Danse Macabre - II

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Entre novembro de 1864 e janeiro de 1873, Kat e Ellie permaneceram quase fora do radar. Com exceção de alguns ataques ocasionais a vilarejos, elas se dedicaram à criação de Pierre, por isso as anotações de Kat durante esses anos resumiam-se ao desenvolvimento da criança demônio.

Com 8 anos então, Pierre já cometera mais de 5 assassinatos em massa, já sabia ler e escrever e sua dieta resumia-se em frutas e cereais e algum sangue ocasional que não o nutria, mas fazia com que se sentisse parte da família.

Verdant, França

12 de janeiro de 1873

Diário de Sophie

Magnólia me chama lá em baixo, mas eu estou ignorando. Sei que tudo isso é só um teatro e que, na verdade, ela não quer que eu desça. A versão de mim que ela lentamente tece diante dos olhos do Barão causa uma impressão muito melhor do que qualquer aparição minha pode causar.

Já faz 10 dias que o Barão busca por esposas entre as famílias nobres da cidade. E com Deborah e minha irmã já mortas e titio e Magnólia não tem filhos, eu sou a última que pode defender o sangue Hass para as próximas gerações.

Nem sei o que tem de demais no sangue Hass.

Diário de Kat

Sempre quis conhecer Verdant – o vilarejo no norte da França onde 20 mil bruxas foram queimadas no século IX, logo no início da Inquisição, sempre me encantou. Mil anos depois a cidade ainda é vista como amaldiçoada. E realmente é.

Não é preciso ser um gênio para entender maldições de bruxas mortas em nome da magia. Elas são mártires. O seu sacrifício protege seu sangue e amaldiçoa o sangue de todos que tentarem mal contra eles. E já que de acordo com os relatos - nos quais eu não exatamente acredito - todas as bruxas da cidade foram mortas, sobrou bastante sangue cheio de maldição.

Estamos instalados no cemitério da cidade porque por algum motivo Pierre dorme bem em túmulos. Eu e Ellie nos revezamos na caça, tomando cuidado com quem matamos. Sempre existe a chance de uma bruxa ter escapado e passado a magia a diante e se tem uma coisa que eu aprendi com a minha mãe é: Não mexa com a vida de bruxas. Jamais.

14 de janeiro

Diário de Sophie

Estou exausta, mas de certa forma, feliz. O barão me escolheu!

É claro que escolheu.

Ele disse que jamais viu rosto tão angelical, moldurado por cabelos tão belos e colorido por olhos de cor tão rica em todas as suas viagens pela Europa! Exatamente essas palavras. Sei porque não posso esquecer o momento em que ele se ajoelhou em minha frente e me entregou um anel, que dizia ter pertencido à todas as suas antepassadas nos últimos, com uma enorme pedra de diamante azul e pediu para que eu fosse só sua.

Mas não sou ingênua. Sei que isso tudo foi muito bem ensaiado por ele e sua mãe. Não existem tantas nobres assim em Verdant e as que existem estão comprometidas com nobres de maiores títulos e mais ricos que ele. Então fique com Sophie Hass ou fique sozinho!

Na verdade, eu não me importo que Sebastian – ele já deixou que o chamasse assim – me ache que a criatura mais tenebrosa de toda França. Eu serei baronesa! Terei um nome que é nobre desde a época de Joanna D'arc (Sua família recebeu esse título pela ajuda durante a Guerra dos 100 anos). Isso é muito mais do que Deborah jamais

Sei que Magnólia partilha de minha felicidade por ir embora. Ela finalmente vai se livrar da imprestável que é razão para viver desconfortável em sua própria casa.

Hoje fui tirar minhas medidas, ainda para o vestido de noivado. O baile que o anunciará está marcado para 7 de fevereiro. Parece longe, mas o casamento será logo em seguida, no fim do mês.

Meu vestido é longo e azul com uma abertura de vermelho vivo no peito, que a costureira diz valorizar meu tom de pele. À noite eu sei que vai parecer poderoso.

Pensando agora, lembro que aconteceu uma coisa esquisita quando eu saía da costureira. Magnólia ficou para trás discutindo seu próprio vestido e eu fiquei na soleira da porta, olhando o movimento na banca de frutas do outro lado da rua. De repente, meus olhos se cruzaram com os de um garotinho.

Ele era alto, pálido e tinha cabelos muito escuros. Eu daria mais ou menos uns 10 anos a ele. Ele estava preso à saia de uma garota mais alta que estava de costas para mim, com o rosto meio escondido.

Foram seus olhos que me chamaram atenção. Eram de um azul escuro, cor de noite, mas de uma intensidade cruel que não tinha nada de infantil. Eles fizeram algo dentro de mim vibrar como se me lembrando das minhas raízes mais antigas. Como minha irmã costumava fazer com seus olhos azuis.

O garotinho apertou a saia com mais força. A frieza agora era confusão e medo. A moça então se virou. Como era bonita! Os cabelos escuros caíram em cascata sobre o rosto de uma forma que me deixava com vontade de tocá-los. E aquele rosto! Tão suave!

Até que se destorceu e a fúria que eu vi ali por um momento me fez recuar. Então ela pegou o garotinho no colo e ele apontou um dedo para mim. Por reflexo levantei dois dedos em sua direção. Então ele começou a chorar, como se eu o estivesse torturando.

E no instante seguinte, eles não estavam mais lá.

Diário de Kat

- Existem 3 tipos de pessoas nas quais demônios não podem tocar: sacrifícios, pessoas protegidas por sacrifícios e frutos de incesto.- Foi isso que eu respondi para Ellie quando ela me contou sobre o incidente na banca de frutas.

- Por que frutos de incesto? – Ellie perguntou com Pierre, ainda assustado, no colo.

- Ao contrário do que muitos pensam, a união entre dois seres é a mais sagrada de todas e no incesto ela é maculada, fazendo do fruto dele tão sujo que se torna intocável. Por isso as bruxas mantinham "o sangue puro". A expressão certa seria "o corpo fechado". Demônios não podem tocar sua alma, só o seu corpo, a menos que a pessoa assim decida. Uma bruxa na qual demônios não podem tocar é uma bruxa poderosa.

- Será que ela...?

- Não dá para saber. Eu prefiro acreditar na segunda opção. Se ela é descendente de qualquer uma das 20 mil bruxas que se entregou em sacrifício, ela é protegida de ações externas.

- Mas é um feitiço de mil anos...

- Que parece está se desgastando, ou se quebrando, caso contrário Pierre estaria pior...

Com isso, Ellie ficou em silêncio. Eu levantei meus olhos para ela.

Eram incrivelmente raras – considerando que eu passava todos os dias com ela - as vezes em que eu podia admirar a vampira que Ellie se tornara. Ali, parada no escuro, com os olhos pensativos brilhantes e apenas uma parte dos dentes à mostra Ellie poderia ser musa de qualquer pintor renascentista. Eu sabia que, para Pierre, ficar no colo dela era como se pendurar em qualquer estátua dali, mas é o que acontece quando se é criado por vampiros. E a frieza de Ellie me fazia gostar do que via ainda mais. Ela é perfeita como uma obra de arte perfeitamente moldada por mim e ninguém mais. Ela não se parecia com um anjo (como dizem que eu pareço), mas sim com a razão principal do desejo de alguém.

À luz da lua, eu podia esperar que os ossos dos túmulos se erguessem e viessem reclamar sua Elenore. Não fariam isso sem uma boa briga. Ellie é minha. Ela é meu mérito. Por mais que Pierre fosse meu triunfo secreto, Ellie sempre foi a peça chave do meu grupo.

Um plano começou a surgir em minha cabeça, e eu perguntei sorrindo se Ellie já estava pronta para hipnotizar alguém.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora