8

473 101 32
                                    

Quando o barulho da cachoeira fez-se ouvir entre as árvores, quebrando o silêncio do lugar com a falta de cerimônia de quem sempre estivera ali, todos eles congelaram. Norman Grimmes apontou para a esquerda.

- Vem dali. Vamos dar uma conferida?

- O xerife disse para seguirmos sempre em frente depois da estrada acidentada – disse Chapman.

- Podemos aproveitar para encher os cantis – disse Sophia Manning. Ela puxou do cinto o cantil de água e balançou, para anunciar que estava vazio. – Está um calor dos diabos aqui.

Chapman suspirou, esfregando o suor da testa. Era verdade: estava calor.

- Certo. Mas não podemos demorar.

Yuri Watson tirou um facão da mochila e o usou para talhar um "X" em uma árvore. Assim, saberiam a que ponto retomar o caminho em direção à tribo. Sophia e Grimmes foram na frente, tropeçando entre as raízes, seguidos pelos outros. O som da água despencando aumentava, ficando cada vez mais convidativo naquele calor. Enquanto andavam, Chapman consultou o relógio de pulso.

- Ei, Watson – chamou.

- Pois não, Sherlock.

- Engraçadinho – disse Chapman. – Temos 3 horas até o pôr-do-sol.

- Não vamos demorar muito na cachoeira.

- Não é a cachoeira que me preocupa. Olha só, você quer mesmo estar nessa floresta quando a noite cair?

Como se só notasse agora onde estava, Watson ergueu o rosto, apertando as pálpebras contra a luz do sol que penetrava as copas das árvores, e olhou em volta. Deve ter visto – ou sentido, o que era mais provável – algo que não gostou, porque estremeceu com uma careta.

- Muito bem! Muito bem! – Sophia, Daniel e Grimmes pararam e se viraram enquanto Yuri Watson ia até eles, batendo palmas para apressá-los. – Mais depressa. Vocês são agentes do FBI, e não crianças fazendo trilha em um acampamento de férias.

Acabou que, no fim das contas, não havia tanta necessidade assim de apressar ninguém: a cachoeira surgiu diante deles em pouco tempo, quando Grimmes arrancou do caminho um emaranhado de galhos. Àquela altura, o som da queda d'água era ensurdecedor, a ponto de fazer os agentes gritarem uns com os outros para serem escutados acima do barulho.

- Aí está! – disse Grimmes, afastando alguns galhos que ainda insistiam em barrar a passagem. Sophia passou correndo por ele e quase o derrubou no chão. – Meu Deus, garota.

Atrás do grupo, Chapman observou enquanto Sophia corria em direção à cachoeira e parava de supetão no meio do caminho, quase como se tivesse sido atingida por um soco invisível. Ela até mesmo levou as mãos à boca do estômago. Os outros – Grimmes, Daniel e até Watson, de repente entusiasmado com a ideia da água fresca e gelada – deixaram-na para trás. Chapman, no entanto, conhecia Sophia bem o suficiente para saber que algo estava errado.

- Sophia? – chamou.

- Não, não tome essa água! – Sophia gritou. Daniel, que já estava ajoelhado à beira do lago formado pela queda d'água e levando as mãos em concha à boca, deu um pulo e afastou-se da cachoeira. – Fiquem longe daí.

- O que foi? – Chapman estava ao lado dela agora. – Sophia?

Ela fez um gesto com o queixo para a cachoeira, apontando.

A Voz da Escuridão.Onde histórias criam vida. Descubra agora