Afterworlds - II

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Piatra Neamţ, Romênia

15 de outubro

Anika

Coloco as mãos sobre a porta de madeira, como se a conhecesse. Como se pudesse pedir que ela me dissesse o que está acontecendo lá dentro e pedir que abrisse diante de mim e ela fizesse isso de bom grado. Claro que eu poderia fazer isso, mas não quero, não ainda.

Olívia toca meu ombro e Selene aperta meu braço, uma de cada lado, impacientes. Fecho os olhos para não ver seus pedidos.

A primeira lua sangrenta veio e foi embora e eu não fiz nada. Fiquei da minha cama, a observando com os olhos bem abertos, durante toda a noite. Quando ela saiu do meu campo de visão, me levantei e fui para a sala, acompanhada por um fantasma conhecido. Continuei a observando da sala, com a janela aberta e o vento de outono me fazendo tremer. Não tirei os olhos dela e em cada segundo que passava, eu sabia que poderia fazer. Poderia recusar meus direitos e validar a linhagem de Persephone e de Selene. Podia fazer de Selene a garota da previsão de Persephone. Mas não fiz.

Quando o sol começou a despontar no céu, eu deixei que o Destino falasse comigo e me permitir ter minha primeira previsão. Quando o dia ficou claro, eu já tinha empacotado tudo que precisava de importante e estava na sala da casa, diante do Exército, implorando para que fossem comigo. Algumas das meninas queriam ir, mas Kat disse que não. Eu não precisava de um Exército para conhecer minha família. Elas iriam apenas quando eu estivesse pronta. Repeti o pedido e apenas Olívia aceitou e foi autorizada a vir.

Rowan nos trouxe em um dos carros de Persephone, já que a dona dele nunca aprendeu a dirigir e não acha lógico fazer isso em seus últimos três meses de consciência. Eu disse ao antigo oráculo que não queria sua casa, e que ela podia fazer o que quisesse com ela. Rowan se mudou para Bucareste para estudar, começará um curso na faculdade. Disse que estaria pronta para me ensinar o que eu precisasse em minha nova função. Eu podia ver uma tranquilidade dela, a leveza de ter sido libertada de sua sina, de seu Destino maior. Algo que Persephone nunca teria. E nem eu.

Me instalei em um hotel no centro e por onde passava, bruxas me saudavam e sorriam. Antes que eu pudesse tomar um banho e planejar minha vida, uma mensagem chegou: O conselho de bruxas esperava por mim. As bruxas e as videntes mais importantes da cidade me aguardavam num salão no subsolo do museu. Ou como Sophie me descreveu quando veio até aqui para pedir às bruxas que nos deixassem ficar, um centro de convenções para uma família tão antiga quanto a própria cidade.

Minhas mãos pressionam a madeira com mais força. É de uma árvore de tramazeira, madeira vermelha. Sábias são as videntes que se cercam de tramazeiras. Bem-aventuradas aquelas que temem o Destino. Malditas aquelas que tentam ser mais inteligentes que ele.

É a hora. Eu toco a ametista sobre meu peito e sinto lágrimas se formarem em meus olhos. Eu preciso de um Exército, sim, Kat. Preciso do meu Exército. O meu clã de verdade.

Um cristal de lágrima escorre por minha bochecha quando eu abro a porta. Cada vidente, bruxa, humano ou qualquer outra criatura lá dentro se levanta e me segue com os olhos. Eu devo parecer uma bela figura principesca neste momento, com a ferocidade de uma vampira e o rosto lacrimoso de uma alma amaldiçoada. Pergunto a mim mesma porque estou fazendo isso, se é o que eu realmente quero. Por que eu estive tão perto de vencer o Destino e não o fiz?

Caminho até o púlpito, o altar erguido para Deus sabe quem. Olívia e Selene estão em meu encalço, como minhas damas de companhia. Como se uma lembrança repentina tomasse conta do meu ser, eu ajeito a postura, ergo a cabeça e direciono meu olhar a todos e a ninguém ao mesmo tempo. Olho para elas, as bruxas e videntes, todas minhas irmãs de sangue e completas desconhecidas como se jurasse todos os juramentos de vassalaria.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora