Entre todos os demônios do Inferno - I

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"Nunca dome seus demônios, mas sempre os mantenha na coleira"

Hozier (Arsonist's Lullabye)

Nova Orleans, Estados Unidos

3 de outubro de 2015

Tatiana

Pierre olha no fundo dos meus olhos por quase um minuto inteiro, como se procurasse uma alma para roubar para si. Ficamos em um jogo de encarar silencioso. Me pergunto como minha bisavó Katerina se sentia dormindo todos os dias ao lado de alguém que dizia que a amava e depois de fazer amor, a olhava desse jeito. Mas talvez ele só olhe assim para mim porque eu tenho os olhos dela.

– Vou sentir falta disso quando você recuperar sua alma. – Ele solta, com algo que poderia ser ternura no olhar.

Respondo com uma careta, porque não há o que responder. Isso, o que quer que isso seja, é apenas uma distração para os entediantes anos de espera pelo começo da guerra. Ela começou há 6 dias, mas estamos esperando por algumas informações antes de sair de Nova Orleans atrás da família de Deyah, que Sophie localizou na Romênia. Eu achei que isso merecesse uma despedida e fiquei para trás para vigiar Pierre enquanto as meninas estão em uma visita ao Apreciadores.

Estamos deitados lado a lado, mas minha cabeça bate em seu ombro e eu preciso olhar para cima para olhar em seus olhos. Resolvo me virar na cama e me apoiar nos cotovelos para olhá-lo frente a frente. Deixo o cabelo cair sobre o rosto quando me viro e pergunto algo que venho pensando desde que Kat contou sobre Deyah ter saído do Inferno e eu vi Pierre estremecer:

– Por que você matou Deyah? – Solto, sem rodeios.

Ele resmunga antes de soltar:

– Você também a mataria se passasse muito tempo com ela.

– É sério, Pierre.

Ele fecha os olhos azuis.

– Eu era apenas uma criança e não sabia como lidar com meus problemas sem cometer um assassinato.

– E por que ela se tornou um problema?

Ele volta a abrir os olhos e parece o inferno lá dentro.

– Ela proibiu Kat de ter homens em seu Exército, mesmo que eu me mostrasse fiel e disposto a ajudar. Ela sugeriu que eu fosse uma barganha, pois era inútil para os propósitos dela, a guerra contra o Inferno. Só serviria como moeda de troca. E Kat, encantada pela ideia de grandiosidade, faria qualquer coisa que ela pedisse. Ela até tentou uma aliança com a Morte!

– Então você decidiu matar Deyah. – Insinuo antes que a raiva o faça mudar de assunto.

– Na minha mente demoníaca de 12 anos fazia todo o sentido. Mas, naturalmente, Deyah acabou virando uma mártir dos seus próprios ideais. Kat ficou desconfiada. Eu fugi por meu orgulho. Ao ser reencontrado, fui feito prisioneiro e aqui estou. Servindo de barganha.

Tento segurar a risada, mas isso se mostra impossível.

– Você se acha tão importante para o Inferno. Você não é uma barganha, Pierre.

Ele se ofende, mas tenta me fazer entender sua lógica:

– Se eu não estou aqui como um trunfo sobre o Inferno, por que estou aqui?

Dou de ombros, já tendo pensado nisso.

– Você é filho de Ellie e foi criado por Kat. Elas têm um senso de posse sobre você.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora