Bem-vindas ao século XX - VII

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Continuação da entrada do dia 20 de julho de 1907 no diário de Kat

As meninas voltaram algumas horas depois. A cidade estava cheia de focos de incêndio e um caos completo se instalou enquanto tentavam apagá-los. Dava para ouvir os gritos e chegava a ser relaxante tê-los como trilhas de fundo.

Quando o sol nasceu e a cidade voltou a sua paz habitual, eu comecei a me perguntar se as bruxas sabiam que nós éramos a causa daqueles incêndios e mortes. Agora que havíamos começado um ataque, será que elas finalmente fariam alguma coisa?

Resolvemos esperar outros três meses antes de voltarmos a sair. Com o baquete de sangue que tivemos e a expectativa de que a qualquer momento acontecesse alguma coisa fez com que nós ficássemos mais animadas por estar ali dentro. Mas ainda continuávamos precavidas: era possível que as bruxas fizessem algo para nos impedir de caçar novamente.

Sophie continuava tendo alucinações. Quanto mais fraca ela estava, com mais força elas vinham, deixando-a em frangalhos. Ver a morte de Charlottie por aquelas cinzas a deixou ainda pior. A única coisa que continuava a dar forças para ela era a ideia de uma vingança lenta e dolorosa contra as bruxas.

Quando o terceiro mês se passou e a lua cheia nos avisou que o verão já estava acabando, resolvemos que deveríamos ter um plano mais confiável. Uma só deveria sair e garantir que era seguro para as outras. Em vez de queimar as casas, cada uma deveria matar duas pessoas no máximo e sumir com o corpo logo em seguida.

Eu resolvi ir primeiro porque conseguiria me esconder com mais facilidade. Sophie iria em seguida e teve carta branca para conseguir quanto sangue quisesse. Todas nós concordávamos que ela precisava de força. As gêmeas iriam em seguida. Naomi e logo depois Anika. Ellie iria por último, pois havia sido a primeira da outra vez.

Com os detalhes resolvidos eu comecei a escalar a parede. Dessa vez fiz tudo com mais facilidade. Era um pouco antes da meia-noite e eu ainda podia ver algumas luzes de velas tremeluzindo na janela das casas. Mas foi uma das casas com as luzes apagadas que eu invadi. Era mais fácil arrancar alguém da cama e fazer com que ela desaparecesse do que tirá-la do meio do jantar. Acabei com dois irmãos pequenos que dormiam em camas vizinhas.

Saí com os corpos pendurados nos ombros e os atirei em uma vala próxima. Quando voltei para a igreja, percebi que uma luz de vela brilhava de uma das janelas da torre. A parede de fora tinha pedras soltas o suficiente para facilitar o acesso. Hesitei por um momento, mas decidi tentar ver o que estava acontecendo. Poderia ser uma chance única. Se qualquer coisa acontecesse eu agradeceria por nosso plano ter mantido as outras seis em segurança.

Escalei com cuidado e ao chegar perto da janela prendi meus pés e mãos de uma forma segura. Me estiquei para tentar ver, mas as cortinas me impediram, então desisti da ideia e me concentrei em apenas ouvir. Duas freiras/bruxas conversavam, baixo, mas não o suficiente:

- ...Pelo menos até ela saber sobre as vampiras na torre. – Dizia uma voz fria, quase masculina.

- Não há como ela saber. – A segunda voz parecia mais jovem. – A Madre não tem mais forças para subir até lá. E como nenhuma de nós sobe há mais de um ano, ela nem desconfia que tenhamos as guardado lá.

- E quanto ao incêndio de alguns meses? Ela sabe que aquilo não foi um acidente e desconfia que nós não tenhamos percebido as más intenções dos responsáveis.

- Não era isso que nós queríamos? Que elas se banqueteassem do sangue dos habitantes e assim ficassem cada vez mais presas a Cianne? A Madre não vai viver por muito mais tempo. Quando ela morrer e precisarmos de uma nova líder, as vampiras vão deixar de ser um problema e se tornar a solução. Agora vamos dormir e parar de falar besteiras.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora