Lágrimas de Gelo - VI

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2 de janeiro

Diário de Juliana

- Um demônio foi possuído por um demônio? – Louise perguntava, aparentando confusão. – Você nem está dizendo coisa com coisa, Juliana. Precisa é de uma boa noite de sono.

Louise havia acabado de me contar sobre sua conversa com Katerina na noite de ano novo. Eu, com cuidado, contei o que aconteceu com Pierre naquela noite.

- Você não entende. Teria que ter estado lá para entender.

- Só estou dizendo que não faz sentido você ter presenciado isso tudo e elas não terem matado você.

- Por que não? Se todo mundo para quem eu desabafar tiver a mesma reação que você.

- Ok, ok. Faz sentido. Me conte de novo. O que exatamente aconteceu quando levaram o corpo de Pierre para a sala de jantar?

Contei a história novamente, descrevendo tudo que me lembrava. Louise pegou um bloco de notas e uma caneta.

- Certo. Então Pierre foi possuído por um demônio que acordou chamando Katerina pelo nome e a própria disse que já esperava uma visita do Inferno há 97 anos. Disso concluímos que: Katerina deve ter mais de 100 anos; Katerina tem contato com o Inferno e... Porcaria nenhuma. Elas não são criaturas demoníacas, como eu já disse. Eu teria percebido, mas a energia lá é perfeitamente normal, com exceção da presença de Pierre. A menos que...

Louise ficou em silêncio. O que me deixou impaciente.

- A menos que o que? – Perguntei, cansada.

- A menos que a energia pura de alguém lá dentro anule a energia demoníaca das outras. Elas têm outro prisioneiro?

- Que eu saiba não.

- E não é a sua... Então de quem será?

Diário de Kat

- Sophie, Sophie, Sooooooophieeeeeeeeeeeee... – Os gritos vinham de Charlottie e as gêmeas que desciam as escadas correndo.

Elas invadiram a sala de jantar onde eu e Sophie conversávamos e trocávamos a toalha de mesa, empurrando a porta com tanta força que ela atingiu a parede. Cada uma carregava um ramo de árvore com uma flor diferente na ponta.

- Calma! – Sophie gritou, mas estava sorrindo.

- Nós estávamos pensando sobre o que Abadom disse. – Valentina começou, ofegante.

- Ele disse que você era a única completamente livre do domínio do Inferno. – Miranda continuou, ainda respirando rápido.

- E nós sabemos que o plano de Deyah era deixar as pessoas exatamente iguais a como elas eram em vida, só que sem as fraquezas.

- Onde vocês querem chegar? – Sophie perguntou, intrigada.

As gêmeas abriram a boca, mas Charlottie ergueu os braços fazendo com que elas se calassem.

- Você já tentou fazer algum feitiço depois que sua alma voltou? – Perguntou a versão menor de Sophie olhando nos olhos da irmã.

- Não, acho que a natureza ainda não me reconhece. – Sophie respondeu, com o mesmo olhar frustrado que vi nela em Graz.

- Acha ou tem certeza?

Ela ergueu a sobrancelha.

- Ach...

Antes que ela terminasse de falar os três galhos foram apontados para ela.

- Você não saberia de verdade, não é? – Charlottie disse, mordendo o lábio. – A sensação de estar viva outra vez, de ter sua alma em liberdade é inebriante o suficiente para ser confundida com outras sensações. Você pode estar enferrujada, mas se lembra desse feitiço. Eu ensinei ele a você.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora