Stregoica - IV

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Katerina

Persephone não ri apenas porque rir quebraria a imagem de si mesma que criava para nós. Selene, porém, precisa de esforço para prender a risada.

– Assim como Ellie, eu tenho minha própria maldição. Eu Sei. Não exatamente de tudo, mas eu tenho consciência de todo conhecimento que vou adquirir enquanto viver, porque eu sei tudo que vai acontecer em cada momento de minha existência. Sei o que significa cada marca em minha linha da vida. Eu recebi o nome da Deusa das Estações. A esposa de Hades e Rainha do Submundo. Eu conhecia meu destino desde que o ar tomou meus pulmões pela primeira vez.

– Como isso é possível? – Pergunto.

– É a Romênia. Existe todo tipo de criatura poderosa aqui. Bruxas brancas, bruxas negras, pessoas possuídas, vampiros, fantasmas e também videntes. Eu sou filha de uma bruxa com um vidente. Há algumas gerações, outra vidente viu que a responsável pela libertação teria olhos lilases. Quando eu nasci e abri os olhos, o clã teve 3 meses de festas.

– O clã? – Anika pergunta, subitamente interessada.

Persephone encara a parente distante.

– Nossa família é grande. Nós crescemos aqui, nos tornamos um clã e protegemos nossa terra e uns aos outros. Também nos misturamos, para nos tornarmos mais poderosas. Normalmente vivemos ao norte, mas meus pais trouxeram a mim e a Selene para estudar em Bucareste.

– Foi por isso que a família veio para a Romênia? – Pergunto. – Todo tipo de criaturas?

Ela dá de ombros.

– É uma das razões. Mas você é esperta, vai descobrir quais fora as outras muito em breve. – Ela faz um movimento de desprezo com a mão e eu posso jurar que uma corrente de vento atravessa a sala – Não é sobre minha família que eu quero falar agora, é sobre vocês. Vocês embarcaram de cabeça numa missão da qual não sabiam nem a metade e agora é tarde demais para voltar atrás. Quando Kat disse sim a Deyah, ela concordou com qualquer que fosse o plano dela desde que isso a trouxesse grandeza e a derrota do Inferno, ela nunca pensou nas consequências que isso traria para ela mesma.

– Ou talvez ela não se importasse. – Digo, falando sobre eu mesma na terceira pessoa.

– Você não se importaria com nada agora, mesmo se tentasse. A questão é que você não permanecerá assim para sempre. Você quer sua alma de volta e junto com ela todos os sentimentos, todas as cicatrizes, a solidão e a dor que você não sentiu pelos últimos quase 182 anos.

– Isso é uma desvantagem suportável para se ter poderes capazes de fazer o Inferno estremecer.

– Primeiro, você considera esses poderes muito mais do que eles realmente são. Segundo, você acha isso mesmo? Tenho certeza de que Ellie discorda de você.

Queria conseguir manter o olhar de Persephone, mas a menção a Ellie faz com que meus olhos corram até ela rapidamente. Ellie tem as pernas esticadas à sua frente e a cabeça baixa enquanto brinca com a corrente do colar distraidamente. Quando ouve seu nome, ergue os olhos até os meus. Ela nem precisa dizer nada, porque eu sei. Ellie tomaria a opção egoísta de trocar o conhecimento do Réquiem pela capacidade de não sentir outra vez sem pensar duas vezes. Ela detesta sentir e mais ainda ser dominada pelo que sente.

– Ellie é uma exceção. Ela foi amaldiçoada. – Pontuo. – Sophie tem a alma de volta há quase 100 anos e nunca teve motivos para se arrepender.

– Pois eu digo que Sophie é uma exceção. – Persephone rebate. – Ela nunca sentiu como o resto de nós sente. Sophie é efetivamente a única pessoa do Exército que matou alguém em vida.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora