Oceano Pacífico
1900
Entrada sem data no diário de Kat
- Qual o número?
A luz laranja do fim de tarde escorria pela janela minúscula do porão, anunciando o fim do dia.
Nós sete estávamos escondidas entre as bagagens de um navio que partia para os Estados Unidos. Ellie dormia sentada, a cabeça reclinada sobre uma caixa de madeira e as pernas dobradas ao lado do corpo. Sophie brincava com pingente do colar, os olhos sem foco enquanto pensava em Deus Sabe o quê. Anika era a única que não aparentava estar exausta, com os olhos atentos em Naomi, nossa nova máquina de perguntas, enquanto Valentina e Miranda cochilavam com a cabeça descansando em meus joelhos e ombro.
- Cinco. – Anika respondeu, os olhos brilhando com orgulho.
- Jura? – Naomi parecia pouco crente.
- Sim. E me lembro de cada um dos assassinatos.
Isso despertou seu interesse:
- Detalhe-os para mim.
Antes de começar, Anika lançou um olhar preocupado para Sophie, mas ela continuava distraída, agora enrolando a corrente nos dedos. Dando-se por satisfeita, começou a narrar suas histórias lentamente, descrevendo as mortes como um artista descreveria suas pinturas.
Annie havia sido ensinada como contar histórias desde pequena. Provavelmente entreteve a arquiduquesa da Áustria por anos com aquele mesmo ritmo de voz, palavras e sotaque. Fui relaxando conforme ouvia sobre as mortes. Havia estado presente em duas das cinco, que aconteceram enquanto viajávamos para o Japão. Ela contava de trás para frente, da última para as primeiras, as de Miranda e Valentina. Quando começou essas, as gêmeas já estavam em sono pesado.
- Miranda escolheu morrer por último porque tinha nascido por último. A irmã havia visto seu nascimento, ela veria sua morte. Eu vi justiça nisso. Tomei Valentina para mim e os olhos de Miranda se encheram de lágrimas. Quando a respiração de Valentina parou, as órbitas cor de areia de Miranda imploravam para se juntar a sua irmã. Não esperei muito tempo para realizar seu desejo.
Um tom de melancolia se instalou no barco quando a dramática história terminou de ser contada. Eu sabia muito bem que não havia sido assim. As meninas só pediram ajuda para fugir e provavelmente já estavam mortas antes que pudessem se dar conta. Anika bocejou e olhou para Naomi, mas os olhos de minha prima já estavam em minha direção, então Annie deu de ombros e se acomodou aos pés da garota cujo assassinato tinha acabado de descrever.
- Você sempre tem esse ar misterioso? – Naomi perguntou, apontando para mim com o dedinho.
- É uma das minhas marcas registradas, assim como os olhos verdes e o rostinho angelical.
Naomi sorriu.
- Mas não existem segredos em um grupo de vampiras.
Pigarreei, surpresa.
- Você conversou com Ellie.
- Eu sou nova aqui. – Disse, dando de ombros. – Tudo que sei é que ser vampira é perigoso. Preciso saber do máximo possível, logo preciso conversar com todas e escolher as alianças que vou firmar.
Naomi me surpreendeu ao acordar no cemitério. Nunca pensei que fosse se sentir tão bem como vampira e tão animada para uma nova vida. Levantou todas as minhas suspeitas. Ela continuava me surpreendendo a cada momento que passava conosco. Eu ainda estava na defensiva quando ela começou com todas as perguntas, que continuaram quando decidíamos pegar o primeiro barco para fora do Japão.
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As Crônicas de Kat - A História Completa
VampireConheça Katerina, uma vampira criada à força na Europa do século XIX por uma mãe bruxa desesperada em sua busca pela imortalidade e seus segredos. Kat sobreviveu por muito tempo se considerando nada além de um ser inferior do Inferno, destinada apen...