Wild Ones - II

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Eleanor

Estou secando o cabelo enquanto observo as gêmeas correrem na chuva quando ouço baterem à porta e achando que é Kat, digo que entre. É só o silêncio depois que a porta é aberta que me faz me virar e descobrir que o recém-chegado é Pierre.

- O que você quer? - Pergunto, surpresa.

Ele não responde imediatamente, parece tentar buscar uma resposta enquanto me observa. Permanecemos parados, ele na soleira da porta, eu na janela por um tempo ridículo. Estou prestes a escorraça-lo do quarto quando ele finalmente abre a boca:

- Você me defendeu hoje. Por que você fez isso?

- Não defendi você. Usei a lógica. Eu tenho menos chance de morrer, então eu que deveria enfrentar o risco de vida.

- Não aja como se eu fosse idiota. Eu sou quase tão imortal quanto você e ainda não se ouviu falar em vampiros morrendo afogados. Você era a mais alta do grupo; te dou essa razão. Mas eu sou o mais atlético, como Anika disse. Eu tinha menos chance de ser carregado pela correnteza - e se fosse, tenho um GPS mágico que me liga a Sophie.

- Que diferença isso faz agora? Eu não fui carregada pela correnteza, que aliás era muito menos perigosa do que parecia de fora.

Ele faz uma pausa. Caramba, ele se parece bastante com Alec. Mas ele definitivamente tem a minha postura. Algo nele dá a impressão de que poderia explodir em pedacinhos de gelo a qualquer momento.

- Não vou entrar em jogos com você, Ellie. Eu conheço você e eu tenho observado você muito de perto nos últimos meses. Você ainda é cruel e consegue agir sem misericórdia ou culpa em algumas ocasiões. É claro que seus sentimentos te dominam, mas sua lealdade continua sendo sua característica mais tangente. Você me defendeu hoje. Impediu as meninas de me usarem como cobaia, mesmo que você já tenha permitido e feito parte das brincadeiras muitas vezes antes. Por quê?

Suspiro. Pierre - junto a Alec - é o personagem principal dos meus piores pesadelos ultimamente e sinceramente eu já teria acabado com ele há muito tempo, não fosse pelo que Kat me disse em Nova Orleans e pelo fato de que Persephone está convencida de que ele pode ajudar em alguma coisa. Ainda assim, eu poderia tortura-lo por algumas horas o fazendo se afogar diversas vezes e a parte mais perversa de mim estaria satisfeita. Mas, por algum motivo obscuro, eu senti que não deveria fazer isso. E eu me recuso a acreditar que tenha sido instinto de preservação sobre ele, então dou uma explicação qualquer:

- Kat. A razão é Kat. Ela se importa se você está vivo ou não.

Pierre engole isso, mesmo com o discurso sobre meus jogos.

- E você se importa com o que Kat se importa. - Ele afirma, com a expressão de quem entendeu tudo.

Dou de ombros.

- Você acabou de falar sobre minha lealdade.

- Porque dizer a palavra que eu estava pensando poderia fazer com que você me matasse.

Bufo.

- Pierre, eu não sou idiota. Eu amei antes de me tornar vampira, especialmente as crianças do orfanato. É óbvio que eu amo as meninas do Exército. Óbvio que quero protege-las.

- Não é sobre o Exército num geral que eu estava falando, Ellie. É sobre Kat. Ninguém nunca entendeu porque você é tão leal a ela. - Quando eu aperto os olhos, ele prossegue: - Você é mais forte que ela. É mais poderosa. E agora você sabe disso. Você não quer fazer parte da guerra, está fora do alcance do Inferno e continua aqui. Por Kat.

Olho para ele como se fosse a primeira vez que o visse. Em momentos assim, eu me dou conta de que fui eu quem trouxe Pierre ao mundo. Não de propósito e não sem alguma resistência, mas fui eu quem o criei, de qualquer forma. Ele é um pedaço de Inferno que cresceu dentro de mim e eu odeio ver partes de mim nele. É como uma exibição de arte das minhas próprias características infernais.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora