Sophie's Choice - VI

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Maebashi

15 de setembro

Naomi

Eu estava limpando a cozinha quando ela apareceu outra vez, sentada à mesa.

- Céus! Você não tem nada melhor para fazer?

- Enquanto Kat estiver por aí sem alianças e você estiver pronta para ser usada, não.

- Toda lua nova ou cheia você vem aqui me pedir para falar algo sobre essa Kat e sobre meus supostos poderes.

- Eu viria mais frequentemente, mas é uma condição da Morte, sabe lua cheia, lua nova. E não diga supostos quando você já os usou.

- Claro que é. - Disse, me referindo à primeira frase.

Eu me virei para guardar a vassoura e quando virei de volta ela estava bem atrás de mim.

- Ainda não acredita em mim?

- Por que eu deveria acreditar em uma mulher que aparece completamente do nada com uma conversa estranha sem dizer como sabe o que sabe sobre mim e quem é de verdade?

- É assim que eu apareço para você? Como uma mulher? Qual a cor dos meus olhos?

- Do que você está falando? Verdes.

Ela abriu um sorriso.

- Sua mãe. Eu também apareço para você como sua mãe, que você sequer conheceu. É isso que eu adoro nas bruxas Petry.

- Você é minha mãe? Eu estou confusa.

- Não querida, eu sou a Morte. E a Morte para você é a imagem da sua mãe. Você disse que eu mal falei com você, então essa é a hora. Por que não nos tornamos amigas? Me conte sobre você, Naomi.

- Não, obrigada.

- Não foi um pedido.

Eu estava presa entre um armário de vassouras e uma mulher duas vezes mais alta que eu – por que eu tinha que ser tão baixa? – e ainda assim insisti.

- E se eu não disser o que você vai fazer, me matar? Você podia ter feito isso dois ciclos da lua atrás. Mas aparentemente eu sou importante para você.

- Não se convença disso, Naomi. Mas vamos fazer um trato, já que você é independente e coisas assim. Conte-me coisas que eu não sei sobre sua vida e eu contarei coisas que você não sabe sobre você.

Eu não sou estúpida: Eu não tenho nenhum segredo, mas há muito que eu quero saber.

- Eu escolho o que você vai dizer. - Eu exigi.

- E você me diz tudo.

Limpei minhas mãos na saia e sorri.

- Você quer algo para beber enquanto isso?

Ela abriu espaço para que eu passasse e nós duas nos sentamos à mesa.

- Eu vivo nessa cabana desde que tinha cinco meses. O estalajadeiro que me vendeu a Tyanne disse que minha mãe deu à luz a mim e morreu em seguida. Tyanne me criou simplesmente porque queria receber auxílio do governo e jura que vai me vender outra vez quando eu fizer 18 anos. Não que isso seja um problema, aqui eu tenho comida, um abrigo e muito a fazer. Além de liberdade, já que Tyanne nunca está em casa.

- Onde você aprendeu a falar inglês?

- Eu tinha uma professora que encontrei na vila. Ela disse que um dia eu seria alguém grande.

- Isso é tudo sobre você?

Pensei por um momento. Eu não iria mentir para a Morte – é, eu começava a aceitar que ela realmente era a Morte.

- Eu tenho um diário.

- É, todas vocês têm. Mas não é disso que eu estou falando. Não tem nenhuma parte da sua história que você queira me contar?

- Não que eu me lembre.

- E quanto àquela mancha em seu quarto?

- Oh...

Meu lapso de memória deveria ser perdoado, eu realmente não lembrei daquilo por um instante. Três anos atrás uma mancha apareceu em meu quarto, parece petróleo e queima quando toco.

- Aquilo é a marca de que o Inferno está atrás de você também.

- Ah, então duas forças malignas estão lutando por mim?

- Eu não sou maligna, tenho dois lados, como a Vida. Mas isso é complicado de explicar. Eles já começaram o contato?

- Eles quem?

- O Inferno, Naomi.

- Ah, você quer dizer se mais alguém apareceu aqui me dando ordens? Não, não. Só você.

- Ótimo. Se eles aparecerem, você se mantém do meu lado. Você só tem a vencer com isso.

- Me diga o que eu quero saber e eu saberei isso com certeza.

- Pergunte.

3 de novembro

Essa tarde eu fui à casa de Yoko. Existem pessoas desaparecidas na vila e corpos encontrados quase desfigurados nos arredores. Tyanne me disse para não sair e isso só me deixou com mais vontade de sair. O corpo que encontraram há dois dias foi identificado como o pai de Yoko e eu passei toda a tarde em sua casa a ajudando.

Morte não aparece por aqui há 3 semanas, o que significa que um ciclo foi pulado. Ela me disse para não ir para a Áustria, Kat viria me procurar. Eu aceitei isso, mas não jurei lealdade a ela como ela queria. Não é assim tão fácil.

Voltei para casa pela floresta. Depois de toda uma tarde falando e pensando sobre morrer, eu decidi pensar na vida e pensar em como eu posso sentir a vida, como uma bruxa. Eu fechei os olhos e me permitir chamar a natureza por um minuto. Respirei fundo quando comecei a sentir as árvores, o chão, toda a floresta. De repente eu sabia que eu podia fazer qualquer coisa acontecer sem me mover, apenas imaginando, desejando, evocando.

E isso foi o que eu fiz. Derrubei algumas arvores, fiz algumas cerejeiras florescerem depois da hora, derrubei laranjas em todos os lugares. Então, eu senti um ponto cego. Como se em um ponto da floresta, não houvesse vida. Ou pelo menos nada que uma bruxa conseguisse sentir.

Sei que isso foi meio maluco da minha parte, mas eu resolvi abrir os olhos e seguir esse ponto. Só levou alguns segundos para que eu percebesse que não precisava, pois o ponto estava vindo em minha direção. Congelei e esperei, sabendo que não morreria antes de cumprir os planos da própria Morte. O ponto se revelou ser uma garotinha, ainda menor que eu, mas com uma beleza única. Ela usava um vestido bege antiquado, mas que vestia perfeitamente. Quando me viu, arregalou os olhos.

- Você pode me ajudar? – Disse em um japonês perfeito, mesmo que claramente não fosse japonesa. – Tenho um problema com sangue aqui. – Como não me movi, ela se aproximou e estendeu as mãos – Meu nome é Kat.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora