E não sobrou nenhum - II

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21 de maio

Kaylee

Acordo sentindo algo peludo acariciar meu pé. Estou sonolenta demais para compreender a situação e reagir, mas sinto o movimento novamente e me sento na cama. Grito quando vejo algo se mexendo sob minha coberta, mas assim que me levanto e puxo a coberta da cama, o bolinho de pelos já está se metamorfoseando em vampira novamente.

– Sério, Kat? – Reclamo. – Eu achei que fosse um rato.

– Poderia ser um rato. – Kat diz, fazendo um sinal amplo para o quarto.

Resolvo ignorar isso. Kat olha em volta e percebe meu robe pendurado uma cadeira, vai até ele e o veste. É tão longo que arrasta no chão. Kat passa o dedo pela crosta de poeira sobre o assento a cadeira de onde pegou o robe e eu reviro os olhos.

– O que você está fazendo aqui? – Pergunto. – Eu disse que não queria ninguém aqui.

– Não, você disse que não queria nenhum vampiro, bruxo ou humano atravessando aquelas portas. – Kat corrige – Eu precisei encontrar uma brecha.

Reviro os olhos novamente. Só ela faria algo assim.

– E o que você quer tão desesperadamente que precisou fazer isso tudo para me ver? – Pergunto.

– Alguém tinha que ver se você ainda estava viva. Ficamos todas preocupadas com você. – Kat se aproxima e me olha com os olhos brilhando – Kaylee. O que você está fazendo?

– Descansando, como você e Persephone ordenaram. – Me defendo.

– Quem você quer enganar? – Kat pergunta, mas tem os olhos preocupados – Você parece exausta. Eu sei reconhecer um comportamento obsessivo depressivo quando eu o vejo, Kay.

– Eu não estou deprimida...

– Você está enfiada aqui há mais de uma semana. – Kat me interrompe. – E proibiu qualquer ser vivo de interagir com você. Ellie não ouve o barulho do chuveiro vindo da sua suíte há pelo menos cinco dias. Olívia e Anika disseram que ouviram barulhos suspeitos vindo daqui de dentro.

– Eu estava vendo Game Of Thrones. – Justifico. – Por que todo mundo tem o direito de fazer o que quer e eu preciso ser pressionada sobre meus atos?

– Porque eu conheço você. – Ela responde. – O suficiente para saber que você não está bem e nem saudável.

Limpo minha garganta, sabendo que não posso mais negar.

– E daí? Você não é uma terapeuta. – É quase um desafio.

– Li o suficiente sobre psicologia moderna. – Kat dá de ombros e se senta sobre a minha cama. Quero reclamar, mas acabo me sentando do seu lado. – Eu não quero tratar você ou fazer você falar. Só que a ideia de você enfiada aqui, subsistindo, sem querer sequer tomar banho, me paralisa, Kaylee. Quero que você fique bem. Me importo com você.

– Você não entende. – Digo. – Você não sente.

– Eu vou sentir. – Ela lembra. – Em breve. E se eu me conheço, sentimentos ruins vão fazer com que eu me isole também. Consegue imaginar isso? Eu, completamente sozinha, depois de quase duzentos anos?

Suspiro, odeio a retórica de Kat.

– Vir para cá para descansar me tirou o treinamento. – Digo. – Me tirou o propósito. Fez as coisas ruins emergirem.

– Bem, você ainda sente sua magia? – Ela pergunta.

– Claro que sim.

– Então não tem motivos para ter parado de treinar. – Ela diz. – Continue treinando. Faça plantas crescerem, coloque fogo em coisas ou sei lá o quê. Apenas não pare.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora