I Coríntios 15:25-26 - III

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14 de março

Anika

Fico surpresa ao saber que mais ninguém quer voltar a Piatra Neamț. Quando Kat anuncia a visita à cidade para conhecer o oráculo - a vidente mais poderosa do clã de Persephone - e diz que apenas eu, Olívia, Ellie e Juliana iremos, quase ninguém mostra algum tipo de descontentamento. A única a fazê-lo é Sophie, mas Sophie reclamaria por ser excluída em qualquer situação e a explicação de Persephone de que o próprio oráculo escolheu quem deveria ir, faz com que ela se resigne.

Às duas da tarde, eu estou parada na varanda da casa de vidro esperando por quem irá. A primeira a aparecer é Olívia, que já chega mexendo nervosamente em uma linha solta da barra do vestido preto que usa. Ela apenas balança a cabeça quando me vê e depois fica parada ao meu lado, imóvel como se tivesse olhado nos olhos de Medusa. Kat e Ellie chegam em seguida, silenciosas. Elas ainda andam sempre juntas e muitas vezes ficam sozinhas em salas de portas fechadas, mas nenhuma de nós as vê conversando em público. Juliana pipoca do nosso lado, quase como uma aparição, mais animada e curiosa do que preocupada. E finalmente, Persephone chega com Selene, a última tão animada quanto Ju, mas a primeira parecendo exausta. Ela precisou pedir permissão para que nós entremos na cidade outra vez e isso causou muito caos. Eu provavelmente deveria dizer "permissão para que as meninas entrem". Ao que tudo indica, minha permissão não foi revogada, já que meu retorno era esperado. A sensação de pertencimento me toma outra vez ao pensar sobre isso. Elas sabem de algo que eu não sei e eu sinto que Deyah também sabe. Só espero que oráculo conheça uma forma de me fazer conversar com Deyah.

- Prontas? - É tudo que Persephone diz, e antes que respondamos, indica a estrada de terra e começar a caminhar conosco.

Atravessamos a fronteira de Piatra às duas e quarenta e cinco. Diversas pessoas se viram na rua e cabeças aparecem pelas janelas de casas para observar nossos passos, sentindo a quebra do solo sagrado no ar. Persephone treme a cada olhar, mas não retribui nenhum deles. Andamos em silêncio e em formação, calmas e atentas. Quase uma hora depois de entrarmos na cidade, Persephone se aproxima de uma casinha amarela cercada e abre o portãozinho da cerca. O jardim da frente é tomado de arvorezinhas com frutas vermelhas que eu não reconheço de primeira e um caminho de pedrinhas, que Selene pula, leva à varanda.

As primeiras três batidas de Persephone não têm resposta. As cinco subsequentes também não.

- Pensei que você tivesse avisado que nós viríamos. - Kat diz.

- E ela não poderia prever isso de qualquer forma? - Ellie completa.

Juliana ri baixinho e Persephone suspira.

- Vocês duas estão certas. O que quer dizer que eu prevejo uma entrada dramática.

Mal ela fecha a boca, uma aparição ruiva surge à lateral direita da casa, fazendo com que todo mundo se vire ao mesmo tempo.

- Uma garota não pode ser uma vidente e ter uma paixão pelo teatro ao mesmo tempo, Persephone? Mas sem aparições dramáticas de minha parte hoje, eu estava apenas colhendo folhas para fazer chá para as visitas. Não é todo dia que você recebe a maior profecia do seu clã na porta de casa.

Quando ela termina de falar, já está parada à nossa frente, com uma cesta de folhas de chá para comprovar suas palavras. É a jovem com os cabelos mais vermelhos em que já coloquei os olhos, mas tirando isso e os olhos castanhos, ela poderia ser irmã de Persephone. As feições são idênticas e a pele tem o mesmo tom quase brilhante no sol.

- Rowan. - Ela se apresenta, olhando para Kat.

- Katerina. Essas são - A vampirinha aponta - Olívia, Juliana, Ellie e Anika.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora