1º de janeiro de 1998
Diário de Kat
Deuses, acabou! Finalmente! Nunca me senti tão cansada quanto no momento e estou completamente louca para sair desta escrivaninha e me aconchegar em meus cobertores, talvez por dois ou três dias. Mas preciso registrar tudo que aconteceu nestas festas, porque talvez ao acordar eu acredite que tudo não passou de um sonho, o que seria perigoso demais.
O primeiro circuito de festas saiu como o planejado. A festa de solstício foi uma perfeita demonstração de nossa herança vitoriana, que começou com um coquetel e conversas sobre tudo que vivemos – bem, não tudo, tuuudo... Qualquer coisa sobre o século passado que disséssemos os deixavam tão fascinados que ao fim nada muito importante precisou ser dito - e terminou com um banho de sangue delicioso, onde ninguém morreu, mas todos brigaram para virar jantar, competiram uns com os outros para saber quem tinha o sangue mais apetitoso e ainda saíram implorando por mais festas do tipo. Sophie declinou o sangue educadamente, insinuando que seu "noivo" já fornecia sangue o suficiente para ela. Prometemos que toda semana pelo menos duas de nós iriamos a reunião de cada grupo, falar mais e nos alimentar, exatamente como planejávamos fazer desde o princípio.
A festa de aniversário de Naomi foi extremamente fascinante. É inacreditável o que as pessoas fazem para presentear alguém que "tem tudo". Os presentes variaram de cachorrinhos (aliás, acabo de perceber que não faço a mínima ideia de onde aquele cachorrinho foi parar depois da festa) a diversas fazendas no interior do país, passando pelas mais diversas joias exclusivas e apresentações musicais das promissoras herdeiras das famílias que mandam em Nova Orleans. Saíram todos incrivelmente satisfeitos e implorando que contássemos nossos aniversários para que mesmo quem não quisesse comemorar acabasse cheia de presentes.
Então começaram os bailes de Natal. O primeiro foi o de caridade, onde todos podiam fazer as mais diversas doações para um fundo de caridade do país de onde nos originamos - também conhecido como uma conta na Suíça que está no nome de Sophie e Charlottie que não é mexida há tanto tempo que o dinheiro apenas se multiplica devagarzinho. Nossa, é completamente inacreditável tudo que as pessoas fazem por nós nessa cidade. Até abrir mão de seu próprio dinheiro sem sequer checar para onde ele está indo, apenas porque nos acham tão encantadoras e doces que conseguir nosso carinho e devoção se torna uma competição não dita, como se de alguma forma ter nosso favor fosse levar alguém a algum lugar.
O segundo baile foi o de máscaras, na véspera de Natal. Ao contrário do que houve no solstício, quase todas as famílias de Nova Orleans abriram mão da ceia de Natal em casa para perder a noite fantasiados em nossa casa e então aproveitar uma ceia de natal no dia 25. Aproveitamos as máscaras para ouvir tudo que não tinham coragem de dizer para nós livremente. As mais novas até inventaram de usar perucas para que ninguém as reconhecesse, mas ainda assim só ouvimos os mais enjoados elogios e os mais desesperados desejos de fazer parte de nossa família.
Foi naquela noite que eu flagrei Juliana conversando com Louise, a filha da tal empregadora que emprestou seus criados e a garota que ela sempre visitava quando saía de casa.
- Uma coisa é certa: elas sabem como fazer festas maravilhosas. – Louise dizia, segurando da forma que apenas os nascidos ricos seguravam, uma taça de champanhe. – Não que isso estivesse em dúvida, naturalmente. Só estou dizendo que ninguém normal conseguiria organizar festas assim em dias consecutivos.
- Elas têm trabalhado nisso o mês inteiro. – Juliana disse, olhando nervosa para os lados. Tinha a aparência de alguém pego pelo chefe vadiando.
- Ainda assim, Ju. – Ela dizia, olhando em volta com a mais pura admiração - Olhe esses detalhes dourados nas cortinas, essas máscaras penduradas. Nada disso estava ali ontem e levaria no mínimo dois dias para limpar tudo e arrumar tudo com tanta perfeição.
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As Crônicas de Kat - A História Completa
VampireConheça Katerina, uma vampira criada à força na Europa do século XIX por uma mãe bruxa desesperada em sua busca pela imortalidade e seus segredos. Kat sobreviveu por muito tempo se considerando nada além de um ser inferior do Inferno, destinada apen...