uma mistura de medo e curiosidade. Sophia mastigou o lábio inferior por um tempo e então pegou a pistola caída aos seus pés.
- Preciso ir – ela checou a munição da pistola e enfiou-a no cós do jeans. Pegou então o revólver de Lou Campbell, verificou o tambor, e guardou-o no bolso da jaqueta.
- Ir? – disse Lívia. – Sophia, você estava dizendo que sabe quem...
- E eu sei quem ele é. Mas isso não é importante agora – Sophia passou por Lívia e parou em frente a Lou Campbell, que ergueu os olhos para ela. – Você é o especialista em gente como eu. Há alguma forma de neutralizar os poderes dele?
- Neutralizar? – Lou Campbell estreitou os olhos e fez que não. – Se ele é mesmo especial como você diz, então não. Nunca conseguimos neutralizar os poderes de nenhum de vocês.
- Não por falta de tentar, aposto – disse Sophia.
Lou Campbell respirou fundo e assentiu. Deu um sorrisinho que pareceu genuinamente triste.
- Não por falta de tentar – ele disse. – Posso dizer uma coisa antes de você sair por aquela porta? – Sophia apenas encarou-o, a sobrancelha esquerda erguida. – Você é a mais especial que já encontramos. E não digo isso apenas por causa de seus dons extraordinários. Você... Você é diferente. Não sei explicar. Mas sei que, se há alguém capaz de parar esse monstro, essa pessoa é você.
A garota deitou a cabeça um pouco para o lado, encarando o par de olhos vermelhos e inchados no rosto machucado de Lou Campbell, tentando decidir se ele estava sendo sincero ou não. Optou por achar que sim.
- Quando eu voltar, desamarro você – disse Sophia, virando-se para o agente Jonathan. – Fique de olho nele.
- Pode deixar – Jonathan assentiu e estendeu a mão direita. Sophia franziu a testa, mas acabou apertando-a. – Vá pegá-lo.
Era a intenção dela, embora Sophia sentisse algo escuro crescer em seu peito a cada segundo que passava, uma sombra que duplicava de tamanho, depois triplicava. O medo, ela descobrira, tinha olhos amarelos.
- Sophia... – Lívia segurou a mão dela. – Tome cuidado lá fora, está bem? E ligue quando... Bom, você sabe.
- Ligar? – Sophia deu-lhe um sorriso trêmulo. – Estou indo atrás de um assassino, Livy, não para uma das minhas noitadas de adolescente.
- Sinto falta de quando a minha maior preocupação era você voltar bêbada para casa.
Lívia colocou uma mão de cada lado do rosto de Sophia, tampando as orelhas dela com as palmas, abafando o barulho do mundo exterior. Puxou-a para si e colou a testa na dela.
- Eu não poderia ter desejado uma filha melhor – disse.
- Não vai me pedir para ficar?
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A Voz da Escuridão.
Paranormal[Obra registrada na Biblioteca Nacional.] Um garoto de 8 anos é sequestrado e morto na pequena cidade de Fallpound, no interior dos Estados Unidos: o primeiro de uma série de assassinatos que assolou a região em 2009, cometida por uma seita satâ...