Bem-vindas ao século XX - IV

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6 anos antes

Como Kat foi presa sem o diário, essa parte da história nunca foi documentada.

- Como bruxas conseguem identificar vampiros? – Sophie perguntou meio ofegante da caminhada.

O rosto dela estava mais corado e mais tranquilo do que havia estado durante meses. O fato de enfrentar bruxas malucas não dava medo, isso era tudo que ela havia feito por anos. Tudo que ela queria era saber o que acontecera com Charlottie e agora se sentia mais próxima disso.

- Você está 28 anos atrasada para essa pergunta. – Kat respondeu com uma risada.

- Muito engraçado, Katerina. É sério, como?

Ela deu de ombros.

- Existem várias formas, mas nesse caso acredito que um feitiço protege Cianne. Se ele está ligado às bruxas elas conseguem sentir invasores.

- Então nós estamos indo direto para o covil de um bando de bruxas preparadas para arrancar nossas cabeças antes que tenhamos tempo de fazer perguntas?

- Basicamente.

A essa altura elas avistaram o portal de Cianne e se viraram para chamar as outras cinco que andavam mais devagar. O frio cortava, mas elas andavam havia tanto tempo que seus corpos estavam suficientemente aquecidos.

Alguns dias foram necessários para se prepararem para ir a Cianne. Os complicados vestidos haviam sido trocados por modelos mais simples, as antigas bolsas de couro em que levavam as coisas importantes haviam sido substituídas por mochilas resistentes de lona e todas usavam sapatos confortáveis para longas caminhadas. A mudança de século era óbvia para qualquer um que olhasse.

Paradas em frente ao portal, então, as sete respiravam em uníssono. Podiam ver toda a cidade através dele. Cianne era cortada por uma estrada que subia morro acima até uma enorme igreja. Em volta da estrada uma infinidade de casinhas de madeira descansava à sombra da igreja, que era claramente o principal ponto da cidade, sua posição demonstrando que estava acima e protegia todos os habitantes de Cianne.

Kat sentiu um arrepio enquanto tentava entender como o feitiço funcionava. Não ia tentar entrar; aquele território pertencia às bruxas e as leis das bruxas podiam ser muito cruéis. O único jeito de conseguir alguma coisa seria se alguém saísse.

- Vamos montar um acampamento. – Kat disse, finalmente olhando para os olhos que a observavam, esperando por instruções.

Elas se entreolharam.

- Se for uma bruxa a sair, ela vai sentir nossa presença e atacar. – Foi Anika quem disse, demonstrando a preocupação geral.

- Se isso acontecer, nós precisamos estar em guarda. Elas não virão em grade grupo para não deixar a cidade desprotegida. Precisamos descansar para estarmos prontas para o que quer que aconteça.

Tendo dito isso, Kat se virou e foi para baixo de uma árvore na estrada, perto do portal, mas não o suficiente para oferecer perigo. Com um suspiro, as outras seis se juntaram a ela.

- Tem certeza de que aqui é seguro? – Ellie perguntou quando Kat se sentou.

- Essa árvore é muito antiga para oferecer proteção. A guarda delas é fornecida pelas pedras no portal. – Disse fazendo um gesto distraído, em direção às pedras preciosas diversas encravadas no portal de pedra.

Com isso, todas relaxam um pouco, mas continuaram hesitantes. Sentaram em um círculo e permitiram que o cansaço da viagem tomasse seus corpos.

Vampiros também se cansam, é claro. Seus corpos físicos continuavam funcionando normalmente depois de terem sua alma roubada. Só tinham seus sentidos e corpos aprimorados pelo mesmo motivo de que quando alguém perde um sentido, os outros se intensificam: ao perder seu lado espiritual, todo lado físico se aprimorava. Mas em algum lugar, a alma presa continuava clamando pelo corpo perdido e o corpo ouvia seus lamentos. Sem poder fazer nada para alcançar sua própria fonte de vida era necessário um pouco da vida alheia para sobreviver. Sangue.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora