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***

Se pensasse em todos os momentos da minha, provavelmente não estaria aqui. Provavelmente teria deixado esse momento passar e a dor seria a minha única companhia em uma tarde como essa. Para alguém que vive correndo de tudo, estava cedendo tempo a algo que para mim, era importante no momento. Não pensei que caminharia com um estranho por um parque, em uma cidade que penso conhecer, mas que na verdade não sei muito sobre.

Sempre que penso sobre Seoul, não sei bem dizer o que sei. Sei que vivo em um lugar cheio de momentos e emoções novas, mas nunca sei ao certo se tudo o que vejo é verdade ou condiz com a realidade que inventei em minha mente. Respirei fundo e aproveitei o silêncio que emanava da companhia de Kim, que por mais louco que fosse, me transmitia paz.

— Gostaria de congelar este momento para sempre. – murmurou, olhando para o horizonte em nossa frente. — Momentos assim são raros, mas tão excitantes quando acontecem, não acha? – pude ver o seu rosto se virar para mim.

Ele tinha uma certa razão, caminhamos por todo o parque e aos poucos me sentia cansada, a minha condição física era lastimável, precisava fazer algo a respeito ou teria um ataque cardíaco aos vinte e seis anos. Porém, ele tinha razão ao falar que momentos assim despertam excitação em pessoas como nós, comuns. É muito fácil se iludir com algo, quando a sua alma almeja isso. A ilusão é a forma mais doce de dor, quanto mais você se ilude, mais ferimentos você adquire.

— Confesso que adorei passar o dia contigo, foi relaxante. – respondi, assumindo que gostava da sua companhia. — É algo diferente do que costumo fazer quando venho aqui.

Se voltasse no tempo, não teria memórias de pessoas assim. Pessoas como Kim eram raras, e difíceis de encontrar. Não encontrei muitas pessoas que me proporcionaram momentos e sentimentos bons, por isso, estava aproveitando cada momento de paz ao seu lado. Se alguém te estende um coração puro, não o machuque da forma que machucaram o seu, quando ainda era puro.

— Eu também John, cada dia gosto mais de ti. – disse, me olhando com um sorriso nos lábios. — Sinto que estar ao seu lado é uma tarefa que preciso cumprir com muito esmero, você também sente isso? – os seus olhos brilhavam e pela sua expressão, ele queria ouvir o mesmo de mim.

— O sol irá se pôr. – murmurei, desviando o meu olhar para o horizonte. — É a melhor parte de um dia como esse, não acha? – a minha pergunta tola foi uma mera forma de desviar o tema para outro que não me obrigasse a mentir para ele.

Precisava evitar qualquer contato visual com ele, não podia me render a estes momentos. Não podia esquecer que mesmo estando ao lado de Kim, do outro lado, em algum lugar, outra pessoa procurava por mim e tentava incansavelmente me magoar de todas as formas possíveis. A minha dor não era algo temporário e eu não podia subestimar a sensibilidade do meu coração ao lidar com tanto sofrimento.

— Sim, fica comigo até ele se pôr? – pediu em sussurro, me arrancando dos meus pensamentos.

— Fico. – sussurrei.

O dia foi maravilhoso, nos conhecemos um pouco e eu gostei de estar ao seu lado. Conversamos sobre coisas normais e ao mesmo tempo, falamos sobre teorias que não fazem muito sentido. Kim se mostrou alguém de confiança, alguém que mesmo tendo uma posição diferente da sua, jamais usaria isso como vantagem para te ferir. Ficamos em silêncio vendo o pôr do sol. O céu azul encontrava com o vermelho do horizonte, fazendo uma cena de amor épica. O momento era perfeito e no fundo, não queria que ele acabasse. Queria ficar mais um pouco ao seu lado, pois, isso me fazia bem.

— Infelizmente esse momento não perdurará para sempre. – pude sentir o peso das suas palavras. — Nestes momentos, gostaria de dar stop no mundo e ficar assim por alguns anos. – senti o meu coração acelerar ao ouvir.

Seria possível concordar com as suas palavras? Eu mal o conhecia, mas dentro de mim, isso parecia normal e fazia sentido. Como se nos conhecêssemos de outras vidas e somente agora tivemos a oportunidade de nos encontrar, seria isso mesmo possível?

— Não significa que será a última vez. – respondi, o olhando. — Afinal de contas, você tem acampado por aqui e eu sei onde te encontrar. – pude ouvir um sorriso, mas não me atrevi a olhar em sua direção.

— Seria bom se fosse rotina, não acha? – indagou me fitando. — Achar alguém que nos completa deveria ser algo comum e todos poderiam ter acesso a isso, sentir estes momentos. – tremi ao ouvir. — Mas sim, espero que você não fuja de mim e espero que momentos como estes sejam corriqueiros em nossas vidas.

— Isso não é uma terapia, não exagere. – ele soltou uma gargalha ao ouvir. — Está falando como se o mundo fosse acabar em uma hora e nós dois nunca mais nos veríamos, então, não exagere.

Senti um arrepio ao ouvir as suas primeiras palavras, não queria falar a realidade para não o magoar. Não pretendia fugir, mas não sabia o rumo que as nossas vidas tomariam à partir de hoje. Não nos completávamos, isso era apenas uma ilusão que eu alimentaria até me fechar novamente e fugir da sua presença. Se não fugisse com as minhas próprias pernas, alguém me arrancaria da sua presença e isso era um fato, não um exagero.

— Quem sabe não conseguimos dar um jeito nisso. – respondi, o fitando de volta. — Tudo é possível, certo?

Queria saber tudo o que ele tinha para dizer, também gostaria de saber o motivo de ter salvado a sua vida. Segundo ele, salvei a sua vida e enquanto estes momentos não me magoassem, permaneceria ali. Se fosse arrancada da sua presença, gostaria de manter tudo o que ele é em minha mente. Ele poderia ser um amigo, alguém que eu possa lembrar em momentos de dor e fazer com que a minha morte, seja um pouco mais calma.

— Isso seria bom, poder fazer isso todos os dias. – murmurou. — Poder te ver todos os dias, não acha? – as suas palavras soavam como uma melodia.

Como se ele estivesse cantando para mim, era doce, tão doce.

— Amanhã, no mesmo horário. – afirmei, me levantando. — Se você assim deseja, podemos nos ver todos os dias. – o seu sorriso dobrou de tamanho ao ouvir.

Ele rapidamente se levantou e me olhou com carinho, esperando uma reação. Kim tinha os seus olhos do tamanho de uma uva roxa, e as suas pupilas estavam dilatadas até o máximo. Sempre que ele se sentia feliz, essa era a sua reação. Sorri de canto e tentei conter as minhas expressões faciais, não queria que ele se sentisse magoado comigo ou achasse que estava zombando da sua cara.

— Até amanhã John. – respondeu encolhendo os ombros.

A cada minuto, ele ficava mais fofo e o seu encanto estava tomando conta de mim, e isso me assustava.

— Sim. – respondi e sorrindo, ele se afastou de mim. — Ei Kim!? – gritei, chamando a sua atenção para mim.

— Sim John!? – ele parou e me olhou.

Me aproximei dele e sem falar nada, o envolvi em meus braços. Senti todo o seu perfume percorrer os meus sentidos e a sensação que me invadiu foi anestesiante. Sentir outro corpo contra o meu parecia uma realidade paralela e não era real, ele não me tocou, apenas sentiu os meus toques e antes de o deixar por completo, murmurei ao pé do seu ouvido.

— Meu nome é Alice. – sorri e o soltei, me virando de costas.

Me afastei sem olhar para trás, não queria ver a sua reação. Agi por impulso, mas adorei. Agora era tarde demais e não podia retirar as ações que tomei ao cruzar a linha do realismo. 

***

No Rules | Kim Taehyung ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora