Haunted

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Uma das necessidades da mente humana é entender tudo que acontece à sua volta. Em um mundo de milhões de anos e bilhões de habitantes não há sequer uma pessoa que entenda tudo. Por isso o conhecimento antigo é passado a cada geração. Entretanto ninguém pensa ou compreende as coisas da mesma forma, então quem pode nos garantir que o que sabemos e conhecemos hoje é a verdade? Quem pode separar o mito da verdade? E se a mensagem que os povos antigos estivessem tentando passar fosse outra?

Paris, 31 de outubro de 1864

Em um país como a França, quando existe medo na capital, existem grandes chances de se tornar pavor nacional. As mortes que fizeram a rua do Orfanato Pepot receber dos jornais o título Rue Sainx, são um excelente exemplo.

Mesmo sendo noite de Halloween e tendo visto o que vi há alguns dias, eu sigo pelos corredores estreitos, espalhando "Bonnes soirées" cada vez que encontro alguém. Quando viro na rua do orfanato sinto meu coração saltar ao ouvir um grito. O som é agudo e desesperado, como alguém precisando de ajuda. Corro na direção dele imaginando que seja alguma criança precisando de ajuda. Mas quando paro na frente do orfanato me deparo com um silêncio que só pode ser definido como de túmulo. Então me lembro da lenda:

Era a noite de Halloween de 1856 no orfanato. A Srª Pepot nunca gostou do dia das bruxas. Ela é religiosa e costumava dizer que era como comemorar a existência de demônios. Já Mary, dizia que as crianças tem que ver o lado positivo de comemorações. De qualquer jeito, eu só tinha sete anos quando a Srª Pepot reuniu todas as crianças para contar uma história:

- Dizem que esse orfanato foi construído em cima de um local de rituais satânicos. E que diversas feiticeiras morreram aqui em 1358. As bruxas em questão por vingança quiseram mandar seus pequenos amiguinhos do inferno para amaldiçoar esse lugar. E eles passam todo outubro observando o local.

"Quando Jean me contou isso, eu pedi que ele abandonasse a casa, mas ele não quis. Preferiu ficar por vocês. Por isso oramos todas as noites, crianças. Para nos protegermos deles. Nunca se sabe que demônio você vai encontrar aqui em outubro. E nunca se sabe o que ele vai fazer com vocês. É impossível fugir. Se acontecer com vocês, só peçam uma morte rápida. Assim poderão ser poupados de muita dor."

Não preciso dizer que não dormi aquela noite.

Abro a porta a minha frente com a voz de Srª Pepot, ecoando:

- É impossível fugir.

Ouço outra vez o grito desesperado, que agora me paralisa. Sinto meus olhos se encherem de um liquido que não consigo identificar e que os faz queimar. O liquido em questão escorre até meus lábios e ao tocar com a língua descubro que é exatamente o que temia. Posso sentir, gotas e mais gotas de meu sangue escorrerem através de meus olhos sujando meu vestido e até meus sapatos. Sei que pode ir embora se eu parar de chorar mas não consigo. A ideia de uma morte dolorosa e trágica aos quinze anos parece ridícula, até que ela seja iminente.

- Nunca se sabe que demônio você vai encontrar aqui em outubro. E nunca se sabe o que ele vai fazer com vocês.

Eu fecho os olhos tentando evitar as gotas de sangue que deixam a sala com cheiro de metal. Ouço passos na escada que me deixam tensa. E então paro de ouvir qualquer coisa.

Sou tomada por uma dor lancinante, como uma enxaqueca que parece vir de todos os meus ossos e se espalha por meu corpo me tirando todo o ar. Eu poderia gritar, mas dói tanto que minha boca não pode se mexer. Eu fico paralisada de dor.

- Se acontecer com vocês só peçam uma morte rápida. Assim poderão ser poupados de muita dor.

Eu começo uma lenta oração, entrecortada por pura agonia, pedindo para que pare. Então sou capturada por olhos azuis tão claros quanto o céu em um dia ensolarado.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora