Entre todos os demônios do Inferno - III

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25 de outubro

Anika

Quando entramos as 13 no salão da casa onde acontece a reunião dos Apreciadores, eu tenho flashback vívido do momento em entramos no salão da Mansão Hass, para onde levamos os membros de todos os grupos de estudos sobre vampiros, há quase 18 anos. Assim como naquele dia, estamos todas de vestidos de época, costurados pela própria Ellie e com nossas pedras preciosas adornando os pescoços. Assim como naquele dia, isso tudo é um show, uma demonstração das bizarras criaturas que somos. Nos apresentamos como antiguidades: atemporais, exóticas, belas e únicas.

Nunca poderíamos permitir que todos os grupos de estudo de vampiros soubessem que estávamos ali e nos focamos em apenas um, o que Kat achou menos agressivo, que ainda não existia em 1997: Os Apreciadores da Arte do Sangue. A líder desse grupo, uma garota de 24 anos de pele de ébano chamada Amelie, implorou para que nós tivéssemos uma festa assim, uma reunião gloriosa, que fizesse com que nos despedíssemos de Nova Orleans com toda pompa outra vez – mas sem a parte do massacre com mais de 500 mortos. Amelie prometeu que nos divertiríamos tanto quanto naquela Festa do Solstício, mas essa reunião é completamente diferente daquela. Para começar, somos nós que estamos no território deles, ao invés deles no nosso.

Nos espalhamos rapidamente e cada uma se envolve em conversas com um grupo. Eu me canso de todos os grupos rapidamente e me afasto para pegar a taça de sangue que está sendo servida por garçonetes que não sei o quanto sabem sobre o que está acontecendo. Procuro uma forma de não ser abordada por um tempo e acabo encontrando Ellie observando tudo de um canto.

– Você está tremendo. – Digo para ela, ao me aproximar com duas taças de sangue na mão. Noto a direção que seu nariz toma e levando o dedo. – Não faça careta!

Ela suspira e pega a taça de mim.

– Quanto deles você acha que conhecem a lenda? – Ela pergunta, aproximando a taça do nariz antes de tomar uma golada corajosa.

Nem imagino o gosto que sangue humano tem para quem não precisa dele para sobreviver.

– Eu sei lá. Mas mesmo que todos conheçam, ninguém tem razões para acreditar que você é ela. Ou que você é diferente de nós. Apesar de você ser muito pior em fingir do que Sophie é, ninguém deduziria algo que não faz ideia de que existe.

Quando digo isso, sinto o olhar de Sophie em mim e olho para onde ela está. Sei que ela está prestando atenção na conversa. Sophie tem se mantido na defensiva com Ellie por todos os dias desde que a alma dela voltou. Ela acredita que tem todas as razões do mundo para desconfiar das verdadeiras intenções da segunda vampira com alma do grupo. Ellie suspira.

– Você tem razão.

– E você só tem sentimentos. – Rebato, ainda olhando para Sophie, que sorri.

Volto a olhar para Ellie, que revira os olhos.

– E eu achando que você era leal a mim.

– E sou. Se chama firmeza. A antiga Ellie ia preferir que eu fosse agressiva do que ser gentil.

– A antiga Ellie? Annie, eu ainda sou eu.

Tomo a taça de sangue da mão dela e finalizo, pensando no que poderia dizer sem fazê-la chorar e estragar o disfarce. Não é que Ellie esteja sensível, é que quando seus sentimentos vêm, eles vêm com muita força e de forma destruidora. Eu sei que se tomada por uma fúria arrebatadora, Ellie com alma mataria tantas pessoas quando Ellie sem alma mataria. A questão é que ultimamente ela só sido tomada por tristezas arrebatadoras.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora