Stregoica - III

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7 de janeiro de 2016

Juliana

– Como uma criança pequena desaparece no ar da noite? – Louise diz com um bufo, se jogando contra o meu colchão.

Eu abro as cortinas e permito que o sol invada o quarto.

– Ela pode ser uma bruxa poderosa. – Digo dando de ombros.

Louise se senta na cama e eu a empurro para me sentar ao seu lado.

Pode ser? – Ela pergunta erguendo uma sobrancelha – Quais são as chances de uma garota descrita como igual a Anika não ser a bruxa herdeira da linhagem de Deyah?

Suspiro e pego o braço dela para brincar com a pulseirinha de prata.

– Não sei. – Digo, quando ela começa a rir ao sentir cócegas – Mas espero que ela tenha uma irmã mais velha. Imagina quão ferradas estaremos se uma garota de cerca de 8 anos for responsável por nossa entrada no Inferno?

– Pensei que Kat tivesse ensinado você a não duvidar de garotinhas.

Eu rio.

– Kat não é uma garotinha. Ela foi transformada quando era uma, mas deixou de ser há muito tempo.

– Ainda assim, não quero subestimar essa garota. – Louise diz, decidida – Até porque se ela desapareceu na frente dos olhos de Anika e ainda não foi encontrada depois de 2 semanas, ela com certeza tem algum tipo de poder agindo a seu favor.

Solto seu braço e ela mesma começa a brincar com a pulseirinha. Cruzo as pernas sobre a cama.

– Você provavelmente está certa. – Digo – Mas eu ainda não acredito que Naomi, Anika e Olívia realmente fizeram o que fizeram.

– Por que não? Todo mundo aqui tinha um desejo secreto do tipo.

Olho no fundo dos olhos dela.

– Nós somos um Exército, Lou. Estamos ligadas por muito mais que uma transformação ou lealdade normal. Nós compramos uma briga muito séria, da qual até os vencedores podem sair perdendo. A ação de uma afeta o grupo inteiro. Elas não foram corajosas ou ousadas – elas foram terrivelmente imprudentes e sem consideração.

– Elas são vampiras.

– E qual será a desculpa delas quando recuperarmos nossas almas? Não é sobre ser indiferente. É sobre ser burra. A própria Anika admitiu que não valeu a pena. Ou melhor, só valeu por encontrarem a garotinha, que ainda assim perderam. – Suspiro – Se elas ao menos tivessem deixado os pais da menina vivos.

Mas Louise continua tentando defende-las.

– Elas só souberam quem estavam matando tarde demais.

– E assim acabaram com a nossa provável única chance de vencer a guerra. As chances de que uma garotinha ajude as pessoas que mataram seus pais são... – Um grito no andar inferior me cala.

Desde que Kat convocou todas nós para uma conversa, na manhã depois do dia de Natal, a casa inteira assumiu um silêncio respeitoso. É como se o fato de Kat ter sido sincera sobre suas regras e ter falado sobre o que Naomi, Olívia e Anika fizeram, tivesse feito com que cada uma de nós assumisse a solenidade de um soldado. O clima de guerra tivesse tomou conta de nossos ossos e da fundação da casa. Agora estamos de olho na missão e nada além dela.

Eu e Louise nos entreolhamos e descemos juntas até a direção do grito. Pareceu de certa forma inumano, e só quando chegamos à entrada da casa é que descobrimos que ele vinha de Pierre. Ele grita repetidamente, como se estivesse sendo apunhalado diversas vezes. E apesar de estar na soleira da porta e não ter ninguém a menos de cinco passos de onde ele está, sua blusa azul está empapada com uma mancha de sangue que não para de crescer e se cola contra a pele.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora