Lullaby - IV

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12 de agosto

Eleanor

Ela que é Canção

Que Entende, que Vê, que Indica

Tranca das Estrelas

Subjugada pelo peso de seu próprio Coração

Ama almas condenadas a só entender a Adoração

E se torna prisioneira de suas próprias Feridas

Chave; Réquiem

– Nós precisamos contar a elas, não precisamos?

Não respondo de imediato. Permaneço com os olhos fechados e o rosto virado para o céu. Deixo que os raios de sol tomem meu corpo, o aquecendo. Não me importo que esteja suada ou que esteja tão quente que fico um pouco tonta. A sensação é boa. O calor me deixa confortável. Meus dedos se entrelaçam na grama embaixo deles e me impulsionam um pouco para cima, me deixando centímetros mais perto da luz e do calor. Eles fazem com que eu me sinta mais viva.

Dedos frios tocam meu braço, onde eu sei que uma veia se destaca, e de repente eu me torno consciente do meu redor. Da presença de Kat. Do olhar de Kat. Seu olhar adorador que vê na minha imagem algo que eu não consigo compreender e não poderia descrever. Seu olhar me deixa fria. Faz com que correntes geladas atravessem meu corpo. Eu queria que ela entendesse o que me faz sentir. Queria que nos sentíssemos do mesmo jeito.

– Precisamos. – Digo, sem abrir os olhos. Seus dedos contra minha pele já indicam como ela olha para mim, não preciso ver seus olhos.

– Você acha que elas vão entender? – Kat pergunta, a voz falhando – Que fará sentido para elas?

– Depois de tudo que aconteceu? – Digo, me segurando para não tremer com um calafrio. – Duvido que se importem.

Kat tira a mão de mim e suspira. Aproveito para me deitar contra a grama macia e relaxar à luz do sol.

– Sei que estou sendo paranoica. – Ela diz, muito tempo depois – Mas Ellie, eu continuo vendo os designíos do Destino se desenrolando na minha frente e isso tem me dado uma sensação de impotência como nunca experimentei antes. Eu não quero perder mais ninguém. Não quero que o Exército se separe quando tudo terminar, justamente por consequência da guerra.

Uma leve irritação atravessa meu corpo. O desejo cortante de ficar sozinha, com meus próprios pensamentos, misturado à raiva de ter que ajudar Kat novamente. Eu não quero ajudar Kat, não quero dizer que vai ficar tudo bem, não quero tirar dela medos e dúvidas. Tenho meus próprios medos e dúvidas, muito mais intensos que os dela, naturalmente. Quero dizer tudo isso a ela, mas qualquer sentimento ruim evapora quando abro os olhos e ao se adaptarem a luz a primeira coisa que eles veem é ela. Olhando para mim de cima, com o rosto inclinado na minha direção e os cachinhos caindo sobre a bochecha.

– Cada uma de nós está lutando contra os próprios demônios. – É o que respondo, quase sem me mexer. – E algumas podem perder.

– Eu queria poder destruir todos eles com as próprias mãos. – Ela diz, suave.

– Katerina, se você pudesse vencer todas as guerras sozinha, não precisaria de um Exército.

Kat suspira novamente. Então se deita ao meu lado e abre um sorriso na minha direção.

– E quanto a você? Quais são seus planos para depois da guerra?

– Não tenho plano algum. – Minha voz soa firme.

– Nenhum?

– Não.

– Então não me deixará? Nunca?

Como responder a isso? Com o que desejo? Com a verdade? Com o que ela quer ouvir?

– Não está escrito que farei isso. – É o que consigo dizer.

– Arg. – Kat resmunga, franzindo o nariz. – Não suporto mais esta frase.

– Então paremos de falar sobre o futuro e sobre o Destino. – Peço. – Pense no aqui e agora, Kat. Hoje é um dia lindo, você não tem coisa alguma a fazer e mais de um mês até que a batalha final aconteça.

Kat concorda com a cabeça e fecha os olhos aproveitando o sol como eu fazia há alguns minutos. Fico a observando de olhos fechados, como um anjinho de afresco, inocente como quando dorme. Meus sentimentos por ela mudam quando ela está assim. É algo na vivacidade de seus olhos e sua expressão, a maturidade de quase 172 anos além do que aparenta ter que me fascinam e atraem. Toco seu rosto e afasto um cacho para o lado. Ela abre os olhos, não por causa do toque, mas por meu pulso estar tão próximo de seu faro.

Aqui está. Meu pequeno demônio. Minha Katerina.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora