Lullaby - V

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21 de agosto

Valentina

Ela que é Sol, Areia

Que percorre o Topo ao Fundo de uma ampulheta

Dona de pureza amedrontada, derrama Sangue sobre as Estrelas

Sem nunca errar o Objetivo que almeja

E se torna a Dominante

Lado Escuro, Yang

Eu posso sentir a caixa vibrar quando atravesso o portãozinho até a entrada a mansão.

– Bruxa idiota. – Resmungo, realocando a caixa para trocar a campainha.

Persephone abre a porta e toma a caixa de mim antes que meu dedo alcance o botão.

– Ei, calma aí. – Reclamo, a seguindo para dentro da casa.

– O que você ainda quer? – Ela pergunta sem se virar para mim, andando pelo longo corredor, agarrada à caixa de sapato como se fosse um objeto vivo que precisa proteger a qualquer custo.

E ela é quase isso.

– A confirmação da sua parte do combinado. – Respondo.

Persephone se vira e seus olhos faíscam roxo na minha direção.

– Venha comigo. – Diz.

A sigo até a sala de estudos no fundo da casa. Uma pontada corta meu corpo ao entrar ali. É a primeira vez que volto à sala desde que Miranda morreu. Aquele lugar era o preferido dela em Bucareste, foi onde ela descobriu tantos dos segredos que me contou... Segredos que me fizeram roubar o corpo da mãe de Persephone e estar aqui agora, fazendo a última coisa que preciso fazer antes da batalha final.

Persephone vai até uma cômoda do outro lado da sala e pega um chaveiro. Segue então para um armário e faz sinal para que eu me aproxime, tudo isso sem largar a caixa de sapatos. A segura com tanta força que partes de seu braço perdem a cor. Queria poder dizer que me importo em ter causado tanto sofrimento a ela. Mas não. Eu não sinto nada. E não vou sentir de novo. Essa parte eu aceito sem dificuldade.

O armário é aberto e dezenas de frascos de vidro com amostras de sangue se mostram diante de nós. O sangue é escuro, o vermelho quase imperceptível sem a luz do sol para iluminá-lo. Todas as amostras estão identificadas, mas não com nomes, com localizações. Foram obsessivamente organizadas por proximidade geográfica e eu consigo ver muitos países que visitei e alguns que não tive a oportunidade. Estico a mão e pego um vasinho que diz ser do Quênia. Persephone me observa admirar a amostra antes de suspirar com impaciência.

– Eu vou precisar beber tudo isso? – Pergunto, colocando a amostra no lugar.

– Você com certeza já bebeu mais que isso. – Ela responde.

– Não de sangue de vampiro.

– Se você quiser representar todas essas almas em sua liberdade, precisa fazer beber tudo isso de sangue de vampiro. – Ela confirma, dando de ombros.

– E onde está a dela?

O olhar de Persephone se anuvia. A dureza que demonstra diminui quando ela pensa em Miranda. Miranda era a única pessoa do Exército por quem Persephone possuía carinho e mesmo que sejamos idênticas, ela certamente não vê minha irmã em mim.

Ao invés de pegar o pote com as mãos, ela toca o pequeno crucifixo com as doze pedras que carrega no pescoço. Uma amostra de sangue vem voando na direção dela e para diante de seus olhos. Fico observando ela encarar o frasco por quase um minuto, antes de soltar o crucifixo e pegá-lo no ar. Passa ele para as minhas mãos imediatamente, como se ele estivesse pegando fogo.

– As amostras de Naomi e Charlottie também estão aí, apesar de eu duvidar que Naomi possa ser salva no Inferno. – Ela diz, ansiosa para encerrar o assunto.

– O que isso quer dizer? – Pergunto, franzindo o cenho.

Persephone vai responder, mas depois dá de ombros. Abre a caixa que carrega apenas um pouco para conferir os ossos e então faz como se fosse sair.

– Feixe a porta ao sair. – Ela diz, já se encaminhando para a porta.

– Persephone. – Chamo, de onde estou – Onde estão as outras dez amostras?

Persephone olha para mim apenas de relance antes de abrir um sorriso misterioso para a luz do sol lá fora.

– Onde eu preciso que estejam.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora