Written in My Own Heart's Blood - VI

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18 de junho

A última carta a chegar é a de Kaylee – e chega no 100º aniversário de sua transformação, datada de seu 117º aniversário. A carta foi tão curta quanto a de Anika e tão cheia de carinho quanto a de Tatiana. Ela perguntou se poderia passar alguns dias aqui durante suas férias de inverno, em julho. Disse que viria sozinha, pois Amelie quer passar todo tempo possível em Nova Orleans.

Kaylee está fazendo faculdade na Argentina. Não sei porque escolheu esse país, mas sei que não foi uma escolha repentina. Está estudando medicina e pretende se especializar em psiquiatria. Estranhamente, fazer faculdade depois da guerra era o plano de Louise e eu jurava que seria Juliana a seguir com ele.

As escolhas de Kaylee completam quatro de nós nas Américas, três na América do Sul – supondo que Ellie seguiu com Rubí de volta ao Chile. Olívia voltou ao Brasil, apesar de estar longe de Petrópolis, em São Luís do Maranhão, envolvida em algum tipo de férias glamorosas ou penitência criada por ela mesma. Seu plano de transformar meus textos e nossas histórias e relatar com clareza pela primeira vez, o Destino sendo superado por uma garota, está a todo vapor. Juliana está em Nova Orleans, reinando sobre a cidade com punhos de ferro – ao lado de seu Príncipe Consorte.

Eu e Anika permanecemos na Europa, Anika em sua casa em Piatra Neamnţ e eu em minha cabana em Graz, até segunda ordem. E Tatiana, está viajando pelo mundo, no momento na África, daqui a alguns meses, quem sabe?

Olívia não teve muita dificuldade em mandar todas as almas para a paz. Naquela mesma noite, ela deslizou até Porto Williams e tirou todas as almas da fenda, as enviando para a segurança. Aproveitou para fazer o mesmo com a alma de Deyah, por mais insana que ela pudesse estar àquela altura. Depois disso, estava acabado. Nada mais de missões para o Exército. Nada mais de batalhas para vencer.

Começamos a deixar a Romênia logo depois do ano novo. O Natal foi o mais silencioso e desconfortável que tivemos, mesmo nos anos em que passamos presas em Cianne. Era como se não soubéssemos mais ser felizes, como se não achássemos certo ter um pouco de felicidade. A rotina assumiu nossos dias, mas ela não estava certa. Não era nossa rotina, estávamos invadindo a rotina de Anika, como convidadas que não entendem os limites do convite.

No fundo disso tudo, Persephone perdia a cabeça. Eu estava esperando surtos psicóticos, crises violentas, todo tipo de coisa que já tinha visto anteriormente de pessoas que enlouqueceram ou deixavam de ser quem era. Com Persephone foi completamente diferente. Ela apenas deixou de ser quem era. Ou de se qualquer pessoa. No Natal, ela não dizia mais nada, quase palavra nenhuma, apenas olhava vegetalmente pela janela. Ela só tinha pequenos momentos de lucidez, em que ela queria conversar apenas com Selene – que às vezes ela confundia com Anika.

No dia 1º de janeiro, as bruxas Sobreviventes resolveram fazer um presente para Persephone e no dia em que a lua voltou para o mesmo lugar – seu aniversário de 19 anos – a mente de Persephone se mudou para um paraíso criado por nós. Uma realidade estática onde ela vive o melhor dia de sua vida, todos os dias. Aquele feitiço foi o mínimo que pudemos fazer por ela – ela, que foi a única que voltou do Inferno amaldiçoada, ao invés de abençoada -, mas foi demais para nós. A falta de Sophie se tornou tão óbvia no feitiço grupal, que nós nem conseguimos olhar uma para as outras no resto do dia.

Kaylee foi embora primeiro. Disse que queria pesquisar sobre como continuar os estudos em alguma faculdade longe e que precisava de Amelie para isso. Elas começaram voltando para os Estados Unidos para acabar com os rastros humanos de Amelie e começar uma nova vida.

Juliana precisava voltar para casa de uma forma ou de outra e tudo que ela quis foi eu e Ellie déssemos a benção para que Pierre a seguisse. Nossa resposta foi revirar os olhos e dizer que eles ficarem juntos, depois de tudo que a gente passou, era o mínimo.

Em seguida, Tatiana. Começou como uma viagem simples de férias e continuou como uma missão de vida, de conhecer cada canto da Terra e começar de novo no século seguinte. Olívia adorou a ideia e a imitou, mas queria começar pelo Brasil. Na verdade, Olívia estava querendo fugir de todas as tarefas que Anika arranjava para ela, como se ela fosse sua assistente particular Toda-Poderosa.

No fim, restamos eu e Ellie. E Rubí e Siena.

Àquela altura, nós tínhamos conferências semanais via Skype com as meninas que estavam em outros países e era absurda a diferença que a distância tinha feito em nós. Nós precisávamos descansar, mesmo que fosse longe de nós mesmas.

No começo de fevereiro, eu disse a Ellie que ela deveria ir com Rubí e Siena e conhecer a cidade que estava ligada a ela tão profundamente. Ellie queria ir, eu conseguia ver isso, mas ela também não queria me deixar para trás. Eu a convenci a ir prometendo que estaríamos no mesmo lugar no meu aniversário. Ela prometeu de volta que aquilo era apenas temporário e que ela me chamaria até lá se fosse necessário.

Nós duas sabíamos que eram promessas vazias e que muito poderia acontecer até lá, mas nós éramos tudo de mais intenso que a outra tinha na Terra, não podíamos simplesmente dizer adeus.

Na manhã do dia 18, eu falei com Ellie pela última vez. Ela foi a última a sair da casa, arrastando uma mala com tudo que tinha levado até o táxi. Eu fiquei parada no corredor, a alguns metros da porta, enquanto todo mundo estava lá fora, ajudando a carregar o carro.

- Ellie. – Eu chamei, quando ela estava prestes a atravessar a porta. Ela se virou com expectativa, me encarou com os olhos gelo profundos nos meus e mordeu o lábio inferior, as presas surgindo, tão ameaçadoras quanto poderiam ser. Eu coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e lancei a ela o olhar mais intenso que poderia. – Eu amo você.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora