Written in My Own Heart's Blood - I

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"Foi como o ardor de um amante que me abraçou. Foi odioso e ainda assim, dominador."

(Sheridan Le Fanu – Carmilla)    

14 de maio de 2017

Graz, Áustria

Diário de Kat

A carta de Olívia chegou esta manhã. Foi a primeira vez que recebi uma carta dela e eu me diverti em notar o esforço que ela fez em redigir à mão palavra por palavra. Olívia é uma escritora particularmente boa, mas o esforço de ser obrigada a escrever um longo relato à mão fazia com que uma película de superficialidade tomasse suas palavras. Não foi surpresa ela ter implorado que eu saísse da reclusão e voltasse para a vida real várias vezes no decorrer da carta. Ela não foi a primeira das Sobreviventes a fazer isso e nem será a última, mas não é esse o pedido dela que eu sigo.

Olívia pediu que eu relatasse os últimos meses do Exército, antes que começássemos a viver separadas. Ela aprendeu a maior parte das línguas que sabe hoje traduzindo meus diários, escritos nas línguas de cada país em que eu estive. Por isso, ela me escreve em alemão e implora para que eu escreva em alguma língua que ela não sabe. Ela disse que sente falta de meus relatos, das minhas histórias e que só eu poderia colocar em palavras o que aconteceu naqueles últimos dias de Exército. "E já que você não conversa com a gente e nem participa mais das nossas longas vídeo conferências no Skype, você poderia ao menos voltar a escrever e compartilhar seu diário conosco.", são as palavras dela.

Eu não estou reclusa. Ao menos não me sinto assim. Não estou evitando ninguém e não é minha culpa que todo o Exército tenha desenvolvido uma aversão natural pela Áustria. Também não sinto vontade de sair daqui ou de instalar uma rede de internet na cabana das minhas antepassadas. Estou descansando, lembrando de quem sou e me readaptando o mundo real. Ou evitando ele. O problema com conquistar o mundo em uma guerra é a percepção repentina de quão vasto e perigoso o mundo é.

Quando eu escrevo respostas aos pedidos de que eu volte à presença das minhas irmãs, digo sempre a mesma coisa: Não sairei de Graz até ter certeza do que aconteceu com Naomi. Não chega a ser mentira, mas também não é uma verdade absoluta. Me prendo à crença de que Naomi está viva e na Áustria e à certeza de que conseguirei encontra-la, pela fraca ilusão de ainda ter um propósito. Quando todo preço foi pago e todo sacrifício foi feito o que resta para a heroína da história?

Olívia me pediu pelos últimos meses do Exército enquanto Exército e não como Sobreviventes de Guerra. Depois dos eventos aos quais nos referimos como a Batalha Final, o Memorial e a Retomada, o Inferno pediu que fechássemos a ruptura e a Morte se aproximava para a sua própria batalha.

- O que ele quis dizer com "a liberdade de Pierre"? – Olívia perguntou, enquanto nós encarávamos o corpo caído sem saber o que fazer com ele.

Em resposta, Juliana deu um suspiro alto e Ellie deu de ombros. Kaylee se levantou repentinamente e prosseguiu para tentar arrumar a porta caída. Eu me perguntei o que as outras pessoas na casa deveriam estar pensando que aconteceu.

- Nós não precisamos do Inferno para isso, precisamos? – Olívia insistiu. – Quer dizer, eu... – Ela se interrompeu e olhou para mim.

Eu sorri.

- Nós não precisamos do Inferno para absolutamente nada, Livi. – respondi. – Somos poderosas demais ou amaldiçoadas demais para isso.

- Mas...? – Ellie incitou.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora