Lullaby - II

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Bucareste, Romênia

2 de agosto

Juliana

Ela que foi Fio solto de uma Linhagem

Estrela solta de Constelação distante

Pedaço intacto de Árvore partida

Ressurge como Muda de uma Erva extinta

E Senhora daqueles que vieram com Ela e Antes dela

Receptáculo, Ramo

– Não, não. Não dá. Eu desisto. – Alexandra diz, jogando o caderno de lado.

– Está dentro de você em algum lugar. – Louise insiste. – É só tentar buscar nas profundezas de sua mente.

– Só porque o parasita sabia, não quer dizer que eu sei.

– Se a sua língua já falou romeno antes, ela consegue falar romeno novamente.

As duas estão conversando em francês – a única língua além do inglês que Alexandra foi ensinada desde que era um bebê. Minha mãe sempre disse que quem não sabe francês é aculturado. Que falar apenas inglês, a língua mais fácil do mundo é coisa de crianças mal-educadas. Ela tinha mais medo de que fossemos burras, do que de que estivéssemos mortas.

– Desista, Louise. – Digo, me levantando – Se nada der certo, nós a abandonamos na cidade e deixamos que ela tente até conseguir se comunicar sozinha.

Alexandra parece ofendida pela sugestão, mas Pierre vai em sua defesa:

– Se a maior parte da população fala inglês, eu não vejo sequer um bom motivo para aprender romeno.

– Significação cultural? Necessidade de compreender as expressões idiomáticas? – A voz de Kat sobressalta todo mundo no quarto.

Pierre se levanta da minha cama como se ela estivesse pegando fogo, Alexandra abaixa a cabeça e se aproxima da escrivaninha, dominada pela presença de Kat. Louise e eu nos entreolhamos e sorrimos.

– Quando visitamos um lugar queremos mais do que apenas nos comunicar, Pierre. – Louise responde – Queremos explorar, entender.

Pierre revira os olhos.

– Quem de nós foi criado por Kat mesmo? – Ele pergunta.

– Tecnicamente, todo mundo neste quarto exceto por Alexandra. – Respondo.

– Ela é jovem – Kat responde – Ainda há tempo.

Todos rimos, exceto por minha irmã mais nova, que fica introspectiva. Atrás de mim, na janela, o vento parece ficar mais frio. Tem algo de cansado em Alex desde que o parasita deixou seu corpo e ela perdeu todo aquele sangue. Mesmo depois de dias de cama, boa alimentação e até uma sugestão de que tomasse sangue de vampiro (Ellie que impediu que isso acontecesse), ela se sentiu forte o suficiente para voltar para Bucareste, mas mesmo que agora esteja próxima de seu antigo eu, ela não é a mesma pessoa. Não sei porque esperava que fosse.

– Como está a busca pelo céu que sangra? – Louise pergunta quando as risadas diminuem.

– Na mesma de sempre. – Kat reclama. – Persephone não tem ajudado muito porque não acha que seja uma boa ideia depender tanto da profecia.

– E ela é a vidente. – Resmungo.

– Eu ainda acho que é sobre o pôr-do-sol. – Alex diz, mais baixo do que diria se Kat não estivesse aqui – Vocês já viram a cor do céu quando o sol está se pondo aqui? Parece pegar fogo.

– Pegar fogo não é a mesma coisa de sangrar. – Digo, enfiando a mão no cabelo para me ajudar a pensar – O tom do céu que sangra tem que ser menos chama e mais... Bem, sangue.

– Sim, mas o sangue de quem? – Kat interpõe. – Só nessa casa existem pelo menos quatro tons diferentes de sangue. Talvez o céu por onde entraremos no Inferno sangre preto.

Essa frase faz com que todo mundo olhe para Alex ao mesmo tempo e ela se encolhe com um arrepio. As outras pessoas na sala percebem isso e desviam o olhar, mas eu o mantenho, até que Alex olhe para mim.

– E como nós saberemos que o céu está sangrando preto em uma noite sem lua? – Pergunto para Kat, ainda olhando para Alexandra.

– É isso que precisamos descobrir. – Kat responde – O quanto antes.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora