My Wild Heart Bleeds With Yours - VII

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São Petersburgo, Rússia

15 de junho de 1953

Diário de Kat

Se existe uma coisa que é fácil de encontrar é um detetive particular na Rússia. Eles estão em todos os lugares, nesses dias incertos onde ninguém sabe em quem pode confiar, prontos para pesquisar antecedentes de todas as pessoas, inclusive de crianças. Contratei um e pedi para que encontrasse a herdeira de Alenka Matrikov oferecendo muito dinheiro caso ela fosse encontrada e deixando claro que se não fosse ela, eu saberia. A verdade é que quando isso tudo estiver acabado, eu pretendo matá-lo.

Enquanto espero, acredito que eu deva escrever sobre o que aconteceu nos últimos anos. Pierre voltou a ser uma parte do grupo: Só que agora como prisioneiro. Não que faça muita diferença para ele. Nos atazanar se tornou seu objetivo de vida, ele que então não tinha nada para o que viver. A pessoa que ele mais tira do sério, é claro, é Ellie. Eu tive que deixá-la a cargo dos cuidados de Pierre, que nos últimos dez anos tem comido uma vez a cada três dias.

É claro que ele tentou encantar algumas das vampiras mais novas. Anika, que nutria um desprezo por Pierre desde que era humana e que tinha os sentimentos retribuídos pelo demônio, convenceu as gêmeas a não se aproximarem. Kaylee teria sido uma das maiores partidárias do bem-estar de Pierre, se Ellie não tivesse o envenenado para a amiga. Naomi tinha certo temor em ir contra os desejos de Ellie. Charlottie não tinha interesse algum em se aproximar.

Quando arrancamos tudo que podíamos de Pierre e organizamos como a prisão dele funcionaria, discuti com as meninas a ideia de transformar a descendente dele. Todas concordaram que era uma boa ideia, mesmo que tenham hesitado com a contrariedade de Ellie. Levei semanas para convencê-la das vantagens de ter a garota no nosso grupo e precisei da ajuda das vampiras dela. Pierre apenas suspirou quando ouviu o plano que tínhamos para transformar sua bisneta. Eu acreditava que não estivesse exatamente feliz em testar o Inferno outra vez, ajudando a destruir a linhagem que ele mesmo criara.

Resolvemos esperar o fim da guerra para organizar a viagem à Rússia. Isso durou dois anos e como se sabe, quando isso aconteceu, as viagens entre países da Europa se tornaram um pouco mais difíceis do que eram quando eu nasci. Pela primeira vez, nós realmente precisamos de dinheiro. Dinheiro de verdade, em notas. Foi-se a época em que o poder estava em títulos ou em concessões. Agora sem dinheiro não se faz mais nada.

Nossos pequenos golpes tomaram algum tempo. Hipnose ajudou é claro, mas queríamos fazer aquilo sem deixar muitos rastros. Roubamos como especialistas nos primeiros anos e usamos todo o dinheiro como investimento para conseguimos documentos de diversos países, com diversas datas de nascimento. Nesse período de fim de guerra, é fácil encontrar formas de falsificar diversos documentos com tudo que precisávamos para criar uma vida para nós. Abrimos três contas em bancos suíços que estavam mais do que satisfeitos em receber nosso dinheiro: uma no nome de Ellie, uma no nome de Sophie e uma no nome de Kaylee – as três de nós que podíamos passar por adultas. Ninguém faz perguntas quando você mostra muito dinheiro em dólares. E se fizerem, para tudo se dá um jeito.

Conseguimos uma pequena fortuna nos cinco anos que tiramos para isso. Aquilo era excitante como pouquíssimas coisas para nós. Agir como pequenas empresárias descobrindo o mistério do dinheiro deixava tudo tão emocionante que quase nos esquecemos que ainda precisamos de quatro vampiras para completar o Exército e cumprir uma missão.

Foi nessa época que criamos uma nova forma de nos distinguir como grupo. Resolvemos usar pedras preciosas em correntes de ouro no pescoço: eu escolhi uma esmeralda, Ellie uma safira azul, Sophie lápis-lazúli que foi copiada em tamanho menor no pescoço de Charlottie, as gêmeas escolheram cada uma um diamante, um rosa e outro azul, Anika uma ametista, Kaylee um rubi e Naomi um topázio amarelo.

Quando nós estávamos com dinheiro suficiente para comprar um pequeno país e as aplicações fantasmas começaram a se tornar entediantes, planejamos nossa viagem para a Rússia. Isso foi complicado. Não era uma boa ideia ir para a Rússia aparentando ser rica. Passamos um bom tempo pensamos em como entraríamos no país sem chamar mais atenção que o necessário. O trem era a melhor opção. Pegaríamos um até Budapeste e dois dias depois, outro até São Petersburgo. A família da esposa de Pierre era de lá e a cidade também era menos óbvia que Moscou. Ellie nos liderou nesse processo. Contávamos com o russo dela, que treinou comigo por semanas, para responder a qualquer pergunta que precisássemos responder. Os documentos que portávamos não pareciam nada falsos, pelo contrário, eram mais realistas que o esperado.

Mas nenhuma dessas preparações evitou que nós ficássemos ansiosas para o momento da viagem. O mundo era um lugar diferente, perigoso. Nós que éramos as caçadoras desde sempre, agora nos escondíamos da caça, porque sua mente se mostrou mais perigosa do que qualquer força que pudéssemos ter.

De uma forma ou de outra, acabamos chegando a São Petersburgo vivas. Certo, vivOs. Pierre veio junto apesar de Ellie ter sido contra isso com todas as forças. Não tínhamos como deixar ele para trás e muito menos deixaríamos algumas de nós para trás para servir de babá de demônio. Além disso, ele teria mais serventia conosco e isso até Ellie teve de admitir.

Nos alojamos em uma casa pequena, no meio de uma vila de operários. As meninas detestaram. Não que a riqueza tenha subido a cabeça, mas somos dez e sempre dá uma confusão danada dividir dois quartos. Especialmente quando ninguém quer ficar no mesmo quarto que Pierre, que também não pode ficar na sala, porque representaria perigo. O passatempo preferido em nosso novo abrigo era imaginar as casas em que viveríamos quando pudéssemos usufruir de nossa riqueza sem restrições.

A animação pelo "bem maior" já era passado.

18 de junho

Diário de Kat

- Isso demorou. – Reclamei quando o vigarista detetive que contratara apareceu ontem de madrugada com as informações que eu pedira.

- Você não faz ideia de quanto é difícil encontrar uma ex-família rica na Rússia de hoje? Todas as famílias espertas estão dando um jeito de aparecer do mapa. Você sabe bem disso já que está enfurnada em uma casa dessas quando poderia estar em qualquer lugar.

Cruzei os braços. Estávamos na soleira da porta. Qualquer um poderia ouvir aquilo, sendo noite alta ou não.

- Que tal calar a boca e me dar os documentos?

Ele me entregou o envelope de papel com cuidado. Abri e vislumbrei uma foto e cópias de alguns documentos importantes. Dediquei os segundos seguintes a decidir se mataria aquele homem ou não. Resolvi que estava com sede. Dois minutos depois voltei para dentro da casa, onde o Exército se amontoava esperando por minhas boas notícias.

- Meu Deus, Kat, tem sangue escorrendo por seu queixo. – Anika reclamou, brincando com seu pingente.

Esfreguei o rosto.

- Desculpem. Eu tive que fazer tudo muito rápido. Esse toque de recolher é um grande problema para os negócios.

- Tá, tá, tanto faz. – Naomi disse, revirando os olhos. – Ele trouxe o que você queria?

- Ele encontrou uma garota. – Enfatizei - Aparentemente descendente de Alenka. Mas só saberemos quando a encontramos, certo?

Uma batida foi ouvida vinda da porta do quarto de Pierre.

- Eu saberia dizer se pudesse ver isso, não? Afinal, ela é minha bisneta.

Apertei o envelope contra o peito ao ouvir a voz dele. O mesmo foi arrancado de minhas mãos sem cerimônia.

- Vamos acabar logo com isso. – Ellie chiou enquanto retirava os papéis do envelope. Encarou o que via e depois atirou os papéis no chão com um suspiro. – É ela.

Nos aproximamos do papel com cuidado. É claro que era ela. Exceto pelos olhos, ela era idêntica a tataravó.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora