Réquiem - IV

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Eleanor

Eu não percebi até a primeira gota rolar, mas eu vinha guardando uma enxurrada de lágrimas há mais tempo do que imaginava. Uma vez que eu choro, eu realmente choro. Não paro pelo que parecem horas. Soluço e lamurio como não fazia há 150 anos. Tenho consciência do abraço de Sophie, mas ele parece distante. Sei que o Exército entra na sala aos poucos e que eu deveria estar tão preocupada quanto elas, mas não consigo.

Minha mente está tomada de todo sofrimento que deveria ter vivenciado desde que me tornei vampira. Nunca me senti tão miserável, tão insignificante, tão cruelmente desnorteada... Sinto minha cabeça ser jogada para o lado e fazer o caminho de volta antes que meu cérebro sequer processe que levei um tapa. Pisco os olhos e encaro Pierre através das lágrimas.

– Não vou deixar que você traia o meu sangue.

Katerina

O tapa de Pierre em Ellie desencadeia uma reação automática no Exército: todas nós prendemos a respiração. Tudo pode acontecer depois disso.

Nos segundos seguintes percebo com o canto do olho as gêmeas tapando os olhos, Sophie mordendo o lábio e o queixo de Tatiana caindo. Eu apenas observo Ellie. É o que eu mais tenho feito nos últimos 150 anos, mas é diferente agora. Vejo-a com novos olhos. Vejo as bochechas coradas, as lágrimas presas nos cílios como pingentes de gelo, o tremor no lábio inferior. Presto tanta atenção nesses detalhes que noto seu olhar passar de chocado para furioso. É quando lembro que gelo também queima.

– QUE DIABOS VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – Ela grita.

– Tirando você desse maldito transe "barra" estopim de guerra. – Pierre levanta a mão e mostra a marca da queimadura, já cicatrizando – E acredite, eu também não queria fazer isso.

Ellie segura cada um dos braços dele com uma mão e o ergue do chão.

– Nunca mais levante a mão para mim outra vez. Entendeu?

Ele grita, se contorcendo em agonia, mas Ellie só o solta quando ele emite algo muito parecido com um sim. Ele corre para perto de Tatiana quando ela faz isso. A sala toda cai em um silêncio mórbido. Ninguém sabe o que fazer dali em diante. Ellie fica parada, olhando para as próprias mãos. Tantas coisas se passam por minha cabeça que eu nem tenho controle do fluxo de pensamentos.

– Ellie... – Digo, finalmente, quase um sussurro.

Ela se vira e olha para mim com atenção. De repente, seu olhar se suaviza, mas não se move.

– Eu sei. – Sussurra de volta.

Então dá um gritinho e cai com tudo em cima da cadeira que estava atrás dela.

Eleanor

– Ellie! – O fantasma grita, surgindo do nada – é claro que sim, fantasmas sempre surgem do nada – e me faz cair sentada outra vez.

– Era verdade! Você é o que disseram!

– O que????

– Você pode me ver sem que eu esteja em uma superfície reflexiva. Você realmente é o Réquiem.

– Ellie? – Sophie chama.

Respiro fundo, odiando como meu coração está disparado e como minha mente está confusa. Só faz dois minutos e eu já sinto falta da clareza do não sentir.

– Deyah está aqui. – Digo com a respiração entrecortada. – Ela...

– Não existe espelho nessa sala. – Sophie afirma, confusa – Como você pode estar vendo ela?

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora