Lágrimas de Gelo - I

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Os saltos faziam um som absurdamente alto no longo corredor, que estava consideravelmente silencioso estando ao lado de uma festa. Suspirei quando cheguei à porta da sala que queria. Podia ouvir a música lá dentro, o som das conversas animadas, o barulho dos copos brindados. Com cuidado abri a porta e me esgueirei em meio à confusão de pessoas.

Era a festa de Mardi Gras mais concorrida do ano. Todos os jovens queriam um convite. O meu chegou a minha porta antes que eu pudesse pensar se queria ir. A maioria das pessoas ali usava máscaras como resquício do desfile da terça-feira gorda que aconteceu mais cedo. Procurei entre os presentes, as feições da dona da festa: Sophie Hass, a mulher que junto com suas nove irmãs, estava entre mais conhecida socialite e uma espécie de rainha de Nova Orleans. A festa de Mardi Gras era uma forma de fazer com que esse status fosse confirmado e que todos vissem o quanto ela era rica, bonita e poderosa.

Menos para mim, é claro. Seu poder e sua riqueza estavam fora de questionamento. O motivo pelo qual eu estava ali era bem diferente do da maioria das pessoas, o motivo pelo qual eu estava à procura de Sophie também. Encontrei-a deitada em uma chaise longue posicionada no meio do salão de baile, rindo enquanto conversava com a única de suas irmãs que estava por perto. A pequena, que parecia um anjinho, Katerina. A visão dela me fez me dar conta do que eu estava prestes a fazer. Aquilo tudo era perigoso, qualquer pessoa normal em Nova Orleans consideraria impensável. Dois séculos atrás eu seria jogada na fogueira pela minha própria família – ser bruxa tudo bem, mexer com magia negra, jamais!

Sorri à ideia de fugir das crenças da família. Isso me deu força de vontade para conseguir chegar até Sophie. Quando me aproximei, ela ergueu os olhos para mim, o rosto relaxando quando me viu. Ao seu lado, Katerina sorriu, com leveza. Duas aristocratas, em todos os aspectos.

- Você veio... – Sophie sussurrou, de forma tão discreta que por um momento eu achei que ela sequer tivesse dito qualquer coisa.

Pensei no que responder. Parecia que a minha voz havia sido engolida e agora pairava dentro de mim, como gases. Segurei uma risadinha a esse pensamento. Por fim, optei por dizer diretamente, torcendo para não parecer mais idiota do que já parecia:

- Quero ser uma vampira.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora