Nosferatu - IV

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Graz, Áustria

15 de novembro de 1880

Diário de Kat

São divergentes os sentimentos que eu tenho em relação a Graz e à cabana onde eu morava. Graz, que eu costumava odiar, agora parece uma cidade suave e elegante onde eu me sinto poderosa. Enquanto a cabana, me dá nos nervos. Especialmente quando vi o rastro de sangue em forma de um pentagrama no chão, em frente à cabana. Já faz 36 anos. Isso é nojento.

- Oi, mamãe! – Foi a primeira coisa que eu disse subitamente quando entrei pela cozinha e encontrei a tal fazendo comida.

O susto que ela tentou disfarçar foi tudo que eu precisava ver: o feitiço que dava minha localização para ela havia sido quebrado.

- Katerina! Veio para as festas?

- Com certeza eu espero ter algo para festejar até o Natal.

Jocelyn sorriu, já costumada com minhas ameaças. Eu a observei. Ela continua lindíssima, eternamente aos 28 anos, mesmo que já conte 64. Era isso que eu tinha lhe dado ao ser sua parte do acordo: ela teria juventude, beleza e poder ilimitado enquanto sua Katerina – seu sacrifício imaculado e inocente – estivesse trabalhando para o Inferno.

- Você sabe o que acontece quando se mexe com alguém protegido por sacrifícios, Katerina.

Ela balançou a mão. Sua mão esquerda estava cheias de feridas em um tom de roxo nojento, graças à primeira vez que tentou me matar depois que me tornei vampira. Iria ficar assim para sempre.

- Ah, eu sei sim, e essa é a questão. – Jocelyn ergueu a sobrancelha – Eu estou amaldiçoada. Acabei encontrando com a Morte na França há alguns anos e ela me cobrou o que foi tirado dela.

- E... ?

- Uma vida se paga com outra vida.

Fora de Bistriz, Romênia

Natal de 1874

Se Kat estava certa, o acampamento ficava a 2 quilômetros dali. Era óbvio que ela não se aproximaria mais do que aquilo, mas precisava encontrar Deyah o mais rápido possível. Esperava no meio da floresta, na forma de gato, até que finalmente viu as sombras que se esgueiravam pela floresta e seguiu sua direção.

Os vampiros do grupo de Deyah, primeiro clã de Kat, eram como uma corte: se consideravam os reis dos vampiros. Eram 17 no total, de diversos países do mundo, mas todos haviam adotado a Romênia como lar. Micah, um dos primeiros vampiros, saiu em busca de vampiros brilhantes para reunir durante cinco séculos. Depois disso, ele tinha fama o suficiente para ser procurado. Só os mais poderosos e com mais prestígio no Inferno permaneciam ali. Por isso Jocelyn mandara a filha até a Romênia, para tentar se unir ao grupo. E Kat só precisou de 24 horas para saber que mesmo estando cercada de vampiros 10 vezes mais velhos que ela, a única que era realmente mais brilhante que ela era Deyah.

Deyah era uma das centenas de crias do primeiro vampiro, mas só dizia isso para os realmente próximos dela. Ela aproveitava cada segundo da vida para aprender coisas e naquele momento seu conhecimento era tão vasto que Kat sabia que mesmo sendo só uma vampira, ela era quase invencível. Deyah era também a única que não tentou matar Kat quando soube que ela tinha sido transformada por magia negra e até a ajudou a fugir desde que ela prometesse não voltar. E lá estava ela, quebrando a promessa.

O grupo estava saindo de Bistriz e indo em direção ao sul. Todos estavam animados e meio tontos depois de uma diversão natalina a la strigoi e por isso andavam. Kat se aproximou sem pressa e para chamar atenção de Deyah, enfiou uma garra nos pés brancos e descalços. A vampira xingou em romeno e olhou para baixo, arregalando os olhos escuros quando reconheceu Kat no gato.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora