Wild Ones - VIII

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Vatra Dornei, Romênia

26/27 de fevereiro

Eleanor

Já é noite alta e eu estou deitada no meio do barracão, de braços abertos e encarando o teto quando o fantasma aparece e tudo que consigo fazer é suspirar. Não é Deyah, mas sim uma faladeira vampira que morreu há muito mais tempo do que eu poderia imaginar. Às vezes eu queria que Kat não fosse tão firme sobre só conversarmos apenas na língua do país onde estamos. Se eu não fosse fluente em finlandês poderia apenas desligar a mente do falatório desenfreado do fantasma, mas entendendo tudo que ela fala fica um pouco difícil. Kat ouve meu suspiro e ri.

- Tem ficado um pouquinho entediante agora que eu não sou arrancada daqui para ser torturada todo dia não é? - Ela pergunta do canto onde está.

Me sento e olho para ela, enxergando-a com clareza de uma lua cheia que só agora começou a diminuir.

- Só um pouquinho. - Respondo, sorrindo.

No dia seguinte ao ataque oficial a Kat, eu me coloquei em frente à porta assim que ouvi passos dos vampiros do Clã se aproximando. Quando a porta foi aberta violentamente eu perguntei no mesmo instante se eles queriam ter o mesmo destino dos dois que vieram antes. Foi um ataque fraco, eu sabia muito bem que o que fizera no dia anterior tinha sido graças a um surto de adrenalina motivado pela raiva profunda que eu passei o dia fermentando. Eles também perceberam isso e estavam prestes a retrucar quando viram Kat sentada alguns metros atrás de mim. Eu poderia jurar que eles empalideceram, se não fosse tão improvável. O que quer que eles acreditavam sobre o Réquiem pareceu ter sido comprovado na forma como olharam para a vampirinha que sustentou o olhar como se sua existência fosse o milagre que eles acreditavam ser. Eles sussurraram um para os outros e saíram, nos deixando em paz pelos dias seguintes. Dois guardas voltaram a vigiar o barracão a todo tempo, mas de uma distância maior do que a que mantinham antes e sem falar nada o dia inteiro.

- A parte mais difícil é tentar não me obcecar pensando em como as meninas estão. - Digo, depois de alguns minutos.

É a vez de Kat suspirar.

- Elas têm Persephone e Sophie - bruxas poderosas e boas estrategistas. Além de Persephone conseguir prever perigos. As pedras não escureceram, elas estão bem.

- E por quanto tempo? E quão prejudicial isso pode ser para os nossos planos? Não estamos perdendo diversas janelas, presas aqui enquanto as meninas não têm como nos encontrar e não podem vir sem se colocar em perigo?

Kat limpa uma mancha de poeira no joelho, mesmo que nós duas estejamos completamente sujas. A situação dela está ainda pior, com o vestido destroçando e vários nós tentando mantê-lo no lugar.

- É exatamente a vontade deles, Ellie. Usar seus joguetes para nos distrair e fazer perder diversas janelas importantes. Mas não significa que não teremos como entrar depois disso. Precisamos de segurança, precisamos nos manter sãs. Quando acabarmos com as distrações o ataque será direto.

- Nosso ou deles? - Pergunto.

Seus olhos faíscam.

- Depende de quem achar onde a ruptura está primeiro.

Em resposta a isso, um trovão faz com que o barracão estremeça e eu reviro os olhos quando ela ri. As tentativas do Inferno de ficar lembrando que pode nos ouvir conseguem ser irritantes. Não adianta saber nossos planos e não conseguir fazer nada diretamente para impedi-los. Acreditem, eu saberia sobre conhecimento sem poder. E nesse ponto eu sei bem que o Inferno é mais palavras que ação.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora